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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

02
Jun22

A posta relativamente perspectivada

shark

É tudo uma questão de perspectiva, diz-se por aí. Nem tudo, embora a nossa percepção de coisas tão importantes como a felicidade dependa bastante da forma como olhamos a vida. Em parte, isso explica o mistério subjacente a existirem pobres felizes e ricos amargurados. Contudo, a nossa complexidade, aliada ao cariz muito aleatório do que o destino nos reserva, acaba por baralhar as contas e dificultar certezas absolutas. Que, na maioria, se confirmam disparatadas na condição.

A perspectiva que se tem depende imenso das circunstâncias que nos rodeiam. É difícil um pobre feliz e um rico amargurado perspectivarem de igual forma a partir de tão diferentes pontos de partida, para além de que o dinheiro só traz a felicidade incluída na versão topo de gama, muito dispendiosa e nem por isso garantidamente eficaz, como se demonstra pelos exemplos em apreço.

Por outro lado, a pobreza ensina a viver com pouco, mas a riqueza não dá formação em saber lidar com a abastança.

É tudo muito relativo, também por aí se diz.

 

07
Jun21

A posta nos afectos

shark

De entre os vários medos inspirados pela pandemia, um dos que mais me suscitam aversão é o da perda de relevância de uma simples carícia. Uma carícia de forma genérica, espontânea e instintiva, daquelas que se dão, com o devido tom, a um filho, a uma amiga, a um parceiro de vida, a uma pessoa vulnerável cujo caminho com o nosso se cruzou. Apenas o gesto, com o que transmite e com o que representa.

A carícia é dos mais elementares gestos de amizade ou de amor traduzidos num toque. Tem um efeito poderoso nas pessoas. É imprescindível no contacto humano, a qualquer nível. E a pandemia tornou-a numa espécie de ameaça. É isso que me assusta, demasiada gente, demasiado tempo, privada de carícias e a entendê-las sob o estigma de um contágio possível. A aprender a dispensá-las.

Uma carícia, como reacção imediata à necessidade de alguém ou apenas como manifestação do nosso carinho, do nosso afecto, do nosso amor, do nosso desejo por outro ser humano. Pode ser um afago como um abraço. Pode ser um beijo ou um sorriso. Mas é vital, para mantermos a proximidade, a necessidade uns dos outros que nos trouxe até aqui. Nada de que possamos abdicar, nada que possamos considerar descartável em qualquer contexto vindouro.

É um poder muito humano que até os animais apreciam e do qual seríamos tolos ao prescindir. Faz toda a diferença numa existência dita normal e ainda mais numa das outras. É balsâmico, revigorante, um alicerce de confiança entre as partes envolvidas. 

À flor da pele, essa sede de contacto de que quase todos padecemos, ou antes à distância prudente de um sorriso ou de um olhar. Mas com tudo aquilo que pode e deve implicar, respeito pelo que de melhor conseguimos encontrar em nós próprios para partilhar com os outros. 

E essa é uma forma de contágio da qual nada temos a temer.

21
Nov12

Revolução no presépio

shark

Claro que me preocupa sobremaneira a amputação de uma imagem que a Igreja Católica me impingiu ao longo de uma vida inteira repleta de diversidade animal no presépio, eliminando a vaca e o burro do cenário. Ficam apenas os camelos (os dos Reis Magos) e os memés (enquanto não for desmentido o pastoreio) na fotografia do nascimento de Jesus.

Contudo, fico ainda mais em alerta com a necessidade de reafirmação da virgindade de Maria, reforçadas as minhas cautelas com as certezas que o Papa afirmou quase com a convicção de quem esteve presente em ambas as ocasiões.

 

Ainda não cuidei de averiguar o que teria instado Sua Santidade a regressar à ribalta com mais uma declaração polémica, mas presumo que algum de entre os seus mais próximos o terá avisado da ameaça das repercussões de algo proferido pela voz de um Santo Padre.

Uma das consequências imediatas de afirmações daquele teor é precisamente das que ao longo dos séculos mais intimidaram a Igreja: as pessoas põem-se a pensar demais e às tantas aleijam-se onde mais dói, na fé que sai sempre um nadinha beliscada quando se escrutinam os dogmas.

 

Se virmos para além do potencial humorístico da exclusão das vacas e dos burros da iconografia da Quadra (daqui a uns séculos ainda vamos ver a Coca-Cola revelar verdades perturbadoras acerca do Pai Natal), quando olhamos podemos deparar-nos com uma questão potencialmente ainda mais desconfortável para a instituição que o Papa chefia que é a da incoerência, um pecado mortal para todas as histórias difíceis de explicar mas que se querem verosímeis.

