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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

20
Set16

Um velho incontinente a morrer sufocado por detrás das janelas fechadas

shark

No momento em que escrevo estas linhas acabo de saber que começaram a construir mais um muro europeu, desta vez em Calais. Na fronteira entre duas antigas potências coloniais das várias que exploraram pessoas e recursos por todo o planeta, ao longo de séculos.

Ambas as nações, por coincidência ou não, estão directa ou indirectamente envolvidas nos acontecimentos que estiveram na origem do problema que decidiram emparedar, seguindo o exemplo de alguns países mais próximos dos locais de desembarque e de regimes extremistas tão desprezíveis como os que provocaram o último grande conflito europeu e mundial.

 

Toda a argumentação a que tive acesso até agora não justifica senão a realidade com que nos confrontamos: parte do Velho Continente está a mergulhar de novo nas mesmas políticas odiosas que quase o destruíram por completo num passado tão recente que ainda há gente viva para o contar na primeira pessoa.

O pretexto dos refugiados, perfeito para alimentar a trumpização europeia, surgiu em cena não como uma oportunidade para os europeus acertarem contas com o lado menos bonito da sua história, mas como um bode expiatório excelente para prolongar a negação da agonia dos sistemas democráticos ocidentais à mercê da crise financeira e social que nos atormenta.

Em vez de a Europa abraçar os valores de que tanto nos orgulhamos, acolhendo gente em aflição, estamos, a reboque de uma UE desorientada e em desmembramento, envolvidos na escrita de uma das suas páginas mais tristes.

A construção de muros, imbecil à partida, não é uma solução mas sim um tiro no pé daquilo que apregoamos representar. Nós, os bons da fita, os ocidentais que lutam para salvar o mundo do fundamentalismo, estamos a construir muros para impedir o acesso das suas maiores vítimas à respectiva salvação.

Muros. Com tudo o que representam para a Europa em particular, são, sempre serão, símbolos de um mal que aprendemos a identificar nessa condição. São ícones de tudo quanto os nossos avós juraram impossível de repetir nestas terras arrogantes e sobranceiras, depois de vencerem os bons, também à custa do sacrifício e da coragem dos antepassados dos maus como os tratamos agora e que lutaram ao nosso lado contra a ameaça nazi. São uma vergonha pelo que representam de negação de tudo aquilo que nos fez sonhar com uma federação europeia, pois muitos cidadãos europeus não se identificam com este acumular de pessoas nas fronteiras em condições miseráveis e ainda menos com este bater-lhes com a porta na cara.

Notem que não precisei até este ponto do texto de referir as questões religiosas que fundamentalistas dos dois credos se esforçam por enfatizar. Nem o islamismo professado pela esmagadora maioria dos refugiados, nem a cristandade de fachada dos que são cúmplices por omissão deste virar a cara a quem precisa.

E não precisei porque se trata de uma falácia. Fossem cristãos os refugiados e ficariam do lado de lá da vedação na mesma, por serem pobres, por serem muitos, por não fazerem parte deste eldorado que vamos destruir começando pelos alicerces, renegando a nossa cultura e a nossa forma de entendermos o mundo e entregando o poder às bestas incapazes de vislumbrarem um colapso associado a esta forma nojenta de proceder que nos dividirá, que arrasará a hipótese de um colectivo com base nas afinidades que os extremistas e os cobardes renegam por detrás dos seus paredões farpados.

A União Europeia é, neste momento da história, uma farsa. As divisões entre membros são cada vez mais óbvias e o Brexit é apenas um dos seus prenúncios, com tudo o que isso implica.

E os muros que agora permitimos erigidos no seu interior servirão, mais cedo ou mais tarde, para garantirem essa mesma separação.

21
Ago16

A posta medalhada

shark

Surpreende-me o tom exaltado que, na maioria dos casos, suscita a minha mania de considerar um fracasso a não obtenção de uma medalha por parte de atletas que, alguns deles legitimados pelos resultados já obtidos, se afirmaram candidatos às mesmas.

Dessa exaltação destaco os pressupostos de que quem está de fora não tem o direito de criticar, pressuposto bizarro,  o de que quem critica não entende o mérito dos atletas e o de que, por critérios que não as medalhas, temos a segunda melhor participação de sempre nas Olimpíadas.

