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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

02
Jul13

Balanço

shark

Ganha balanço para o salto que precisas dar, abraça a atracção pelo abismo onde se afunda o teu olhar. Memórias (doidas) varridas de emoções que encontraste despidas no instante em que te propuseste pôr tudo a nu, o centro do mundo és tu enquanto te concentras para a descolagem, enquanto te libertas da bagagem dispensável, de tudo aquilo que é passado a ferros no presente que te esmaga com a ansiedade de não saberes o que o futuro te reservará.

 

Perde de vez o medo da exposição de qualquer segredo perdido no tempo em que escondias as fraquezas, assume a expressão das tuas certezas e intimida dessa forma qualquer agressor. Grita se necessário, enfrenta o mais perigoso adversário, dentro de ti, um lastro de outros que carregas como um Sísifo imbecil e te atrasa, perdido por um, perdido por mil, para o compromisso inadiável com o destino que o acaso te ofereceu e que, para esse efeito, é mesmo só teu.

06
Jan12

SOPRO DE VIDA

shark

Pelo espelho retrovisor da memória conseguia distinguir ao longe a coluna de fumo que o tempo, com a ajuda de um vento imaginário, não tardaria a dissipar.

Continuava a avançar e só olhava para trás de relance, a imagem derradeira de uma aventura tão passageira como o fogo que apenas ardia enquanto encontrasse no caminho algo de vagamente combustível para alimentar a sua energia espalhafatosa mas comprovadamente fugaz.

 

Já pouco olhava para trás, as cinzas apagadas, as labaredas extinguidas no passado que faz das coisas que pareciam as coisas como elas são, a clareza da visão aguçada pela pedra de amolar que a vida cuida de instalar no sítio onde as lembranças se atafulham à mercê da humidade e do pó e mirram até à sua dimensão realista, depois de uma breve troca de pontos de vista entre a emoção adolescente e a sabedoria anciã.

 

O sol a romper na manhã presente a escuridão de cada noite agora dada como perdida, a lógica temporária dos factos desnuda aos olhos de uma adversária com visão de raios xis, a chata da lucidez que andava desaparecida mas o tempo recuperou.

Já mal recordava o fogo que se apagou, aquela imagem derradeira no espelho retrovisor da memória para o qual já pouco olhava, sinais de fumo ilegíveis em danças da chuva sopradas, mensagens esborratadas pelo vento no céu de cor alaranjada pela agonia final da madrugada e ele sabia de antemão, gritava-lhe o instinto que ecoava o coração, que outros dias iriam nascer, a vida teimosa a prosseguir sem qualquer consideração para com todas as coisas deixadas para trás.

 

E ele agora já só olhava para a frente, iluminado pelo sol nascente de um rio feito de luz.

30
Mar09

A POSTA QUE UM ANJO JÁ LEU

shark

O posicionamento de um agnóstico em matéria religiosa é do mais confortável que existe quando está em causa uma fé. É quase the best of both worlds, podendo resvalar de vez em quando para o herético para logo depois inclinar a perspectiva para o lado mais espiritual das respostas que tanta gente tenta obter ou tem por garantidas sem provas factuais capazes de impressionarem um indeciso como eu.

Ou seja, o meu género de agnóstico jamais poderia afirmar um deus, qualquer deus, da mesma forma que não pode renegar, de todo, o pressuposto de uma hipotética existência divina.

 

Eu sou um agnóstico que chama energia à alma e chama a deus amor. Não vou alongar-me neste tema fascinante porque não o pensei o bastante e porque não me julgo com arcaboiço para tal mergulho.

Ainda assim, posso afirmar que sou um agnóstico mais difícil de converter à causa ateísta do que à crença de que existe algo que nos transcende e que se movimenta numa outra dimensão. Ou melhor, embora não compre as versões correntes, institucionais, de deus como milhões o acreditam sou muito céptico quanto à inexistência de vida para lá da morte.