 

Incoerência da mais óbvia é a de várias igrejas por todo o mundo andarem há demasiado tempo a venderem um embuste nos presépios orgulhosamente instalados à sua porta, com o Cristo nas palhinhas da manjedoura deitado mais a família próxima, tendo por detrás as orelhas de um burro e os cornos de uma vaca.

A associação de ideias moderna de todos estes símbolos conduz-nos à complexa situação do casal de progenitores (embora José fosse assumidamente, no entender da Igreja, um mero pai adoptivo do rebento de Deus). A reafirmação da virgindade da mãe Maria por parte do Papa leva-nos a interrogar de imediato: quem de facto confirmou a dita cuja, ao ponto de existir tanta certeza?

 

Teoricamente, apenas José estaria em condições de o garantir e até podemos partir do princípio de que ele e Maria preferiram ficar em cima do galho de uma árvore quando lhes ofereceram ajuda para um problema qualquer, o que explicaria a paciência do carpinteiro em aceitar estender muito para lá da tradicional espera pelo casamento a eventual consumação do dito.

Não querendo levantar suspeitas acerca da idoneidade de, esse sim, garantidamente, um santo homem, torna-se difícil a um herege engolir algo de tão difícil de explicar em termos racionais e ainda mais suspeito tudo se torna quando o Chefe de Estado do Vaticano vem reafirmar o milagre com o ar de quem possui algum tipo de provas.

Quase de quem estava lá para ver.

 

Sinceramente, embora ache piada a tudo isto, às vezes it gives me the creeps.

14
Out12

A POSTA DE QUE TODOS TEMOS UM POUCO

shark

A saúde mental está a degradar-se no nosso país como em muitos outros. De resto, basta um pouco de atenção às notícias para o perceber. As alucinações e as bizarrias multiplicam-se a um ritmo que relega para segundo plano os desvios mais tradicionais, as notícias chocantes do passado passaram ao estatuto de normais e nesta normalidade aparente começamos a distinguir os primeiros indicadores de que a loucura não passa de uma questão de perspectiva e mesmo um doido intui que a da maioria acaba sempre por prevalecer como a mais acertada.

 

O conceito de loucura tem sofrido mutações ao longo do tempo ao ponto de hoje poderem circular livremente pelas ruas algumas pessoas que séculos atrás poderiam acabar amarradas a um pau, acusadas de bruxaria.

Isso prova que a loucura não passa de um desvio a um dado padrão, o da racionalidade como a maioria a defina num dado tempo ou lugar. Sim, até a Geografia pode influenciar o diagnóstico de uma loucura que pode chamar-se excentricidade noutro sítio qualquer. É uma questão cultural, mais do que psiquiátrica, pois nem mesmo a Medicina consegue meter as mãos no fogo pelas suas certezas neste domínio.

Que impressão teriam os nossos antepassados de há dois séculos atrás de um/a descendente que não sendo artista de circo se mostrasse capaz de se mandar de uma ponte amarrado a um elástico só pela pica que isso dá? Acabaria certamente numa camisa de forças, tal como qualquer defensor da política económica do actual Governo português.

 

Apesar de todo o folclore religioso que o transforma numa sumidade cheia de sabedoria e de bom senso, o próprio profeta da cristandade deve ter soado aos romanos e aos filisteus como nos soa agora o Presidente da República: completamente passado dos carretos. Claro que jamais iriam crucificar Cavaco Silva pelos seus discursos, mas isso nem que fosse apenas para não correrem o risco de que pudesse igualmente ressuscitar…

Isto a propósito de como a loucura depende acima de tudo de uma avaliação externa, como a da Troika a Portugal, por parte dos considerados sãos pela maioria (mesmo quando os sinais em sentido contrário se multiplicam). É aqui que entra a tal questão estatística: e quando os que antes se consideravam malucos forem a maioria? Quem definirá nessa altura os critérios que separam o sorriso perante uma excentricidade fora do comum e o internamento compulsivo?

 

Tal como o nosso país está a ser gerido por pessoas que talvez não se safassem do crivo de há poucas décadas atrás e provavelmente acabassem, se não no Júlio de Matos, pelo menos muito afastadas de qualquer centro decisor, quem nos garante que os tipos do FMI que andam a errar nas contas e a violar camareiras nos hotéis são bons do miolo quando insistem em impor medidas que dão cabo da cena toda ao pessoal?

