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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

11
Fev11

MONÓLOGO DA BARBATANA

shark

É perturbadora a forma como nos abala um conflito interior entre aquilo que queremos e aquilo que devemos fazer, sempre que estão em causa as coisas (e as pessoas, acima de tudo as pessoas) que mais mexem connosco.

Pouca volta há a dar a um assunto no qual o conflito de interesses é disputado em clima de guerra civil pessoal, precisamente porque se trata de um dilema que nos enfraquece a própria capacidade de decisão, com a cabeça e o coração a digladiarem-se em torno de razões e de emoções que partilham naquilo que é a gestão corrente das pessoas que nos ambicionamos.

Pouco mais nos resta, em tais circunstâncias, do que encontrar um peso relativo para as opções em disputa e respectivas consequências, nomeadamente quando envolvem ou possam afectar terceiros, sobretudo quando esses terceiros são das poucas pessoas a quem reconhecemos um papel decisivo nas nossas vidas e nos impomos a salvaguarda dos seus interesses, ainda que em detrimento dos nossos.

 

O meu perfil não ajuda nessas questões. Antes agrava, sobrevalorizando-o, qualquer problema que envolva os contornos que refiro acima.

A gaita é que quando damos rédea solta às emoções e enchemos o peito de vontade de lutar por elas, contra o mundo inteiro se necessário, essa liberdade (libertinagem?) emocional confere uma força desmesurada aos argumentos em abono do impulso, do instinto que nos trai quando nos vemos obrigados a ter em conta a realidade dos factos na sua componente racional, por exemplo no que concerne à coerência perante princípios.

E é aí que colidem aquilo que sentimos certo e o que percebemos necessário ser feito, ainda que em sentido oposto ao que o coração nos diz, muitas vezes defendendo duas causas em paralelo e aumentando assim a confusão, os gatos enfiados no saco da nossa capacidade decisória.

 

Claro que uma pessoa equilibrada aprende a viver com essas coisas inerentes à nossa condição de criaturas imperfeitas que precisam interagir para que a vida aconteça como deve ser, muitas vezes não como a queremos. Para uma dessas pessoas, este tipo de desabafo só pode soar como uma calimerice, um choradinho de quem é fraco e precisa angariar palmadinhas nas costas quando enfrenta algum tipo de aflição.

Puro engano, embora isto seja fácil de dizer para mim nesta pele de juiz em causa própria que tem plena consciência da irrelevância desse tipo de opinião ou de embirração ou seja o que for que marca o território das nossas diferenças e das divergências que elas acarretam.

 

Esta é uma forma como outra qualquer de pensarmos com os nossos botões, de expurgarmos as emoções excessivas que possam toldar o bom senso imprescindível para vermos com clareza todos os vértices de cada questão com que nos confrontamos, mais urgente ainda quando estão em causa decisões que não podem ser confiadas à leviandade do primeiro impulso, esse ganda maluko que, por muito que nos torne pessoas giras de observar nas suas existências conturbadas mas intensas, acaba por estar na origem das maiores imbecilidades de que nos admitimos responsáveis e pode até constituir um factor determinante ao longo de toda uma vida, quando por exemplo o arrependimento pode degenerar em remorso ou coisa parecida.

 

E naquela cena do sentido da vida ficamos conversados assim.

01
Fev11

A POSTA ACREDITADA

shark

Há uma data de coisas em que eu gostava de acreditar, a sério.

Gostava de acreditar em Deus, logo à partida, porque a partir dessa crença ia abrir-se um vasto conjunto de outras coisas em que eu iria poder acreditar, como os milagres (o Euromilhões, esse milagre tão divinal…) e quase todas as hipotéticas realidades no domínio do sobrenatural.

Também gostava de acreditar em extraterrestres, não propriamente bactérias venusianas mas criaturas em condições, inteligentes e de preferência sem dedo leve no gatilho dos seus pistolões de raios xpto que transformam de repente uma pessoa em pó das estrelas e depois só daí a uns milhões de anos é que voltamos a reencarnar.

Nisso eu também gostava de acreditar, desde que me garantissem que não reencarnava num cacto ou num daqueles escaravelhos que passam a vida a fazer bolinhas de trampa e a rolá-las para todo o lado apenas porque a natureza assim o ditou e isso é quase o mesmo que dizer porque sim.

