A posta no fogo que arde
Uma das coisas que aprendemos logo ao início da nossa percepção das coisas é o facto indiscutível de a vida nos dar lições. Essa mestra invisível bem cedo nos ensina que devemos evitar as esquinas dos móveis com a cabeça, tal como explica de forma clara e sucinta o quanto é verdade aquilo que os progenitores dizem do fogo.
Queima a valer e dói que se farta, aprender assim. Mas o método de ensino é muito eficaz e existe progressão na aprendizagem, pois a mesma cabeça que nos avisa que devemos protegê-la das esquinas pontiagudas continua pela vida fora a relembrar-nos lições que deixamos escondidas nos bastidores da memória.
É disso que se faz a história da vida de alguém. De lições. De aprendizagem que podemos utilizar a nosso favor ou ignorar e cometer o maior dos erros que é repeti-los. Esse facto pode até, aliás, considerar-se uma raposa. O erro de palmatória clássico corresponde a uma reprovação, pois até a vida percebe que só um burro incorre na asneira de ir segunda vez à caixa de fósforos depois da primeira queimadura.
Contudo, e a vida é um permanente porém, as turmas dessa escola exemplar congregam multidões de asnos capazes de darem cabo da vida por não lhe respeitarem as lições. Somos, esse grupo de cábulas, eternos repetentes. Nem conseguimos interiorizar a diferença entre errar muito, mas diferente (aprende-se sempre qualquer coisa) e errar muito e sempre estupidamente igual.
Depois um dia a vida esfrega-nos nos olhos a matéria, a lição mal estudada no passado é repetida num qualquer agora. A ver se o aluno retém qualquer coisa e acorda.
Quantas vezes a aula onde estivemos mais desatentos vem a revelar-se a mais valiosa para ultrapassarmos os testes que a vida nos marca…
Marramos (contra o comboio de Chelas, se necessário) até conseguirmos fixar parte da matéria que possa, pelo menos, garantir a positiva. Fazemos cábulas como saída de emergência para uma branca daquelas que os nervos nos dão e mostramos ter aprendido a lição, concentrados o bastante para decifrar os sinais que nos recordam os erros do passado que urge não repetir.
E tantas vezes o único erro é insistir.