É uma questão de perspectiva, lá está…

Por isso se torna importante olhar em redor para tentarmos perceber as tendências em voga em matéria de definição consensual da loucura.

 

Pelo andar da carruagem e se formos sensatos e prudentes, chegará o momento em que teremos que fazer um esforço ainda mais rigoroso para, pelo menos aos olhos deles, parecermos igualmente sãos.

17
Mar12

A POSTA QUE É DEIXÁ-LOS IR

shark

Multiplicam-se no meu leque de conhecimentos os casos de homens portugueses que se atracam a brasileiras, deixando para trás família, emprego e o que mais houver como se o mundo fosse acabar amanhã.

Claro que a primeira reacção das pessoas à proliferação destas relações transatlânticas é a de rotularem as brasileiras de predadoras, acabando a coisa num crescendo que quase as remete à condição de feiticeiras daquelas que as mulheres traídas da geração anterior à minha afirmavam meterem qualquer coisa na sopa dos seus homens agora roubados pela bruxaria tropical.

 

Sempre achei as portuguesas as melhores mulheres do Mundo e arredores e disso tenho dado conta aqui. Essa minha crença não me cegou, contudo, aos detalhes de somenos importância que vão aos poucos estigmatizando (dito assim até parece que acredito na cena) as brasileiras com a associação de ideias mais óbvia: bundinha e fio dental.

Sim, tal como as muitas alegadas vítimas dessas desfazedoras de lares com sotaque prestei a esses pormenores a atenção suficiente para que a simples alusão a esse grupo específico de fêmeas me cole um sorriso no rosto de forma espontânea.

Contudo, isso nunca me pareceu tão ameaçador quanto isso porque qualquer observador mais atento conclui que as portuguesas só não se batem de igual para igual na exposição solar dos glúteos.

É portanto apenas uma questão de dimensão dos tecidos.

 

Assim sendo, esta diáspora de cônjuges fascinados pela paixão ao ritmo do samba permanece para mim envolta em mistério e vejo-me forçado a pensar a coisa mais além do que um fio dental possa representar. É aqui que entram em cena os mecanismos mais elementares da masculinidade lusitana, de entre os quais se destaca o descomplicómetro instalado junto aos disjuntores da complexa maquinaria de controlo do desejo que partilhamos com as nossas moças. Esse extraordinário equipamento de série no macho comum português está na origem de muitos indicadores que são erradamente confundidos com insensibilidade mas na verdade não passam de naturais divergências entre nós, que temos o aparelho, e elas que desejam tanto ou mais mas estão antes equipadas com uma espécie de retardador de abertura como os dos cofres nos bancos.

 

Maço-vos com esta breve abordagem à engenharia dos sistemas porque só aí consigo encontrar a fonte do tal fascínio que enlouquece tantos bons maridos e pais com desvarios tropicais que se consta serem doença sem cura conhecida.

As brasileiras, sem dúvida montes de femininas, parecem possuir um equipamento idêntico ao nosso e o que isso implica de diferente no estabelecimento de sólidas e tórridas relações diplomáticas está à vista.

As portuguesas, de caras as melhores do Mundo e arredores, são tesouros de valor incalculável e sabem-no e mantêm essa fortuna fora do alcance dos piratas em que nos tornamos quando o tal descomplicómetro dispara.

Já as brasucas, sem dúvida montes de uma data de coisas, são muito mais despachadas e generosas na entrega do ouro ao bandido que, quase por imperativo moral, privilegia o lucro fácil e regressa sempre ao local do crime o que, toda a gente sabe, é receita garantida para se deixar apanhar.

 

Perante este problema como o pintam é possível teorizar o que se queira e inventar pretextos ou desculpas mais ou menos elaboradas na maquilhagem da sua pretensa validade factual, nem que seja para armar ao pingarelho do alto da cátedra que deitou o olhar de esguelha às imagens do Carnaval do Rio mas nunca ousaria sequer sambar.

Porém, isso para mim é complicado demais quando o assunto envolve esses eternos alvos da cobiça (e da inveja, e do despeito, e da censura) e o meu equipamento de série prova funcionar na perfeição quando encaminha o raciocínio para uma simples questão aritmética: por cada patrício que se deixa embeiçar por uma irmã de além-mar há uma portuguesa desamparada, até mesmo revoltada, e isso pode ser o mote para anular perante as brasileiras a tal aparente desvantagem.

Nessas circunstâncias, juro pela minha perna de pau, fica muito mais permeável à abordagem.

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