Desmontando a coisa: qualquer atleta, seja de um país como a China ou de um como a Etiópia, tem igual mérito por ter conseguido um objectivo só ao alcance de uma escassa percentagem de seres humanos. Depois podemos ou não enfatizar as condições que lhes foram dadas para lograrem um mesmo propósito. Mas isso já são detalhes, neste contexto. Eu sei que seria incapaz de obter tal desígnio, tal como presumo que alguns dos que obtive, embora inexpressivos por comparação, não estariam ao alcance de alguns atletas. Soa irrelevante, esta comparação, e é. Mas é o que está na base da argumentação para me descredibilizarem até no direito à crítica.

Por outro lado, ao longo do tempo que antecede as Olimpíadas, toda a gente sem excepção concentra a atenção num objectivo que é tido como o mais importante no valorizar da participação colectiva nesta competição: a obtenção de medalhas. Em Olimpíadas do passado ninguém se preocupou com as participações honrosas dos não ganhadores mas apenas com a figura de quem regressou medalhado/a. E isso nada tem de errado, precisamente por existirem três realidades que distingo na Olimpíadas: a de lograr a qualificação – nesta todos são ganhadores e já não precisam provar nada seja a quem for -, a de dignificar o país e transcender as melhores marcas pessoais e a de vencer competições ou, neste caso, pelo menos atingir o pódio.

Porque me parece importante concentrar nas medalhas o balanço da nossa presença nestes Jogos Olímpicos? Porque sempre foi, de facto, o instrumento de “medição” do sucesso ou do insucesso das delegações olímpicas na percepção de quem interessa (o grande público e os media). Nesta perspectiva, todos quantos por um lado veneram o cumprimento apenas parcial dos objectivos propostos pelos próprios atletas e por outro criticam a falta de condições que lhes são dadas para conseguirem ir mais além estão a fazer o jogo do Estado se este quiser manter tudo como está. Se temos, aos olhos da multidão e dos critérios que não as medalhas, a segunda melhor participação de sempre, queixam-se de quê?

E este último aspecto deixa-nos conversados quanto ao argumento de que quem não fez nada ao longo de quatro anos para lutar por melhores condições não pode exigir agora medalhas.

Nunca as exigi, mas alguém as prometeu.

 E daqui a quatro anos conversamos outra vez.

05
Ago16

Pela porta pequena

shark

Li algures que a moral é o conjunto de regras aplicadas no quotidiano e usadas continuamente por cada cidadão. Essas regras orientam cada indivíduo, norteando as suas ações e os seus julgamentos sobre o que é moral ou imoral, certo ou errado, bom ou mau. E a ética será o resultado de uma reflexão acerca da moral.

Sempre entendi o exercício do poder como uma actividade na qual a ética deve ser prioritária, no sentido de certificar acima de qualquer suspeita a prática de uma moral intocável na sua definição de prioridades. Ou seja, uma função ao alcance de poucos/as.

Quando está em causa a gestão dos destinos de um país ou a representação dos seus cidadãos na defesa de uma causa comum que é, aos meus olhos, sagrada, qualquer violação da moral vigente, qualquer desvio ao eticamente aceitável é um acto de traição. Ao país e aos princípios que devem prevalecer nas decisões de quem o governa.

Vejo como uma desonra a leviandade dos que ocupam o poder quando, escudados na impunidade garantida pelos próprios com legislação feita à medida, se deixam tentar pelas ligações perigosas, pelas influências manhosas de outros poderes perante os quais pela cumplicidade se tornam reféns. Não há excepções, não há perdões, há o imperativo moral de preservar uma Pátria da falta de carácter, de Sentido de Estado ou apenas da imaturidade dos seus decisores.

Existe apenas um caminho a seguir quando um responsável político se vê exposto na imoralidade e ainda que protegido das consequências legais pelo atrás referido: a demissão do cargo que ocupa a fim de evitar o contágio aos restantes e para servir de exemplo aos seus sucessores.

Não há paninhos quentes capazes de devolverem a credibilidade perdida por via de um acto ou omissão potencialmente lesivos dos interesses do Estado e, por inerência, de todos os cidadãos. E à perda da credibilidade, nem que apenas pela ingenuidade admitida e comprovada, está associada a perda do respeito indispensável a qualquer liderança.

