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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

28
Jul14

A gosto virá

shark

Gosto de entender a brisa morna que sopra como provinda do céu, da sua boca quente que arrepia a terra no areal desprotegido como uma nuca acabada de destapar.

Gosto de imaginar o som das ondas como a reacção ofegante dessa terra excitada, excitante, arrebatada pela sensação, exacerbada pela emoção que o céu, tão persistente, insiste em estimular.

Gosto de sentir o vento soprar cada vez mais forte, já perto do ocaso que anuncia a noite trazida pelo céu para cobrir como um véu o momento de encanto privado, a troca de carícias clandestina entre a terra feminina e o seu amante celestial, madrugada fora, até ao regresso do sol que ilumina como um sorriso o rosto da terra por instantes adormecida.

E depois a brisa de novo soprada, de forma gentil, para lhe sussurrar um até já porque esta história não tem fim.

 

É fácil gostar assim.

20
Mai13

Até ver

shark

Patético, caminhava sobre as brasas da fogueira acesa pelo sol no areal por debaixo dos seus pés. Parecia que dançava, na expressão alucinada do olhar. Parecia que planava, braços abertos em vão para o abraço que ignorava não passar de um fruto podre camuflado por entre um cesto cheio concebido pela sua imaginação.

Padecia de uma loucura com pele de camaleão, discreta, secreta, impossível de detectar no meio dos cadáveres amontoados daquilo que outrora apelidava de lucidez.

Sem conhecer a realidade da sua condição, avançava para um ponto distante no horizonte interminável que o seduzia com miragens, falsas imagens que se desfaziam em pó quando se aproximava demais.

Parecia tactear o mundo em seu redor, cego por dentro pelo excesso de luz no pensamento perdido em raciocínios circulares, arrastado pelo vento até paradeiros desconhecidos, os passos entorpecidos pelo calor, como uma marioneta do destino, sem conhecer o caminho ou um ponto de chegada para a sua caminhada solitária, interior.

Apenas não queria parar, movido por uma força qualquer para a qual não encontrava uma justificação.

 

Ridículo, marchava num campo de batalha ressequido, um terreno marcado pelas pegadas cobardes de um exército de desertores. E ele ali, desarmado, braços abertos com o peito oferecido às balas de um inimigo que mal conseguia identificar, dentro de si, passos perdidos no meio de um chão que ardia e ele já nem sentia, anestesiado pela distracção que os fantasmas do passado lhe proporcionavam enquanto o alucinavam com memórias falsas e visões adulteradas de um futuro repleto de oásis que não conseguia encontrar.

Caminhava sobre o fogo que o sol teimava em atear, ignorante da sua condição, ambulante embrenhado numa simulação que lhe testava a resistência e lhe incutia a persistência que o levara até ali.

 

Ao ponto de partida dentro de si.

28
Set12

PÁGINA EM BRANCO

shark

Quero ver-te como a uma mulher nua deitada na cama à espera de mim.

Depois quero aproximar-me e tactear o caminho certo para te preencher com tudo aquilo que faça sentido para ti que o descobres apenas nesses momentos de interacção a dois.

Quero ver-te disponível e sentir-te impossível de satisfazer sem todo o empenho que a tua generosidade bastaria para justificar. Quero também transmitir na perfeição tudo aquilo que me permites sentir, mais a minha gratidão pela forma como te entregas, vulnerável mas poderosa, o poder do fogo numa rosa dos ventos que me compete soprar.

Quero ver-te cheia de vida, a expressão completamente alterada pelo efeito que consigo provocar, o meu prazer e aquele que queres partilhar com terceiros, indiscreta, só tu conheces a receita secreta que confidencio aos poucos na intimidade dos nossos encontros casuais.

