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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

16
Jan10

O CONVIDADO SURPRESA

shark

Entrou no átrio interior com o olhar metralhador a disparar sobre tudo quanto mexia. Expressão dura de quem sabia o que havia a saber e com vontade de dizer a verdade à queima-roupa, a língua no gatilho e as palavras na boca, munições, a realidade que alguns cabrões precisavam escondida prestes a ver-se despida pelo homem armado de conhecimento proibido que jamais aceitaria esquecido com o passar do tempo e aquele era o momento ideal para corrigir o que achava mal, a mentira hipócrita desvendada numa carta escrita pela mão de um moribundo emocional.

 

Instalou-se o silêncio sepulcral como previa perante a arma que exibia no olhar pistoleiro, apontada ao mundo inteiro naquele espaço representado por actrizes e actores dependentes dos favores entre si, corrupção, e dissimulou a emoção que sentia por debaixo da capa que vestia no rosto empedernido por quanto havia sabido, demais, o nojo que o sufocava cuspido nas alegações finais que arrastavam uma a uma aquelas pessoas, farsantes, para pontos muito distantes da imagem construída, a miragem destruída num instante pelo homem que de repente se transformou numa arma letal para o estatuto social daquela gente petrificada pelo calibre das revelações.

 

Quase pararam alguns corações, os de quem tombava no lodaçal que sujava as caras estupefactas de quem ouvia palavras malditas que o atirador lançava como granadas para o átrio interior por detrás da fachada que parecia tão bem pintada e afinal se distorcia num imenso borrão, uma amálgama de cores no chão, misturadas até nenhuma se distinguir, até toda a gente, homem ou mulher, perceber o drama da ausência de um pingo de inocência sequer naquele grupo alegadamente superior por englobar aquilo que de melhor a elite produzia mas desmascarado na totalidade pelo que dizia aquele soldado da verdade que às tantas se calou e a todos olhou com a expressão calma de quem possuía um canhão na alma e finalmente o disparou.

 

E foi assim que os deixou estilhaçados, para sempre desgraçados pela sua condição de cúmplices num esquema que os cobria de vergonha depois de desnudado naquele palco improvisado, cada falso argumento daquela verdade atroz desmentido pelas palavras do algoz de circunstância que lhes denunciara a essência mesquinha com as palavras que tinha na cartucheira e verbalizara de uma maneira que não lhes deixava qualquer porta de saída para evitarem a perda sofrida diante dos arautos modernos, jornalistas, que autopsiaram como médicos-legistas os cadáveres sociais dos atingidos pelos disparos verbais.

13
Jan10

ESQUECIMENTO GLOBAL

shark

As janelas abertas que alguém fechou, fronteiras instantâneas entre a escuridão interior e a luz e o calor excessivo do sol.
O pó das estrelas que alguém limpou, imprudente, da memória colectiva de uma origem comum que ao longo do tempo o vento espalhou pelas prateleiras vazias de respostas e de soluções.
Vazias também de ilusões acerca do futuro risonho no rosto de um sonho baptizado de Deus, sem livros sagrados, sem livros pintados com a cor que as palavras lhes dão, inteligência e emoção, ausentes no armário macabro nas paredes de uma casa imaginária com as janelas fechadas por alguém cuja glória se perdeu quando o recheio daquela estante desapareceu e ninguém restou para a contar. A história que se esqueceram de consultar para aprenderem as suas lições antes de perecerem à mercê de tempestades e de furacões que espalharam pela terra as sementes perfeitas para a colheita final.

 

A derrota do bem relativo contra um mal indecente, a seca provocada pelo sol escaldante e a fome impossível de suportar e que levou as pessoas a matar até ser claro para todos que cedo ou tarde chegaria a sua vez.

 

O pano na mão de alguém que se desfez em lágrimas até que a fonte secou, até ao disparo fatal.

 

No dia em que no mundo ecoou o último tiro para a partida final.

05
Mai08

UM AMOR ESPACIAL

shark
Apenas o ruído do vento na folhagem do arvoredo quebrava o silêncio que se instalou de permeio entre o som da paixão que ecoava naqueles olhares.
Ele lia um sinal de partida naquele brilho reflectido, o indicador para o momento certo de avançar com o beijo que imaginava enquanto ela se preparava para o acolher.
 
Apaixonado, hipnotizado, ele viu como que um halo luminoso envolvendo a silhueta da sua amada que, olhos fechados, unia os lábios num desenho que o encantou.
Parecia que levitava, pensou ele enquanto a seguia com o olhar quando ela pareceu elevar-se ao céu.
 
Foi então que ela desapareceu na parte inferior do ovni que a levou, rasgando a noite estrelada com um traço de luz.  
17
Abr08

UNS PASSOS ACIMA

shark
Sentiu-se como um alpinista no final da escalada à montanha mais elevada, no topo do mundo, com todo o horizonte disponível para contemplar.
Como o que aquela janela imensa lhe oferecia, gabinete cinco estrelas, sobre a cidade estendida aos seus pés vencedores, rendida à sua inclusão no grupo dos decisores mais relevantes, toda ela ao alcance do seu olhar.
 
A decoração caríssima no interior daquele espaço conquistado, o reconhecimento do seu valor enquanto profissional mergulhado a fundo nas exigências de uma função. A moeda de troca pelo espírito de missão com que abraçara anos atrás o percurso ascendente numa carreira ao alcance apenas dos melhores.
E agora tinha chegado onde se propunha, anos antes do previsto, o mais jovem a assumir o cargo em toda a história da instituição.
 
Sentou-se na poltrona e percorreu o luxuoso gabinete em busca dos múltiplos sinais do que aquele espaço representava no seu processo de ascensão, menos eufórico e cada vez mais concentrado nos passos a dar a partir daquele lugar que finalmente chamava seu.

Acabou por pousar a vista no telefone de design superior, o seu elo de ligação com o exterior que, infelizmente, o fez constatar que não tinha a quem ligar para poder partilhar a sua alegria patente no sorriso que entretanto, e sem dar conta, deixou de esboçar.

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