Enquanto os responsáveis políticos não interiorizarem a moral a que estão obrigados no exercer de cargos com tamanha responsabilidade e que deveria orgulha-los em vez de nos envergonhar, não há códigos ou mesmo leis que as imponham nos bastidores onde acontece, ás escondidas, aquilo que nem chega ao conhecimento público até ser tarde demais para evitar o prejuízo.

E o maior deles, quando não se aplica pulso de ferro às escassas situações que caem no domínio público, é a própria democracia quem o suporta.

08
Jun13

A penas sem perdão

shark

Tenho pena de pessoas inteligentes que em algum ponto do caminho optaram ou foram forçadas a render a consciência perante uma circunstância qualquer.

Lamento acima de tudo a condição dessas pessoas se essa inteligência é aplicada à memória e, pior ainda, sob a bitola da lucidez. Percebo-lhes o desconforto, a permanente inquietação, na forma como partilham sentimentos de admiração (por outras pessoas inteligentes que jamais se permitiram reféns) com um impulso instintivo para a inveja ou mesmo para o desdém.

 

A inteligência permite analisar os actos ou decisões e respectivas consequências sobre os outros e sobre nós próprios. É inevitável, porquanto cruel, que uma pessoa inteligente se veja forçada a contornar a consciência da sua cedência mais ou menos indigna a propósitos e objectivos cuja obtenção depende da violação de princípios universais. A honra, a dignidade, coisas assim. Perdidas para sempre no contexto de uma escolha com a qual terão sempre que viver.

Terão acima de tudo que maquilhar essas vergonhas, essa inevitabilidade de pisar o risco como precisam de a acreditar, com pretextos inventados ou apenas enfatizados que a inteligência se esforça por processar mas sem conseguir que se desmintam os factos na origem. Terão que mentir, ou pelo menos omitir, aos outros como a si mesmos, a parte da realidade que a memória sempre guarda e a lucidez se encarrega de despir diante do que reste de integridade na pessoa inteligente que abdicou de uma parte importante de si.

 

O mundo caminha num sentido mais favorável para estas pessoas de que vos falo, vivemos um primado da futilidade, da estupidificação, do renegar de valores que nos foram incutidos pelas gerações anteriores mas que agora atrapalham o caminho dos que nos vendem como bem sucedidos, como ganhadores.

Contudo, milionários, famosos ou qualquer outro tipo de gente inteligente capaz de se destacar da multidão precisam da felicidade e essa depende sobremaneira da paz interior que, temos pena, não existe quando a inteligência se evade da sua redoma de sorrisos artificiais e a pessoa recorda outros tempos em que se sonhava capaz de chegar lá com base no mérito, no talento, na capacidade que todos precisamos reconhecer nos feitos alcançados e essa não se compadece das subidas a pulso com a ajuda batoteira de um esquema ou de uma jogada oportunista, da corrupção da verdade dos factos com a anestesia de uma bebedeira de poder. Coisas assim.

 

A vaidade parece nunca bastar a essas pessoas inteligentes que simulam a felicidade com uma máscara arrogante de cidadão superior. A vitória da esperteza, da habilidade para a manipulação, da vontade indómita de chegar mais longe sem olhar onde (quem) pisam os pés, nada disso parece lograr, excepto nos mais pobres de espírito, uma substituição lucrativa dos princípios por meios indecentes para se atingir um qualquer fim.

A inteligência, nem que seja a dos outros mais a sua coragem para a denúncia de embustes, de farsas, de desonestidade intelectual, possuem-na também os que se vêem obrigados a defender o impossível, a encobrir num invólucro de fantasia a história de vida cujo julgamento todos fazemos no balanço do que uma existência já se fez. E é nesse esforço que se perdem aquilo a que chamamos de almas, a essência do que somos e a ilusão do que gostaríamos de ser enquanto pessoas.

 

A cedência a tentações ligadas à influência sobre as coisas e sobre os outros, aos jogos de poder egoísta, faz parte do a qualquer preço de que todos ouvimos falar e sabemos de que se trata. Faz parte de uma troca em que muito se ganha mas sempre contrapõe algo a perder e a balança não é imutável, o tal balanço depende muito de como a consciência desperta em função de diversos factores e dos dramas eventualmente associados às acções, as más, que se praticam.