Quero ver-te assim, misteriosa. No silêncio da minha contemplação, mesmo antes de estender a mão para começar um novo capítulo da nossa história na tua pele como numa folha de papel dos primórdios desta nossa relação promíscua. Quero que me deixes tatuar-te com mensagens que transportes contigo para terras distantes onde as exibas a outros amantes que te saibam merecer, capazes de entenderem a magia desta nossa relação e de te olharem com tanta atenção que te faça sentir possuída sem o seres.

Quero ver-te assim, despida. À espera de mim e do que tenho para dar, ansiosa, a beleza serena de uma prosa ou o simulacro de um poema nas palavras e nas imagens que gravo na memória daqueles a quem te mostras depois de te sentires preenchida por mim, a pele marcada pelo registo do tempo em que foste minha, uma curta passagem, que exibas orgulhosa como um diamante que só eu saberia lapidar.

Quero saber que te dás a olhar aos outros porque te gostas cobiçada, não te aceitarias privada dessa emoção que acaba por ser a principal razão da tua existência, vaidosa, maquilhada por mim, esculpida a partir de um nada aparente que vale por um infinito à medida de quem queira e possa e consiga prolongar a exploração desse enorme ponto de interrogação que o teu silêncio induz e me lanças à cara em tom de desafio.

 

Sim, gosto de ver-te despida e incomoda-me a ideia de deixar-te à mercê do frio.

20
Set12

A POSTA QUE ELA ESTÁ A OLHAR PARA TI

shark

A felicidade é frágil. Essa é a sua única debilidade, o defeito que podemos apontar para a livrar da ameaça da perfeição. As coisas perfeitas são como equipa que ganha e a felicidade precisa ser mexida, cultivada, regada como uma flor no canteiro que é a beleza que podemos e devemos nutrir para que sobreviva, feliz.

A felicidade é um bem raro e precioso porque depende de factores externos, cruzamentos de caminhos, sorte nos destinos, mas também da capacidade intrínseca para alguém a sentir e sobretudo para conseguir preservá-la das permanentes agressões a que se vê submetida, em alguns casos apenas por existir e com isso incomodar quem não a consiga experimentar. E a felicidade é sensível, até a inveja ou o ciúme a beliscam porque uma felicidade a sério não consegue entender essas coisas, más vontades deliberadas ou mesmo as situações azaradas que a afastam do sítio onde gosta de estar, perceptível, omnipresente em cada sopro de vida de quem a possa albergar.

A felicidade precisa de se sentir defendida, reclamada a todo o tempo por quem com ela tenha trocado um olhar. É frágil, desprotegida perante tudo quanto acontece para a perturbar, mais a ignorância ou a distracção de quem nem a consegue distinguir por entre as cortinas de fumo do que mesmo sendo acessório atinge as pessoas como essencial.

A felicidade é possessiva e não gosta de ver a pessoa distraída com as outras, as emoções negativas que são proibidas numa felicidade como deve ser. Ela queria ser a única mas exige mesmo é ser a principal, a rainha plenipotenciária da atenção dos seus súbditos felizardos por inerência, quer que todos aceitem o seu cariz indispensável para uma existência como todos dizem querer, saudável e feliz.

É a própria felicidade quem o diz, quase o grita, quando por entre os medos de uma pessoa aflita, por entre a tristeza temporária, passageira, que tolera apenas por ser um bom termo de comparação consigo mesma, favorece o seu esplendor de fonte de sensações positivas e clareza de raciocínio no aproveitar do melhor que uma vida nos dá, afirma-se indispensável para as coisas correrem melhor.

A felicidade é generosa pela influência do amor na sua forma de estar. O amor gosta imenso de dar e a felicidade respeita essa vontade e até fica satisfeita com o resultado obtido pela sua intervenção, aquilo que recebe de volta quase não conta porque amar já quase basta para se ser completamente feliz.

 

E a pessoa acredita, por ser a própria felicidade quem o diz.

22
Ago12

O ÚLTIMO COMÍCIO

shark

As palavras cambaleavam como que embriagadas pelo cheiro nauseabundo das ideias exumadas no nexo de uma causalidade arbitrária, predestinada ou não, de uma constante aleatória, que as arrastava a custo pela pista feita palco de danças que todos em volta rotulavam de imenso intelectuais.