 

Acreditar na robustez do sistema democrático para enfrentar tantas e tão poderosas ameaças que o tempo e a fraqueza humana conceberam também me dava jeito. O medo de que a História se repita é fácil de acreditar e uma pessoa nem consegue imaginar o resultado de um colapso da democracia à mercê de tanta convulsão potencial mais as que já sentimos na pele depois de desencantados com a ausência de líderes fortes e carismáticos, se possível um nadinha consensuais.

Também gostava de acreditar nos outros, quase tanto como gostaria que acreditassem em mim. A capacidade de ultrapassar a desconfiança deveria ser um equipamento de série nosso neste tempo em que as pequenas traições se multiplicam a um ponto em que as pessoas já não enfiam facas nas costas umas das outras mas apenas canivetes, imensos, dos pequenos. E eu também não gostava de reencarnar num porco-espinho, tenho que admitir.

 

Contudo, no meio desta minha luta interior pela busca de explicações tão simples como a do sentido da vida, esta mistela entre o raciocínio precariamente optimista e a experiência de vida em muitos aspectos surrealista não produz um resultado coerente com a vontade intrínseca da descoberta de qualquer tipo de fé. Pode até confundir a pessoa ao longo do caminho, ao ponto de acreditarmos em coisas que muitos afirmam impossíveis.

 

Eu até calhou acreditar no amor e sempre que afirmo isso perante alguém obtenho em troca duas gargalhadas, a de quem me ouve e a do meu demónio interno de plantão.

É certo que são gargalhadas tímidas, amarelas, nervosas.

Mas o que conta é a intenção.

21
Jan11

DA MINHA ALMA CONTUSA

shark

A minha alma padece de diversos problemas. Dito assim, dá ideia que tenho uma alma doente mas esse é um diagnóstico que não posso confirmar. E isso acontece porque um dos maiores problemas da minha alma reside precisamente no facto de nela eu não acreditar.

 

Bom, claro que no final do parágrafo acima desponta uma contradição óbvia. É típico dos agnósticos, julgo eu, este fenómeno da balança que pode pender para qualquer um dos pratos quando se fala nestes assuntos um nadinha mais transcendentes. Sim, o vudu e os raptos por extraterrestres também entram nesse escorregadio domínio das coisas que podem existir ou não e uma pessoa tem que ir vivendo como pode com estes dilemas.

 

Mas falava-vos eu da minha alma e de como a existir seria uma alma em pior estado do que o corpo que pouco tenho feito para estimar. Seria uma alma intermitente, mais do que uma alma doente, algo desequilibrada e de alguma forma desorientada com as repercussões da ocupação deste mero invólucro que, com base nestas premissas, eu seria.

Esta casca é uma má companhia para as almas que se querem sem os problemas que a minha certamente teria, em existindo para lá da minha capacidade de a racionalizar, como se isso fosse possível, para no mínimo poder falar-vos dela aqui com uma linha de orientação para o raciocínio que, se a minha alma existisse, seria o seu também.

 

Mas a minha alma, como acima vos referi, seria uma alma com problemas, coitada. Completamente desorientada, à toa em busca de um rumo consistente, confusa. Completamente desequilibrada, sempre a tropeçar e a cair nos buracos que um corpo como o meu parece atrair.

Contusa.

06
Jan11

A POSTA LIBERTADORA

shark

Um dos exemplos mais flagrantes da falta de esperteza que assumi mais abaixo, e perdoem-me mais esta incursão pelo delírio umbiguista, é a forma como sou incapaz de ignorar as desconsiderações por parte de quem de alguma forma sinto ou senti como próximo/a. E o maior indicador da ausência de esperteza é o facto de existir um ponto em comum entre as pessoas a quem atribuo essa negligência que sinto hostil: o de não merecerem, de todo e por diversas razões que não devem ser confundidas com algum tipo de culpa, tamanha relevância na minha estrutura emocional.

Mas o indicador ainda mais óbvio é o de constatar que eu próprio incorro em manifestações da mesma desconsideração para com pessoas que não merecem, de todo e por diversas razões que não devem ser confundidas com algum tipo de obrigação da minha parte, tamanha exibição de um afastamento que eu sei, porque o penso e porque o sinto, ser meramente artificial.

 

Talvez neste estranho paradoxo, e com imensa boa vontade aplicada a um raciocínio relativamente simples e perfeitamente defensável, se consiga encontrar apenas mais uma evidência do equilíbrio que a vida parece exímia em impor a tudo o que a faz.