E quando esse momento não ocorre, denunciando uma natureza intrínseca desprovida de escrúpulos, de mecanismos de defesa contra a cegueira na ambição temos pena, mas é imperioso manter essas pessoas, mesmo que inteligentes, tão longe quanto possível dos centros decisores mais determinantes.

 

Acima de tudo de qualquer proximidade com a governação de um país.

29
Mai13

E o brio que está?

shark

Leio quase todos os dias desabafos por parte de quem teme, com alguma razão, o fim dos jornais na sua versão em papel. Os mais pessimistas estendem esse receio a qualquer versão, dada a aparente incapacidade de muitas publicações lograrem a sua viabilização financeira em suporte digital.

Se muitos apontam o dedo a erros de gestão, à falta de pedalada dos decisores para acompanharem a passada do progresso, outros optam por responsabilizarem os próprios jornalistas pela sua inépcia em marcarem a diferença, no rigor e na deontologia, relativamente à concorrência “desleal” da informação em bruto que a internet disponibiliza e o público parece cada vez mais privilegiar em detrimento dos media tradicionais.

 

A questão tem sido debatida um pouco por todo o Mundo e não é, de todo, irrelevante para o cidadão comum. Qualquer pessoa com consciência do papel da Comunicação Social na própria construção de um sistema democrático digno desse nome percebe o que está em causa nesta progressiva degradação das condições em que o Jornalismo se faz.

A queda parece, em muitos aspectos, irreversível por estarmos perante uma típica pescadinha-de-rabo-na-boca: com os órgãos de CS na mão de magnatas e de empórios, o critério economicista dita as regras e à diminuição das tiragens sucedem-se os despedimentos e a degradação ao nível do próprio recrutamento por via da redução das contrapartidas salariais e outras. Isso sente-se na qualidade do que é publicado e ao empobrecimento dos conteúdos corresponde a perda de ainda mais leitores para a oferta alternativa que a Blogosfera, por exemplo, constitui.

 

Uma das reacções instintivas de parte dos jornalistas directa ou indirectamente afectados pelo advento do suporte digital e do acesso à informação sem regras que a internet proporciona foi a tentativa de descrédito indiscriminado dessa alternativa. Nessa perspectiva, seria o meio a separar as águas e não o talento e/ou a competência dos seus protagonistas.

Contudo, a manifesta falta de brio e de critério em muito do que hoje é publicado em jornais e revistas (ou mesmo na tv, embora esse seja outro campeonato) acaba por tornar óbvia, por comparação, a maior qualidade de alguns conteúdos disponibilizados de forma gratuita em páginas do facebook ou nos blogues.

Esta é a armadilha da arrogância que afasta alguns profissionais da realidade nua e crua: só fazendo melhor conseguem marcar a diferença.

 

Porém, a questão da credibilidade que um órgão de CS deve assegurar também entra nas cogitações e essa não é da exclusiva responsabilidade dos jornalistas. Quem pretende lucrar com as empresas do ramo tem a obrigação de garantir uma gestão de conteúdos criteriosa e livre de condicionalismos e de pressões várias, de tudo quanto possa afastar os profissionais da comunicação das funções que lhes competem, sendo esse o único caminho para salvaguardar o interesse de leitores/assinantes e, por inerência, dos anunciantes a quem os números influenciam decisões.

 

Sem a devida atenção a estes aspectos o fim estará de facto garantido e poucos poderão descartar para o acaso aquilo que em boa medida depende apenas da rejeição de um factor chamado negligência.

 

23
Out12

A POSTA QUE O FUTURO ESTÁ A RESOLVER O PROBLEMA

shark

Nunca achei muita piada à mania de impor quotas de participação de determinados grupos seja no que for. Por norma são as mulheres as supostas beneficiadas com essas medidas alegadamente proteccionistas, mas eu não consigo vislumbrar a vantagem competitiva obtida por via desta imposição de um número mínimo de pipis, quaisquer pipis, nos centros decisores onde as pilas predominam.