Mal se endireitavam, as palavras circunstanciais que se atropelavam pelo desespero de causa, perdida a deixa na memória que restava da história de vida de um péssimo orador, porque eram palavras perdidas, palavras cuspidas no momento de êxtase de um exorcismo qualquer praticado naquele palanque improvisado do qual emanavam uns sons que as palavras dançavam sobre as pernas vacilantes das mentiras que não as tinham para andar.

Piruetas extraordinárias e cambalhotas involuntárias, sem atenção ao ritmo marcado pelo que, à distância, parecia o rufar de tambores na exigência de dias melhores por parte da audiência que escutava as palavras atiradas à parede como barro que não colava porque a parede parecia ter ouvidos e rejeitava também ela, estupefacta, a lógica putrefacta das ideias exumadas da sepultura onde as arquivavam, nas valas (dos lugares) comuns, tantos enganados por apenas alguns que se revelavam agora desastrados com as palavras a utilizar.

 

As palavras tropeçavam sem cessar nas raízes da insensatez plantada mesmo à beira daquela estrada sem fim que se impunha percorrer, naquela terra deitada a perder num jogo com regras a fingir, muito pouco no entanto na cotação dos aprendizes de espertalhão cuja música ecoava em fundo como a banda sonora de uma comédia sem vontade alguma de rir.

O som de palavras desequilibradas pelas ideias desenterradas à pressa para cavarem afinal a própria sepultura, escravas da lucidez que lhes matava à nascença a ilusão da confiança que pretendiam inspirar.

O ruído assustador de um comboio de palavras a descarrilar, carruagens atafulhadas de palavras desperdiçadas na viagem sem regresso a uma terra prometida no baile de uma história encantada onde a música de fundo não deslustraria em velórios, ou mesmo em funerais.

Palavras tristes demais com a sua desdita, na expressão oral que depois era escrita e as envergonhava e parecia que cada ideia as embriagava para as ajudar a esquecer o lado abjecto da sua condição de reféns daquele grupo de artistas, prodigiosos malabaristas de modelos e de conceitos, de planos que pareciam perfeitos quando o barulho das luzes se sobrepunha ao de cada palavra que se expunha ao embaraço daquela humilhação porque a demagogia as transformava numa cacofonia sem sentido algum.

 

Tantos enganados somente por um, o mais convincente no poleiro, tantos atraiçoados pelo poder do dinheiro que comprava aquelas palavras malditas que eram palavras desditas em função do tamanho da ondulação no mar onde o naufrágio já acontecia mas a bordo ninguém parecia saber.

Mesmo quando, à vista desarmada, já mal se avistava o último salva-vidas ao dispor.  

15
Ago12

JUÍZO FINAL

shark

A razão deu consigo aprisionada, para sua própria protecção. Deslocada para um espaço livre da perturbação que se apoderou daquele mundo interior. Vigiada a todo tempo como se fosse valiosa, algum tempo depois, quando algo lograsse a estabilização daquele lugar.

A razão tentava entender, como lhe competia, tudo o que estava a acontecer e não conseguia porque a loucura a galope na pressão demasiada espalhava informação que deixava desorientada a razão agora detida, para sua própria protecção, num derradeiro bastião de lucidez.

Cercada pela insanidade que acreditava temporária, a razão que restava era mantida isolada do caos que reinava em seu redor e que contagiava raciocínios até não fazerem sentido algum. Mas o sentido era único e obrigatório para a razão que de outra forma perderia a razão de ser, perdia o estatuto de fonte permanente de um saber mais organizado, quiçá mais controlado do que aquele pandemónio instalado no centro das emoções, em todo o lado, o pensamento arrastado para um ritmo impossível de processar em tempo útil para evitar decisões desastradas, iniciativas tresloucadas que a razão jamais poderia tolerar.