05
Jan11

A POSTA QUE ESTA POSTA SE VALIDA POR SI

shark

A inteligência, esse alegado atributo, sempre foi um factor sobrevalorizado sobretudo quando aplicado a cidadãos comuns. Se em teoria o reconhecimento da inteligência de alguém constitui um factor de orgulho, na prática o mundo é dos espertos e aos inteligentes, a maioria deles/as, resta pouco mais do que o consolo da vaidade pois o esquema das coisas acaba por privilegiar a maior aptidão para puxar a brasa à própria sardinha ou à das pessoas que interessam (na óptica pragmática da questão).

 

Temos em Portugal dois Prémios Nobel e de um deles a maioria nem sabe o nome, sendo precisamente aquele que se distinguiu mais pela inteligência o que menos brilhou à beira do outro, a quem o talento catapultou para o reconhecimento a nível mundial.

Qualquer desses dois inteligentes jamais auferiu fama ou proveito comparáveis com a de outra dupla de portugueses, Figo e Cristiano Ronaldo, habilidosos na prática de um desporto mas que na prática nunca ganharam seja o que for pelo seu país.

E podia construir uma posta interminável se insistisse neste tipo de comparações que provam o quanto a inteligência de pouco vale a quem não tiver a esperteza para a aplicar ou um jeito especial para as coisas que o povo, qualquer povo, verdadeiramente aprecia.

 

A verdade dos factos diz-nos que a inteligência pouco mais angaria do que inveja por parte de quem percebe não a possuir. Poucos domínios da actividade humana reconhecem a inteligência como valiosa e mesmo na realidade dessas áreas são os inteligentes mais hábeis ou espertos a lograrem o maior reconhecimento e as melhores contrapartidas.

De resto, e personalizando a questão (que é para isso que um blogue também serve), sou um homem com 45 anos de idade a quem ao longo da vida chamaram muitas vezes inteligente, que bom que bom, mas enquanto ao meu QI com três algarismos corresponde uma licenciatura por acabar, uma situação profissional e financeira paupérrima e uma manifesta inépcia em lidar com os outros (os que fazem acontecer) que se traduz num fracasso global que a merda da inteligência só serve para definir com contornos ainda mais nítidos e, por inerência, mais cruéis, pessoas muito próximas a quem ninguém valorizou pela inteligência foram espertas o suficiente para agarrarem as oportunidades (ou criarem-nas) para manterem um nível de vida bem mais elevado e confortável do que o meu. Conseguem até sucessos que no meu percurso nunca pude contabilizar.

É a verdade dos factos e confirma tudo o que tenho estado a dizer.

 

Aliás, quase sete anos investidos neste e noutros blogues, talento que ninguém pode negar e inteligência que me esforço por aplicar, resultaram apenas em perda financeira (o mesmo tempo e energia investidos em algo de compensador teria sido mais esperto) e rigorosamente nada de bom em concreto trouxeram à minha vida e à de quem me compete sustentar.

A inteligência, essa pérola, acaba por ter a mesma utilidade de um rolo de papel higiénico ou ainda menor pois recolhe-se um dividendo prático e imediato da utilização do papel mas no caso da inteligência (e da sua eterna aliada lucidez) a merda não só não se limpa como acaba por se acrescentar, como acontece quase sempre a quem pensa demais e não tem a esperteza necessária sequer para saber direccionar de forma compensadora e minimamente lucrativa o esforço intelectual.

É que as ostras uma pessoa ainda pode comê-las, mas as pérolas têm o valor nutritivo que se sabe…

 

Na realidade do mundo a inteligência, salvo raras excepções, é uma vantagem competitiva tão nula quanto a de uma medalha atribuída a um soldado. Pode-se exibi-la com orgulho, mas sem uma boa dose de esperteza nunca implicará algum tipo de promoção.

04
Jan11

A POSTA QUE VEM AÍ BORRASCA

shark

Há dias bons e há dias maus.

E agora que acabo de revelar a pólvora sem fumo, num verdadeiro prodígio de elasticidade mental, passo a explanar a ideia como eu a vejo.

 

Na escrita sou bipolar. Exactamente isso. E não é uma questão de tomar ou não os comprimidos, faz parte do meu percurso esse ziguezaguear entre a exaltação do amor, das flores e de todas as coisas boas e bonitas da vida ou, em dias dos outros, chafurdar até onde os meus travões mentais permitem nesta exibição pública dos meus humores.

Ao contrário do que sempre esperei, a passagem dos anos confere de facto alguma maturidade, alguma ponderação à pessoa mas pode até produzir o efeito contrário no escriba.