 

A boa intenção é óbvia e não a contesto nesse plano, é sempre bonito a sociedade preocupar-se com os seus desequilíbrios.

Todavia, questiono os moldes. Impor quotas soa mal logo na parte do impor, como se o grupo beneficiado só pudesse safar-se à força e não pelo reconhecimento do seu mérito.

Se a ideia é dar cabo do humor aos machistas, acho que peca pela base: eles vão sempre olhar para as quotas como um favor às coitadinhas das gajas. E elas vão sempre ter que provar a sua capacidade sob maior escrutínio do que aquele a que é submetido um colega do mesmo ofício ou função.

É aqui que a coisa me parece desvirtuar a tal boa intenção, pois a descriminação pela positiva acarreta riscos como qualquer outra forma de descriminação. Nem que seja pela janela de oportunidade para a inferiorização de quem precise de tais benesses.

 

A igualdade entre géneros, como entre raças ou credos, começa em casa com a educação que é dada e com os exemplos que se mostram para os mais novos seguirem.

E no caso em apreço, tendo em conta os factos que os números traduzem num tempo em que a divisão de tarefas se consolida e a igualdade de circunstâncias se acentua, qualquer homem que se oponha hoje às quotas mínimas para mulheres vai provavelmente evitar que no futuro estas lhe sejam aplicadas.

23
Set12

A POSTA QUE BLASFÉMIA É INVOCAR O NOME DE QUALQUER DELES EM VÃO

shark

No meu quotidiano não há espaço para Maomé e por isso tenho que confessar o meu profundo estar-me nas tintas para esse, como para outros profetas. Compreendo a importância de um profeta, vivo num país forrado a crucifixos, mas para fazer humor nem me passaria pela cabeça recorrer a tais figuras, tanto pela falta de piada que por norma esse tipo de estatuto implica nas pessoas e nos profetas como pelo respeito que me merecem as crenças dos outros. E também porque o meu conceito de bom senso não abarca os picanços a extremistas, fanáticos e afins.

 

Contudo, e porque o Marco do Bitaites me informou acerca de mais um sinal de insanidade por parte de um governante de um país tão aliado dos EUA como o CDS do PSD na actual coligação, quando as coisas chegam ao ponto de envolver ataques a embaixadas, assassinatos encomendados e outras formas de intimidação a pessoa sente-se algo forçada a tomar partidos. Nem que seja para não dar abébias à estratégia do medo tão necessária à imagem de força por parte dos gabirus que aproveitam qualquer pretexto para agitarem a turba.

Se o que está em causa é um choque ou mesmo uma guerra de civilizações, mesmo estando a minha a rebentar pelas costuras em variadíssimos aspectos basta-me uma vista de olhos rápida sobre a alternativa e o meu lado da barricada fica definido com enorme clareza.

 

Sou cristão, mas a minha proximidade ao lado mais praticante da coisa é nula (se exceptuarmos, uns casamentos, uns baptizados e até um ou outro funeral) e a minha ligação ao divino, o nosso ou o deles, jamais bastaria para alimentar o meu empenho em qualquer tipo de cruzada. Até porque não consigo mesmo distinguir as pessoas em função das suas crenças religiosas, excepto quando me deparo com as diferenças mais óbvias das suas opções de vida relativamente às minhas e num contexto de me tentarem impor regras que não aceito nem reconheço nessa condição.

É uma mania comum a muçulmanos e a cristãos, embora estes últimos já não tenham reunidas as condições para a evangelização à bruta nas masmorras e um lote significativo dos primeiros tentem precisamente reuni-las.

 

Mas estas caldeiradas só têm de religioso o estandarte preferido dos fundamentalistas islâmicos, o nosso Deus não é chamado para o assunto mas sim o líder deste mundo a Este do paraíso (que é para onde vão os mártires deles) mais os judeus em geral e os israelitas em particular.

Nós, ocidentais, não somos todos sunitas ou xiitas. Mas como até bebemos álcool e comemos porco à fartazana e deixamos as miúdas descascarem-se à grande, para além de permitirmos (mesmo sem achar piada) que os criativos debochem com os temas tabu para eles, os radicais aproveitam para juntar tudo no mesmo ramalhete para poderem fazer-se explodir em Madrid, em Londres ou na Pampilhosa e isso constituir uma grande vitória contra os infiéis americanos na mesma.