Porém, a razão parecia já não mandar e o controlo estava entregue a uma espécie de anarquia, pelas palavras que produzia e pelo comportamento anormal de tudo o resto que não a testemunha estarrecida, a razão que estava detida para sua própria protecção, perto da cabeça mas distante do coração demasiado acelerado nas curvas, salvaguardada do acidente inevitável que tamanho desnorte iria certamente provocar.

 

A razão não podia arriscar a sua integridade, era a última oportunidade de inversão para um rumo infeliz, para um regresso à lucidez infiltrada na multidão desorientada de fogos de artifício mentais, de pensamentos prejudiciais à estabilidade de todo o sistema.

Tentou ponderar um esquema de recuperação do poder, a razão forçada a aprender uma nova linguagem para a comunicação com toda aquela confusão que reinava onde a ordem deveria presidir.

A razão não podia deixar fugir nem mais um pedaço de si, já fragilizada pela força utilizada na sua providencial detenção, o presídio como salvação da lógica esgotada de argumentos, dos valores tão obsoletos que mais pareciam adequados à exposição num museu, da derradeira resistência à voz de uma consciência revolucionária, de uma insanidade que julgava temporária mas insistia em perdurar sem a razão conseguir criar os limites necessários, as barreiras que impediam os impulsos mais temerários de irem longe demais, para lá do território cartografado nos arquivos do conhecimento empírico e fora do alcance dos mecanismos de controlo impostos pela razão cada vez mais impotente e à mercê daquele motim.

 

A preocupação já não pensava assim, aparentemente aliviada da pressão pelo efeito da loucura que se apoderava aos poucos do juízo que restava e dessa forma baralhava por completo o raciocínio antes insuspeito daquela a quem competia a primeira linha de defesa contra as ameaças do exterior.

Parecia querer demitir-se das suas funções, livre das preocupações que a justificavam, relegada para segundo plano onde seria figurante na balbúrdia que as forças de segurança da razão tentavam a custo impedir de ultrapassar as fronteiras do senso comum, à solta num ambiente que era terreno hostil para a razão sem reforços nem protecção para lá daquela jaula onde não podia voar como os pensamentos enlouquecidos, como os humores descontrolados que tão má imagem forneciam de uma razão condecorada por tanta ameaça evitada no passado pela razoabilidade sua intervenção.

 

A razão, prisioneira da sua condição, observava à distância (como aconselhava a prudência) e percebia, aos poucos, que os sãos e os loucos já conseguiam conviver com a insanidade a prevalecer, enraizada ao ponto de parecer natural aquela loucura cada vez mais global que a razão, aprisionada numa masmorra de solidão, adivinhava vencedora a menos que acontecesse um milagre qualquer.

E esse conceito a razão nunca conseguiria entender, quanto mais acreditar...

12
Jul12

A ULTIMA PEDRA

shark

A passagem do tempo parece limpar, como o vento, o rasto deixado, na areia da memória, por algo que não terá passado de uma história das que nem valem a pena recordar.

Com a ajuda das ondas do mar, a brisa soprada pelo tempo vai apagando, vai varrendo do solo os resquícios da desilusão remanescente, vai tornando irrelevante a marca indelével de um momento que se deseja impossível de repetir.

O passado cheio de vontade de partir para o esquecimento absoluto, abandonado no edifício devoluto onde se acumula o entulho, perdido num canto ocupado pelo barulho da cacofonia de sons imaginários de muitos acontecimentos secundários deixados para morrer num espaço afectado pela surdez.

O presente dominado pela lucidez que no passado falhou a sua missão e deixou turvar a visão da realidade ao ponto de quase justificar uma saudade disparatada nesta altura em que já pouco resta, pois nada dura para sempre quando não presta, quando se usam materiais de construção aldrabados.

E no futuro restará apenas a última pedra, poupada aos trabalhos de demolição entretanto desembargados.       