É o meu caso, cada vez mais em apuros para decidir o que publicar aqui ou não (sendo essa, de resto, a única e exclusiva motivação para as tentativas pontuais e falhadas de escrever noutros espaços e com outros nicks algumas coisas que sinto excessivas para este que é a menina dos meus olhos em matéria blogueira).

 

Bom, mas e que têm vocês a ver com tudo isto? Nada. O vosso papel é observarem e gostarem ou não. Se sim, voltam. Se não, o contador e as caixas de comentários nunca me esconderam nada. Contudo, eu não consigo deixar de vos entender como o pão para a minha boca blogueira e por isso me desdobro em tentativas mais ou menos bem sucedidas de explicar (justificar?) alguns insólitos que não raras vezes afastam pessoas do espaço que acarinho há mais de seis anos à custa de mais de mim do que possam julgar.

E é aqui que entra a preocupação que me leva a esboçar um paninho quente para o que possa vir aí de menos prazenteiro, na sequência da tal dificuldade que vos expliquei acima. É uma espécie de bolinha vermelha ao canto, não porque ande particularmente inspirado para temas eróticos mas porque pouca gente "ousa" lincar o meu blogue e ainda menos comentá-lo e cada vez menos visitá-lo sequer e isso diz-me que manter a mesma passada equivale a fazer a cama na qual este blogue se deitará, seguindo o exemplo de tantos outros.

 

De concreto digo-vos o quê? Que vou querer ser mais livre de dizer o que me vai na alma e isso tem um preço, tanto para mim que me exponho como para vocês que me avaliam e desenham imagens e expectativas que podem sentir defraudadas se a coisa mudar muito.

E eu sinto que vai mudar demais...

 

Nem sei no que isto vai resultar em concreto, mas releio as postas em rascunho e temo o pior quando passar a escrever directamente no editor, sem a rede da pré-leitura em versão Open Office antes de fazer o copy/paste para aqui.

 

É isso que queria dizer.

(Eu sei, tanta merda para dizer nestum... Mas faz parte de tudo aquilo que vos disse acima, trust me.)

02
Jan11

EM CONTRA-CICLO

shark

Esqueci-me completamente dos votos de ano novo, a sério. Aliás, nem uma análise do ano que findou me deu para fazer, negligente me confesso ao ponto de quase me ter passado ao lado a euforia obrigatória (se não quisermos passar por uns grunhos) dessa transição mágica do calendário que constitui pretexto para uma espécie de alucinação colectiva que sinceramente não tenho forma lógica de explicar.

 

Existem tradições absolutamente intocáveis na passagem de ano, mais até do que a tal alegria imposta e que devemos forçar-nos por exibir. Entre elas destaco o balanço do ano passado e os votos e/ou as previsões para o ano futuro. Ou seja, é suposto conseguirmos passar uma esponja por toda a merda que fizemos ou nos aconteceu enquanto, em simultâneo, delineamos uma espécie de plano de actividades para o período de 365 dias que nos cumpre enfrentar a seguir.

É isso que parece competir a quem é do tempo em que a festa se fazia nas janelas com as tampas dos tachos para manter acordado o vizinho bêbedo do lado e, ouvi dizer, para afugentar os espíritos maus que nos infernizam a existência ao longo de um ano normal.

 

A malta desdobra-se em esforços para garantir um local e companhia para esse maravilhoso dia de catarse em combinação com a invocação dos melhores auspícios mais a reunião das promessas por fazer mais as que ficaram por cumprir nos últimos anos, sempre com uma expressão de felicidade (ainda que induzida por excessos líquidos que a época parece tolerar) que deixe bem clara a alegria interior que a sociedade decretou. Um pouco como o espírito do Natal mas seguramente mais imbecil.

 

Não me interpretem mal, eu gosto de me sentir feliz, tal como aprecio imenso ficar com a noção de que qualquer espaço de tempo foi bem gasto por mim. Da mesma forma podem contar com a minha imensa vontade de fazer (este ano é que é) tudo aquilo de que me acreditam capaz ao ponto de eu próprio me iludir nessa intenção.

 

Mas cada vez mais me é complicado produzir esse resultado em resposta a uma convenção.

26
Dez10

A POSTA NO CASULO

shark

Aos poucos vão-se diluindo os instintos do animal social em mim. Vou deixando cair a vontade de me integrar num qualquer grupo, num qualquer lugar em que redescubra a sensação de pertença. Vou fugindo, aos poucos, do convívio com outros ou apenas à simples manutenção do contacto mínimo para justificar qualquer tipo de ligação.

