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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

09
Mai14

A posta que há sempre alguém a quem serve a carapuça

shark

Sempre julguei ser coisa dos livros e dos filmes, isso de uma pessoa conseguir levar-nos à náusea. Pensava que era ficção, que se tratava de uma imagem para simbolizar um misto de desprezo e de repugnância, naquela etapa mesmo a resvalar para o ódio que algumas pessoas tanto fazem por merecer.

Aprendi entretanto que o sistema digestivo consegue ser muito solidário com as emoções, sempre que estas descem ao esgoto e reagem mal à pestilência que pode resultar da acumulação de dados acerca de determinado perfil, da confirmação de que é possível a algumas pessoas a respiração mesmo com esterco a cobri-las até à cobertura, cabelo e assim, do espaço vazio onde deveria existir vida inteligente.

 

Até acabei por vomitar.

25
Fev11

A POSTA QUE EU TAMBÉM NÃO VI, SÓ CHEGUEI AGORA

shark

Logo ao início da tarde, um taxista e um motoqueiro com os caminhos cruzados num ponto infeliz de intersecção. A mota espalhada no chão e o respectivo proprietário também.

A multidão reunida em minutos, batalhões de mirones aquartelados por toda a parte que reagem com enorme prontidão quando chamados a observar, sempre à posteriori (porque quando se pedem testemunhas ninguém viu nada e acabou mesmo de chegar), o rescaldo da ocorrência.

 

O rapaz, que levou uma pancada no lado esquerdo e foi acabar tombado contra uma carrinha (mal) estacionada no lado direito, completamente desorientado pela surpresa e indignado com a falta de respeito pela todo-poderosa regra da prioridade esbracejava e até parecia ter-se safado bem, podia ter sido bem pior – como afirmava alguém de entre os observadores estrategicamente colocados para trocarem umas impressões -, ia constatando as mazelas à medida em que arrefeciam corpo e ânimo mas, filho do bairro, quando a família chegou, mulher e filhos, e o mais velho, dez anitos ou por aí, começa a chorar por ver o pai naqueles propósitos e o motoqueiro vai-se abaixo com o susto e o mimo.

 

Chega a ambulância, mais os amigos e vizinhos que levam a cabo um inquérito preliminar e bom senso o do fogareiro que em momento algum contesta ou levanta a voz.

De braço ao peito e expressão visivelmente alterada pela dor lá segue caminho para o hospital e fica alguém de confiança a certificar-se de que foi chamada a polícia, como recomendam os mirones mais calejados naquelas andanças, para poder prestar declarações.

Chega a polícia, já passa das cinco. O taxista, colete amarelo como manda a lei, conta a sua versão. O condutor da carrinha exibe documentos e prepara-se para contribuir para as receitas eventuais enquanto um dos agentes da autoridade procede às medições para o auto que as seguradoras irão solicitar para o apuramento de responsabilidades.

Os mirones não desmobilizam, revezam-se.

 

A tarde perdida no meio de um cruzamento, dezenas de pessoas envolvidas na situação, a culpa foi deste, a culpa foi daquele, imbecilidades a jorro de quem percebe de tudo e mais alguma coisa porque só assim pode dar o ar.

A mota levada por um familiar.

O táxi, poucos danos visíveis, a seguir caminho para mais uma bandeirada.

 

Dois amigos, anciãos, o tempo todo na troca de palpites, os carros mal estacionados e o gajo que é culpado porque apanhou o rapaz pela traseira e esta malta anda na estrada sem cuidado nenhum, logo um profissional, devia ter vergonha, e entretanto já mais ninguém no local e o assunto esgotado e um sorriso sacaninha no rosto de um dos dois quando decide romper um breve silêncio.

 

- Atão e o teu Sporting?

- Vai à merda, pá…

06
Dez10

A POSTA IMPOSTA

shark

A Polícia chegou sem alarido, deu uma vista de olhos na mercadoria e de imediato a arrecadou no porta-bagagens do carro patrulha. E a vendedora ambulante, sem qualquer tipo de licença para a venda de rua naquele local, lá entrou para o carro, resignada com o transtorno e com a eficácia dos agentes de autoridade que nem deram tempo para se formar o ajuntamento de padroeiras da coitadinha que está a tentar ganhar a vida e antes isso do que roubar.

Mas eu, malvado sem coração, considero que a economia paralela constitui ela própria um roubo descarado a cada um de nós, contribuintes, e um insulto aos lojistas do ramo que pagam balúrdios de renda nessa mesma rua e ainda têm que suportar os custos fixos que um estabelecimento acarreta. Para além, claro está, de contribuírem para os (nossos) cofres do Estado com a percentagem estipulada do IRC.

E por isso aplaudi em silêncio a actuação da PSP e só lamento que não exista vontade política e meios ao alcance das autoridades para intervirem com ainda maior eficácia em todos os casos nos quais seja óbvio um esquema marginal de obtenção de rendimentos daqueles que adulteram as contas de todo um país e talvez expliquem os contornos bizarros desta crise que parece afectar a todos mas depois, onde o dinheiro se gasta, parece não afectar a ninguém.

 

Claro que um dos argumentos da praxe nestas coisas, logo após o da piedade popularucha que vai fomentando estes fenómenos de enriquecimento pela porta do cavalo (estamos a falar de comércio e de lucro financeiro puro e simples), é o de que os maus exemplos vêm de cima e os pequeninos não têm que ser vítimas dessa condição minorca em detrimento dos colossos que conseguem fazer escapar rendimentos tributáveis por tudo quanto é buraco no chão ou na Lei.

E é esse que mais me incomoda, pois raramente me permito unir forças com o lado mais forte de qualquer questão. Na verdade acabo por me sentir mais roubado pelas grandes empresas que não cumprem as suas obrigações fiscais do que pelo vendedor de roupa à socapa.

 

Contudo, e bem vistas coisas, também nutro menor antipatia por um simples carteirista do que por um gangue capaz de assaltar a caixa de esmolas da igreja local mas isso não invalida que na hora da verdade, mais ou menos gamanço, é fácil concluir que só muda o tamanho.

O crime, na essência, é exactamente o mesmo.

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