07
Mai12

A POSTA LAURO ANTÓNIA

shark

É fácil depararmos-nos com becos sem saída quando percorremos o labirinto da introspecção, uma espécie de aventura em corredores armadilhados ao estilo Indiana Jones e a Razão Perdida com a subjectividade a fazer o papel do vilão daqueles com muito bom coração mas um nadinha desviados, todos nós, do caminho melhor.

É uma metragem que queremos longa e por isso nos deixamos perder no decorrer de mais uma deambulação pelos tais corredores que parecem parados quando não interessa, afinal, avançar porque podemos encontrar, nós todos, as respostas tão explosivas que podem estragar o final feliz para o herói atrevido e mesmo para o mau no interior, o agente sabotador das melhores intenções a que chamamos, enquanto batemos em retirada, um mecanismo de defesa natural e por isso mesmo absolutamente desculpável.

 

As culpas são um dos rostos malévolos que trocam as voltas, que perturbam o sentido de orientação racional e nos deixam à toa como ratos de laboratório numa experiência desenhada à medida de chimpanzés. A inteligência acaba sempre atingida pelo fogo cruzado, tão natural, dos mecanismos de defesa, protecção instintiva da pessoa, contra a artilharia pesada da consciência que pode mudar o lado da barricada consoante o alvo a abater.

É uma guerra talhada para ser perdida, o rato à toa nos labirintos da vida em busca de um queijo sempre a mais porque dizem fazer mal à memória e os caminhos que não encontramos, lojas de conveniência racional, são os pontos de fuga ideais para uma desculpabilização montes de esquecida e por isso reconhecidamente eficaz.

 

A película não anda para trás e cada cena tem que resultar à primeira ou pode ficar uma vida inteira às escuras dentro da caixa metálica, opaca, de uma bobina, uma imagem muito mais intensa e dramática do que a obtida com o argumento fácil da cópia digital. É analógica a batata quente a crepitar no colo desertor da mentira piedosa ou de qualquer outra jogada manhosa à maneira para salvar no último instante a pele imaginária do amor (im)próprio de cada actriz ou actor, corta como um cutelo no filme de terror em que passamos a vítima quase inocente, tão nua e desprotegida à mercê de uma condição que funciona como uma mina anti-pessoal, a verdade crua e malvada que pode tornar inviável a mudança de cena suave no processo de transição para a absoluta negação da imagem que nos perturbou.

 

Insistimos na certeza de que aquele filme já acabou e por isso não faz sentido a obrigatoriedade de realizar uma espécie de sequela onde o mau da fita é mesmo a cara chapada daquele que antes, numa reacção mais a quente, protagonizava a pessoa muito boa mas apanhada na fogueira ateada pelas circunstâncias, essas incógnitas, essas variáveis que funcionam como contexto ideal, como cenário mutante em função do ângulo mais interessante, mais favorável da actriz ou do actor. São truques de realizador experimentado, de produtor bem sucedido de fitas que servem apenas para desviar a atenção, tão bem resulta a prestidigitação que a mente aponta de imediato o míssil do ilusionismo contra as fileiras desguarnecidas de vontade a sério de vencer.

A guerra é travada para perder, nem que a bala nos atinja apenas de raspão, porque avançamos com as certezas assentes num alçapão automático, redentor, à prova de bala e mesmo de amor disparado à primeira vista, rajadas de setas lançadas por um cupido moderno que faz de fuzileiro zarolho nos momentos de comédia que a vida acrescenta só mesmo para o público desanuviar.

 

A saída airosa para escapar do tal beco que a perdeu, no labirinto onde não se esqueceu a deixa que facilitava a fuga milagrosa para o prémio de consolação, o túnel escavado no subsolo da prisão onde urge deixar a verdade encarcerada, por troca com uma sósia, a dupla na realidade maquilhada como uma tábua de salvação no mundo faz de conta das térmitas que gritam acção mas a pessoa entende que já rascunharam no guião o seu happy

 

(THE) END.

