Neste preciso momento estou a tentar evitar a que, a confirmar-se, será a minha décima segunda cólica renal em cerca de 15 anos.
Diz quem já deu à luz e experimentou uma cólica renal que esta última bate a primeira aos pontos em matéria de dor, algo que, naturalmente, não posso confirmar.
Mas acredito que sim, ou dá-me a sensação de que a taxa de natalidade baixaria a pique (a menos que a epidural se tornasse obrigatória...).
Este é um tema desagradável para uma posta. Ninguém convive com a dor de forma pacífica, bem como com os sintomas que a prenunciam.
De resto, mais do que partilhar seja com quem for esta minha relativa ansiedade por estarem reunidas todas as condições para o ritual da ida ao CUF Descobertas para levar um shot de anestésico e fazer um tac ou uma ecografia, duas ou três horas de estadia, quero acima de tudo disponibilizar informação para quem, como aconteceu comigo, possa ser um dia apanhado/a de surpresa por um tipo de dor diferente de todas as que já sentiu e apanhe um cagaço sério.
E o pânico em nada ajuda a controlar a situação em causa.
As cólicas renais são provocadas por aquilo a que comummente chamamos de pedra nos rins e os médicos preferem apelidar de cálculos ou areias.
Existem vários tipos de cálculos mas, como é normal, procurei informar-me acerca do meu em particular.
E aqui entro na primeira questão muito terra a terra capaz de melindrar as pessoas (com pila) mais susceptíveis: a coisa acaba por sair do corpo e só tem um caminho possível. Quem tem o azar de lhe tocar um calhau dos maiorzitos e mais rígidos pode acrescentar à dor no rim uma outra nada apetecível. Não preciso de entrar em pormenores...
Para descobrirmos de qual se trata para podermos evitá-lo no futuro há que arranjar forma de apanhar o primeiro que calhe em caminho, para posterior análise.
Sim, também aqui deixo a coisa ao livre arbítrio de quem se vir em tais propósitos.
A necessidade aguça o engenho, enfim...
O meu tipo de cálculo é dos outros, mais areia do que pedra. É provocado pela reacção dos rins a um componente (oxalato) presente de forma significativa em quatro alimentos comuns: espinafres, amendoins, chá preto e... chocolate.
Está bem de ver porque sou já um veterano destas andanças, viciado como sou na melhor substância comestível da galáxia.
A boa notícia é que uma pessoa, depois de identificar o “inimigo”, pode fazer a sua escolha: cortar em absoluto e nunca mais passar pela provação ou, em alternativa, aceitar o preço a pagar e organizar a vida em função desse camartelo que pode tombar a qualquer hora e em qualquer lugar depois de cometido o abuso.
Regressando à partilha da experiência com potenciais interessados/as devo referir os sintomas mais comuns, pelo menos os meus e de algumas pessoas com quem troquei bitaites, começam por um mal-estar ao nível do estômago. Pequenas náuseas que depressa podem degenerar no gregório.
Quase em simultâneo, os intestinos costumam assinalar o evento e é quase certo que a coisa acaba (ou começa) no WC.
Outro indicador óbvio é a coloração da urina, que denuncia a carambola dos cálculos na tubagem de uma pessoa, e isso lembra-me de vos avisar para o facto importante de, apesar de ser imperativo o consumo de água em doses industriais no resto do tempo, nem uma gota é recomendável quando estamos a meio de uma crise destas.
Nada de líquidos ingeridos durante a coisa
Só há duas coisas a fazer quando percebemos que vêm aí dores literalmente capazes de nos fazerem rebolar pelo chão: tomar um analgésico qualquer para adiar o tormento (comigo resulta o Nolotil) e apontar rapidamente para um Hospital ou uma Clínica. Não vale a pena tentarem suportar a coisa, digo-vos por experiência própria, pois cedo ou tarde a dor acaba por vencer e quanto mais tarde a combaterem mais intensa ela se torna. Por outro lado, existe a possibilidade de se confrontarem com areias das muito grandes (a partir dos seis, sete milímetros, estamos perante calhaus apreciáveis) e que só podem sair por via cirúrgica (a de laser parece ser a única opção, dado o tamanho da incisão quando se recorre à faca propriamente dita – não negligenciem um seguro de saúde se quiserem salvaguardar o voto nessa matéria...) pelo que não é mesmo nada boa ideia a pessoa armar-se em herói e aguentar a cólica sem sair de casa.
E pronto, já têm aqui umas dicas que espero não vos sirvam para nada e ao longo do tempo em que escrevi esta posta a coisa até parece estar mais compostinha na minha micro-canalização interior, pelo que sou capaz de me ter safado com a conjugação do Nolotil e de um duche bem quente.
Um último conselho: tenham sempre que possível à mão alguém que vos possa acompanhar nestas coisas.
Conduzir no meio de uma cólica é um desafio nada recomendável e chamar uma ambulância por este motivo vai parecer-vos sempre excessivo, além de que cada minuto à espera do transporte transforma-se em, pelo menos, uma hora na nossa mente alucinada pela dor “pontiaguda” que este pincel acarreta.