E sei que tenho a razão do meu lado quando me permito esse luxo de deixar cair na mesma proporção em que me soltaram algures e entenderam não fazer falta tudo aquilo que tenho para dar, apenas, se calhar, por causa do que menos agradável me faz.

Não critico nem esmoreço perante a evidência pois faz parte do crescimento aprender a lidar com a hipocrisia instintiva que prevalece nos contactos de ocasião.

 

Mas lamento de forma sincera o quanto isso me confirma a ausência de verdade nas palavras levianas a que, estupidamente, sempre prestei tanta atenção.

25
Dez10

A POSTA NATALÍCIA

shark

Sou agnóstico, uma opção que já me valeu ser baptizado de cobarde intelectual por um padre.

Realmente ele no fundo tem razão, se tivermos em conta que se trata da posição intelectualmente mais confortável. Difícil é encaixar a fé numa qualquer lógica racional e há quem o consiga, da mesma forma que existem os que aparentemente conseguem destruir na sua mente todos os pressupostos, todas as dúvidas e incertezas que lhes possam abalar uma convicção de tal forma firme que lhes permite assumirem-se ateus.

 

Os agnósticos ficam a meio do caminho neste diferendo. Nem sim nem sopas. Assistimos na bancada aos intensos debates que caracterizam os pólos opostos da questão, ambos cheios de argumentos para fundamentarem a sua razão, e aguardamos um sinal divino que nos ilumine ou pela confirmação científica inquestionável da inexistência de algo mais do que aquilo que somos e do que somos capazes de conseguir ao longo do tempo que Deus ou o acaso nos derem.

Claro que se num dia normal não é coisa que nos faça perder o sono, quando chega o Natal a coisa adensa em termos de desconforto neste sofá do cepticismo moderado que nos obriga a escolher uma posição se quisermos salvaguardar alguma coerência.

 

Se uma pessoa não acredita em Deus pode soar tolice festejar o Natal, uma efeméride religiosa por quanto a coca-cola se esforce por conferir uma existência de facto ao seu ícone ancião.

Porém, é fácil a um agnóstico assumir a existência de um tipo absolutamente notável chamado Jesus e que impressionou de tal forma a malta do seu tempo que ainda celebramos o seu aniversário mais de dois mil anos depois do nascimento acontecer.

Isto resolve o problema da celebração, havendo um bom pretexto não há porque recusá-la.

Claro que isto elimina da equação a missa do Galo e outros rituais que a tradição inclui, mas uma pessoa consegue ser feliz só com base no bacalhau, na troca de prendas, no presépio e na árvore de Natal.

 

E no fundo é esta capacidade de sermos felizes com aquilo que temos que distingue a forma como vivemos cada momento e sobretudo os momentos que preferimos especiais. Ou seja, é possível a um agnóstico viver com tanta ou mais intensidade a magia do Natal, a religiosa como a pagã, como qualquer pessoa que celebre cheia de fé o seu profeta ou, pelo contrário, abrace a coisa com a distância de quem não acredita em nada que não possa ver ou, de preferência, apalpar.

 

Eu vivo a magia do Natal no sorriso da marafilha e no brilho do seu olhar.

E por ela, pela gravação das suas memórias do que esta época do ano representa, como por mim, que não dispenso qualquer das vertentes do meu papel enquanto pai e absorvo com sofreguidão toda a felicidade que lhe consigo proporcionar, não concebo nem admito qualquer hipótese que a possa privar das emoções que o Natal parece concebido para enfatizar.

 

E nesse contexto, como noutros que vão sendo criados para nos lembrarmos das coisas verdadeiramente importantes da vida, mantenho uma fé muito minha e que não depende de ícones pagãos ou de rituais de cariz religioso para se sustentar.

Depende apenas do amor a pessoas (ou a causas, porque não?) e da energia e da magia que Ele (o Amor) é capaz de inspirar em qualquer um de nós.

E basta, posso garantir, para alguém ser capaz de sentir o espírito do Natal e de aprender a vivê-lo como mais um lembrete de como a felicidade é possível e mais do que nela acreditar é fundamental querer abraçá-la.

 

Eu sou agnóstico quase ateu. Mas apenas na parte em que isso me fornece o pretexto para querer, ou pelo menos alimentar essa fé, a todo o instante apalpá-la...

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