03
Mar12

SEXTO SENTIDO

shark

Abre os teus olhos como janelas de uma casa no topo de uma montanha e deixa fugir o olhar pelo mundo tão belo como o vês, segue-o de perto e percorre de lés a lés a paisagem de cortar a respiração.

Escuta o bater mais acelerado do coração que rufa como um tambor no silêncio em teu redor e decifra a mensagem que o vento vai entregando a cada momento dessa tua pausa observadora e percebe como a vida melhora só pelo prazer de conseguires absorver em pequenas porções de imagens e de sons as mais poderosas sensações que esses sentidos podem oferecer.

Saboreia nos lábios a memória de um beijo, deixa-te abraçar pelo desejo e liberta da caixa de pandora numa manhã radiosa de Primavera a anarquia da imaginação, o gosto salgado da paixão na tua boca, o corpo deixado à solta numa aventura arrojada que te sabe a amante beijada quando te lembras assim, sem amarras, de tudo aquilo que desejavas e às tantas ainda podes ter.

Aspira a brisa da madrugada que te faz recordar o odor de uma noite passada a amar sem reservas, abre de novo a gaveta onde encerras tudo aquilo que constitua evocação do que renegas sem querer, apenas no sentido de prevenir uma recaída, o descontrolo de uma doença mal curada que te possa ensandecer, quando amas isso pode doer, inspira fundo agora esse ar que transporta de fora o que escondes dentro de ti.

Sente a pele que reage por si num arrepio que sabes não ter nascido do frio porque no interior da tua mente há um corpo incandescente alojado no teu e agora abres os olhos para veres no céu desenhados pelos rastos de aviões os contornos dos amantes e o calor das emoções que te envolvem com a suavidade de braços feitos de cetim.

 

Pensa nas coisas postas assim e utiliza acima de tudo a intuição, concentra nela a tua atenção e deixa-te arrastar pela estrada que o instinto traçar enquanto tudo te é permitido pelo tempo que se faz esquecido de nos avisar que continua sempre a passar porque é como uma locomotiva sem travões que ignora apeadeiros ou estações, a vida não pode esperar pelo que se possa deixar para amanhã logo se faz e o tempo recusa andar para trás para recolher os atrasados para usufruírem da permanente celebração que é uma vida com a sede de paixão que tenhas reprimido.

 

Segue as pegadas desnudas do teu sexto sentido.

 

02
Ago11

A POSTA SOBRE CARRIS

shark

Realidades imutáveis, verdades impossíveis de alterar para diferente, para melhor, são sinónimo de derrota para quem se queira agarrar à mentira representada pela ilusão.

Não importa quantos são os obstáculos que não se logra transpor e enfatizar os ultrapassados constitui não mais do que uma panaceia para o desconforto que sentimos quando a verdade é a doer e é daquelas que nos fazem perder quando pouco mais resta do que empatar para adiar a constatação.

A vida pode revelar-se obstinada, persistente, particularmente motivada no sentido para nós proibido, aquele que queríamos perdido para sempre nos confins da desorientação das coincidências que se vestem de sorte ou de azar.

A vida pode não achar que devamos ter uma pequena palavra a dizer no rumo escolhido e depois opta pela falta de sentido que é como uma lição de humildade extraída de uma realidade imposta pela teimosia do destino traçado por uma força superior ou apenas pela maior relevância de um factor que terá escapado ao nosso controlo ou simplesmente à nossa atenção.

E entretanto a vida passa destravada pela estação onde nos deixamos ficar, à espera dos milagres sem a bagagem de fé que os possa sustentar em teoria, depois de afastada tal hipótese pela franqueza brutal da lucidez, e só quando a vemos ao longe percebemos que a vida não espera por passageiros apeados pelos seus dilemas intrincados, pela sua desistência mal disfarçada por tentativas débeis de alterar as realidades imutáveis que o tempo transforma aos poucos em folhas secas arrastadas pelo vento no espaço mais recôndito das recordações que bem podíamos dispensar.

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Berço de Ouro

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