 

Afinal não são os deuses que devem estar loucos...

 

Aquilo é gente chanfrada, nisso acho que até os nascidos em terras muçulmanas mas tão agnósticos como eu concordam. Se os valores ocidentais, ou os excessos que eles permitem, começam a servir de pretexto para crimes (outra designação é eufemismo) praticados ou encorajados em nome de Alá no intuito de nos levarem a, por temor, aceitarmos que definam por nós os limites da liberdade de expressão ou outras temos o caldo entornado. Sejam Alá, Buda ou mesmo o nosso, não há pão para malucos mesmo que isso implique termos que passar revista diária às carruagens do metro ou aceitarmos que os nossos países permaneçam aliados militares de quem possa travar de alguma forma tal ameaça, sem olhar aos danos colaterais (como aliás é apanágio dos terroristas e seus mandantes).

 

É esse o erro de palmatória dos instigadores destas revoltas populares anti caricaturas ou anti filmes ou anti o raio que os parta a todos: os actos concretizados e as ameaças veladas têm um efeito na opinião pública ocidental que é contrário aos interesses dos próprios, pois reagimos mal à coação e abrimos mais a pestana aos verdadeiros propósitos dos que tentam dividir as tendências, aproveitando o pluralismo que cultivamos e a liberdade que o fomenta, para reinarem as trevas medievais.

Gostamos dos tais valores, mesmo com as suas fraquezas, quem não gosta que não consuma e que nos desampare a loja em matéria de obscurantismo, de intimidação e de censura.

Ninguém pode negar que, embora de inspiração cristã, já demos quanto baste para esse triste peditório...

19
Set12

A POSTA NA SEPARAÇÃO DAS ÁGUAS

shark

Quando o Fernando Nobre entendeu embarcar no suicídio da sua imagem, afundando-se como se viu nas tormentas eleitorais, certamente a AMI comeu por tabela.

Muitas instituições acabam coladas à figura dos seus líderes mais empenhados, mais competentes ou simplesmente mais carismáticos e acabam dependentes do desempenho pessoal dessas figuras de proa que dão rosto à missão que visam cumprir. É algo de compreensível, justo ou não, até porque quando o rosto da causa está na mó de cima isso acarreta resultados positivos directos e mensuráveis, o que implica a aceitação tácita do reverso da medalha.

 

Tendo isso em mente, Isabel Jonet também deveria ter ponderado previamente as suas declarações ao DN a propósito do Estado Social. E ainda que dessa ponderação não resultasse uma coerente (com o cargo) mudança de opinião, teria sido boa ideia poupar o Banco Alimentar às consequências de uma sinceridade política que fica bem a qualquer cidadão mas, como o outro exemplo mais acima tão bem ilustra, o preço a pagar pelo usufruto de um direito de liberdade de expressão e de opinião que ninguém pode limitar é o de lesarem seriamente os interesses das instituições que os notabilizam.

 

O contrário também pode acontecer e não raras vezes figuras públicas deixam-se apanhar por esquemas, por organizações e por pessoas que julgam bem intencionadas e depois descobrem tratar-se de embusteiros. Acontece e pode manchar a popularidade de quem dela mais precisa.

Por isso todos os cuidados são poucos na gestão das intervenções públicas por parte de quem possui a fama (e o proveito) e a influência capazes de fazerem a diferença na divulgação de uma causa ou de um projecto de índole humanitária, da mesma forma que devem usar de extrema prudência na selecção das causas pelas quais dão a cara.

 

Isabel Jonet tem feito um trabalho notável no BA. Tem desempenhado a sua função com tamanho sucesso e mestria que os resultados estão à vista, com reconhecimento internacional incluído, ao ponto de ser ela o rosto da instituição.

Claro que isso não invalida que eu discorde imenso das suas posições acerca do Estado Social e que até as ache contraditórias relativamente ao cariz da causa que abraçou. Mas isso são outros quinhentos: existe a Isabel Jonet do BA e existe a Isabel Jonet de si mesma, pessoa com opiniões, com inclinações políticas, e sem dúvida com todo o direito a expressá-las.