Tenho uma porta aberta na minha fé para a existência de uma forma de energia em que nos transformamos e que conserva as nossas memórias e a nossa essência, espíritos – podemos chamar-lhes assim, sendo que alguns de nós se elevam a um patamar superior (como acontece por cá, aliás).

Chamemos-lhes anjos.
 

Eu gosto de acreditar em anjos, sobretudo os da guarda, as melhores pessoas que nos amaram aqui e conseguem perpetuar esse amor e convertê-lo na força com que nos amparam enquanto cá andamos.

Essa imagem bonita, luminosa e alada serve-me tão bem como qualquer outra e bate aos pontos uma alma enfiada num lençol com uns absurdos buraquinhos na zona dos olhos, sempre que tento imaginar os anjos da guarda em que gosto de acreditar (mesmo não os subordinando a outro deus que não uma energia imensa e intensa a que chamamos Amor).

 
E porque me deu para aqui hoje?

É que hoje faz anos que nasceu um desses anjos a que me refiro e o seu legado terreno constitui para mim um forte motivo para querer expressar-lhe a minha gratidão sob esta forma.  

28
Set08

A POSTA QUE O SENTES COMO EU

shark

O sol a apresentar cumprimentos de despedida e a noite a tomar aos poucos o seu lugar no céu.

O chamamento da madrugada à flor da pele, energia, e nas pequenas faíscas que se desprendem do olhar fixo num ponto de horizonte que se define apenas como longe daqui.
O duche tomado e o charro enrolado a rodar por entre bocas mais viradas para as sonoras gargalhadas que se sucedem a cada pretexto dos que se atropelam quando a única vontade é estar feliz.
O plano delineado, um palpite ou sugestão, e o carro a pedir pressão no pedal do acelerador. Mudança engatada e o tapete vermelho estendido numa estrada aparentemente sem fim.
 
O destino traçado que algures é alterado para uns quilómetros adiante, talvez bem dentro até de um outro país. O mundo pequeno na cabeça que diz não querer parar enquanto a música rasgar com a batida do som à medida da vontade irreprimível de partir.
A loucura, controlada no essencial, libertada ao mais pequeno sinal que pode ser um qualquer estímulo exterior. Uma palavra apenas ou uma declaração de intenções.
O mapa esquecido para trás, drama algum, o palpite (mais um) da maioria que vira à esquerda e logo se vê onde iremos parar.
 
A lado algum, ou a qualquer lugar capaz de acolher a alegria de viver aos saltos na noite felina que nos agita, por dentro, a voz que nos grita usufrui.
A consciência já toldada pela mola acordada do seu torpor, a predisposição para o sexo ou para o amor denunciada no ritmo do corpo que se deixa arrastar pela ondulação de um som espectacular.
Mais uma cerveja a rolar de boca em boca que a garganta não pode ficar seca quando canta as palavras irrequietas de uma rockalhada que incita à revolução interior.
A força redobrada pelo encontro casual com um olhar que desperta o instinto animal, o avanço destemido com o coração acelerado e disponível para uma paixão instantânea que transforma cada momento numa hipotética última vez.
 
O som distante dos baixos lá dentro, de onde a vida se deslocou para o exterior onde a noite estrelada testemunha o amor que se faz no carro, na areia, na relva de uma vivenda desabitada ou onde estiver a dar largas à pele para tocar na química submetida à experimentação da liberdade total.
O primado da emoção desgovernada, à solta pelo espaço amplo que a madrugada constrói na incógnita do que a escuridão relativa dissimula ou oculta. As barreiras tombadas no decorrer de uma luta de beijos e de sensações contra os medos e as hesitações em que quase sempre o impulso primário consegue levar a melhor, vergada a resistência ao apelo selvagem da vontade de viver, espalhadas com as roupas pelo chão à luz dos primeiros raios do sol que espreita por detrás do ponto que a vista consegue alcançar.
 

A vida a namorar as silhuetas dos amantes abraçados que se despedem da noite com um sorriso nos lábios e uma vontade imensa, livre de interrogações castrantes e vãs, de acolher no peito o calor da alvorada de mais um milhão de amanhãs.

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