Num tempo em que a Comunicação Social, ou uma sua importante fatia, perde credibilidade aos olhos de cada vez mais pessoas e na internet fenómenos como a blogosfera e as redes sociais se impõem aos poucos como fonte de informação alternativa coloca-se de forma cada vez mais premente uma questão que está longe de ser respondida behond any reasonable doubt: a credibilidade depende do suporte, do meio através do qual a informação é veiculada, ou antes do seu teor?
Parece pacífico, não é? De caras, a maioria de nós aponta para o suporte. Se passa nos jornais, na rádio ou na televisão é verdade com (quase) toda a certeza, mesmo que seja mentira. E se a informação nasce num blogue é provavelmente (quase certo) que deve ser mentira ou exagero, ainda que corresponda na íntegra à verdade dos factos, sobretudo se contrariar a versão oficial divulgada pelos media tradicionais.
Contudo, quando pensamos um pouco acerca do assunto as coisas não parecem tão claras como no impulso apriorístico...
Em causa está o rigor informativo. Ou seja, o reconhecimento generalizado da credibilidade de determinado suporte. E se antes da internet a questão era mais ou menos ponto assente e às pessoas bastava lograr a distinção entre bom e mau Jornalismo, a comparação fácil entre o Jornal do Incrível e um semanário como o Expresso, agora surgem em cena novas fontes de informação cada vez mais percepcionadas pelas pessoas como, pelo menos em parte, válidas enquanto opção a uma Comunicação Social sob diversas suspeitas, nomeadamente a do estatuto de refém dos profissionais relativamente aos colossos corporativos que dominam o seu mercado de trabalho, algo de que um amador independente não padece quando se propõe informar.
Bom senso ou senso comum?
E é aqui que se levanta a tal questão complicada: faz sentido tomarmos por garantida uma informação errada só porque é divulgada por um Órgão de Comunicação Social e duvidarmos de forma sistemática de uma verdade que provenha de um blogue ou no Twitter?
Não faz assim tanto, quando colocamos a coisa neste prisma, mesmo tendo em conta o perigo inerente à rédea solta de qualquer cidadão que bloga (e falo do perigo da desinformação como do perigo da informação “desaconselhável” - o Wikileaks, pois... - na sua influência determinante até para a estabilidade de regimes políticos e da própria organização social e da reacção das populações perante os factos que descredibilizam alguns poderes), por contraponto com a responsabilidade (teórica) de um jornalista acreditado ao serviço de uma publicação qualquer.
Mas depois recordamos o calibre de alguns estagiários capazes de picarem notícias na net sem sequer divulgarem a respectiva origem e reparamos que não são poucos os jornalistas a sério que recorrem a meios como a blogosfera e as redes sociais para fugirem a uma liberdade condicional (condicionada) de expressão que a simples necessidade de manutenção de um posto de trabalho pode implicar.
É aqui que se baralham as contas e o futuro se escreve com contornos menos definidos do que daria jeito aos vários poderes, sempre pragmáticos, no que respeita a quem irá vencer esta guerra de audiências em matéria informativa.
O problema é que às debilidades de uma internet que no Ocidente não se aceita controlada para lá do plano da responsabilidade civil, da sujeição aos mesmos princípios que regem as relações entre pessoas e instituições no mundo analógico e que, por exemplo, proíbem e condenam a difamação e a calúnia, tal como não se imagina filtrada seja de que forma for em termos de acreditação dos seus protagonistas (a tal história de uma blogosfera séria e de alguma forma reconhecida em termos institucionais e de uma outra só para “brincar”), correspondem as evidências de uma progressiva perda de isenção e até de rigor por parte de quem até hoje deteve o monopólio da informação em massa.
E é nesse crescente equilíbrio de forças que residem as maiores ameaças e interrogações, embora, paradoxalmente, se vislumbrem aí também as melhores oportunidades para um dos pilares mais sólidos de qualquer democracia como gostamos de a entender, a liberdade de expressão responsável (mas sem espartilhos de conveniência) que nos compete defender.