Por isso não acho justa ou sequer inteligente a reacção de quem já afirma nas redes sociais a sua intenção de suspender a generosidade para com o Banco Alimentar como retaliação pelas opiniões da respectiva responsável.

E porquê?

 

Porque se aceitarmos que pessoas (que ocupam cargos de forma sempre transitória) possam de alguma forma denegrir e ou mesmo destruir uma qualquer causa ou instituição a que estejam ligadas vou querer que me expliquem o que vamos fazer em relação à instituição Parlamento, à instituição Governo e mesmo à instituição Presidência da República depois de por lá terem passado os que sabemos…

15
Set12

AS MAMAS DA PRINCESA KATE

shark

Há malta que acha piada, ver partes desnudas do corpo de pessoas famosas. Comem com os olhos e não se ralam com quaisquer consequências sobre as pessoas visadas, as pessoas como atracções de circo para os palhaços de uma multidão ávida de segredos e de imagens que sabem proibidas ou não as valorizariam desta forma ignóbil.

A princesa Kate casou com o filho de uma figura pública que morreu a fugir aos que tentavam violar a sua privacidade para obterem lucro à conta de uma interpretação idiota do que liberdade de Imprensa significa. Ninguém pode adivinhar as repercussões de um episódio destes na estrutura emocional de uma pessoa, figura pública ou não, e cada um/a dos que compram essas bodegas a que chama revistas é culpado/a pela manutenção destes abusos, não podendo olhar para o lado como se nada tivesse a ver.

 

Eu gosto de mamas, imenso. Desde que lhes descobri o encanto tenho apreciado com deleite as que a minha vista consegue alcançar. Mas vejo as de quem gosta de as mostrar, a mim, em privado, ou ao público em geral. E bastam-me essas, pois reconheço a qualquer pessoa, famosa ou não, o privilégio de tomar decisões acerca do seu corpo, da sua vida, da sua intimidade a que tem direito como qualquer abutre com uma máquina fotográfica que ganhe a vida dessa forma desprezível, tentando ultrapassar todas as barreiras que lhes tentem impor a fim de que percebam a verdadeira intenção da pessoa visada.

Essa intenção, preservar a intimidade para os mais íntimos, é um direito para mim mais legítimo do que aquele de que se servem os canalhas, paparazzi e quem os remunera, para justificarem os seus excessos.

 

Só existem duas formas de acabar com esta ameaça à privacidade das pessoas: endurecimento radical a nível legislativo, a fim de dissuadir os oportunistas que lucram com estas indignidades, ou um boicote por parte dos consumidores deste material obsceno na motivação.

Se a primeira hipótese depende de factores que já todos percebemos estarem associados acima de tudo às ligações perigosas entre o dinheiro e todos os outros poderes, a segunda só requer um pingo de vergonha nas trombas de quem acha piada a pousar a vista em algo que nunca estaria ao alcance das suas mãos tão nojentas como o carácter incapaz de distinguir certo ou errado, acéfalos, merdosos, gente pequenina que só serve para alimentar os que montam as arenas onde sacrificam seja quem for para gáudio da turba de mirones cretinos.

 

É assim que vejo as mamas da princesa Kate, como a imagem de mais uma vítima de uma das características que mais me enojam na maioria dos meus semelhantes que renego como iguais: a capacidade de ignorarem (na maioria dos casos, a ignorância é inata) ou de justificarem perante si próprios esse desejo mesquinho de absorver tudo aquilo que não é para ver mas uma corja de sanguessugas disponibiliza na mesma a um preço acessível ao mais miserável dos palermas.

Sim, gosto imenso de mamas. Por acaso até me fascinam mais os traseiros, mas qualquer porção de um corpo feminino é um retalho de paraíso e a respectiva visão é para mim um prazer.

Mas é fácil distinguir, mesmo numa tola sem qualquer frequência escolar, o certo e o errado, a oferta generosa de um peito ao nosso olhar e o buraco de fechadura por onde podemos espreitar como cobardes aquilo que sabemos instintivamente não estar ao nosso alcance ou não precisaríamos dessa figurinha triste para usufruir.

 

É assim que me fazem sentir todos os asquerosos que se babam como ogres sobre as fotos proibidas que valorizam com a compra dos pasquins que as publicam porque qualquer outra publicação o faria.

E só o faria porque não escasseiam as bestas ansiosas, consumidores de qualquer trampa mediática, para as enriquecerem como prémio pela sua generosidade com aquilo que nunca lhes pertenceu.

14
Set12

A POSTA NA PRUDÊNCIA DE ACTIVISTA DE SOFÁ

shark

Perante a confrangedora falta de alternativas no panorama eleitoral, entre os partidos da coligação que nos governa, um maior partido da oposição com o menor líder da mesma e conotado com o descarrilar das contas, um PC à antiga portuguesa a quem só falta a clandestinidade para estar verdadeiramente na sua praia (a praia de há umas décadas valentes atrás) e um syriza light com um líder de saída e dois por entrar, a pessoa acumula a vontade de gritar bem alto o protesto com a impotência inerente à ausência de propostas alternativas credíveis.

E é assim que se fica sem saber o que fazer perante uma manif como a de amanhã.

 

O dilema é óbvio: se não faltam pretextos para irmos para a rua gritar, sobejam as ausências de soluções, de hipóteses alternativas ao que se quer combater. A estratégia de ir derrubando governos e depois logo se vê é arriscada, porque a instabilidade política é terreno fértil para o caos, além de ser inócua em termos de resultados práticos.

O protesto é necessário e entendi o impulso dos que contribuíram nas ruas para o derrube de Sócrates. Contudo, comparando uma e outra iniciativas, se entendo ainda melhor o impulso dos promotores do Que Se Lixe a Troika compreendo ainda menos os seus objectivos e ambições.

 

Uma manif é sempre um sinal de pujança democrática, se há povo nas ruas é porque existe liberdade e existe força para lutar contra o que esteja mal e precise mudar, sobretudo quanto se trate de protestos pacíficos e com objectivos concretos em vista e alternativas para propor.

É neste último aspecto que a porca torce o rabo, pois começam a tornar-se numa moda (correndo a passos largos para a vulgarização) as manifes cheias de gente com vontade de demitir alguém mas vazias de gente com vontade de fazer ou de propor algo de melhor.

Para mim a questão coloca-se de forma simples: temos que pagar o que devemos e nos termos que nos impuserem. A alternativa, mais abébia menos abébia da troika, resume-se ao abandono do Euro e depois logo se vê.

Não vejo seja quem for a sugerir a alternativa mais radical, o papão do fim da classe média confortável a acobardar tudo e todos por falta de, lá está, um programa concreto de salvação nacional em tais circunstâncias, a saída voluntária (ou não) do Euro com todas as consequências que isso iria acarretar.

 

Não querer sair mas sem saber como ficar

 

Mas se a saída do Euro implica o pandemónio instalado no dia imediatamente a seguir à ocorrência, a permanência parece caminhar para o mesmo resultado mas com uma agonia mais prolongada no tempo. E parece-me ser essa percepção das coisas que mais gente levará às ruas no dia 15, a de que estamos todos a penar para chegarmos todos a lado algum. Ainda assim, se ninguém faz peito com o orgulhosamente sós e pelintras, também não vejo quem seja capaz de encimar a manif com uma proposta alternativa (a que passa por continuarmos no Euro e por isso pagarmos as dívidas nos termos dos credores) que garanta aquilo que o actual Executivo parece não lograr com as suas opções.

Temos pois mais um levantamento popular contra os que lá estão sem que alguém se preocupe com quem lá vamos meter depois, ou mesmo o Presidente da República por nós, caso a coisa até resulte na demissão do Governo.

 

É aqui que a lógica me trai na vontade, mesmo sem acesso ao Facebook onde agora tudo parece acontecer, de ajudar a engrossar fileiras. Não me revejo em iniciativas capazes de provocarem um efeito que ninguém pelo menos se afirme capaz de controlar, em climas de instabilidade política que ainda fragilizam mais as nações em aflição, como os exemplos grego e italiano tão bem ilustram.

Vejo imensa vontade de desfazer coisas, governos e assim. Mas não noto indícios de alguém saber como recompor as mesmas coisas depois.

 

E as lições da História, tão ignoradas, confirmam que são sempre uma péssima ideia os becos sem saída políticos quando se circula nas ruas da amargura financeira e social.

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