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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

12
Jan13

A posta que quando voltar a acontecer dirão que foi apenas um azar

shark

Dificilmente alguém poderá contestar a capacidade e a competência de um domador para treinar animais. De resto, os domadores conseguem criar laços de proximidade extrema com animais selvagens ou mesmo ferozes e espantam multidões ao enfiarem a cabeça na boca de leões sem que nenhum mal lhes aconteça.

Ainda assim, não há muito tempo, o próprio Hugo Cardinalli acabou internado num hospital e os ferimentos sofridos na sequência do ataque imprevisto por parte de uma das suas feras domesticadas acabaram por ser um mal menor, pois sobreviveu.

A criança alentejana que, aos 18 meses de idade, foi atacada por uma fera de estimação numa casa de família teve menos sorte, pois morreu.

 

O paralelo entre ambas as situações é simples: seres humanos forçaram a barra da natureza e entregaram a sua segurança ao pressuposto de que tudo correria pelo melhor, confiando no bom senso de animais perigosos para saberem lidar com situações imprevistas. Contudo, tanto o felino que marcou o domador com unhas e dentes como o canídeo que fincou estes últimos no crânio de um bebé defraudaram as expectativas criadas em torno da alegada eficácia do treino ou da domesticação de criaturas cuja evolução natural ou man made lhes incutiu um instinto predador ou simplesmente agressivo em matéria de domínio territorial.

 

Um leão pertence tanto à arena de um circo como um pit bull pertence à cozinha de um apartamento. Criticar o dono de um cão de raça perigosa por ser incapaz de controlar o animal a todo o momento equivale a criticar o dono de uma metralhadora por esta se disparar sozinha por encravamento do gatilho ou defeito não descoberto no mecanismo de bloqueio da arma em causa.

O problema continua a ser o mesmo: muitos cidadãos comuns são incapazes de prevenir as coisas que só acontecem aos outros quando tomam a seu cargo responsabilidades que envolvam o risco de vida para si e para quem esteja por perto.

Essa é a lógica expressa na Lei quando proíbe os cidadãos comuns de terem metralhadoras ou morteiros em casa e é o mesmo espírito da que não autoriza a adopção de tigres da Sibéria ou de serpentes venenosas como animais de companhia.

 

Quando milhares de cidadãos se aprestam a assinar uma petição para impedirem o abate de um animal que, por incúria dos donos mas também dos adultos que deixaram uma criança entregue a si mesma num espaço sem luz, já se provou constituir uma ameaça para os seres humanos, com base no argumento de que a fera assassina não é culpada do que se passou e pode ser treinada para não repetir a façanha, apetece-me levar o raciocínio ao extremo a ver se entendem a base imbecil do seu impulso salvador.

Se confiam em absoluto na capacidade de treino de um animal que matou alguém, porque não arriscam promover o animal a cão de guarda numa creche frequentada por filhos dos subscritores da dita petição? Seria uma questão de coerência e desmentiria até os que como eu defendem a proibição absoluta da permanência de cães de raça perigosa em casas de habitação e, acima de tudo, nas mesmas ruas onde a minha filha merece circular sem temer perigos mais habituais numa savana.

 

A referida petição pode até ser subscrita pelos mesmos cidadãos defensores dos animais que as assinam contra as touradas ou, ironia, contra o cativeiro de animais selvagens nos circos deste país. Ou seja, podem estar carregados de boas intenções e centrados apenas no interesse dos bichinhos. Porém, ao seu gesto adorável que promove o indulto para um monstro potencial que matou porque o deixaram e não porque quis corresponderá uma ainda maior permissividade legislativa para com as máquinas assassinas (contra factos e números não há argumentos) que nada pode impedir de reagirem como tal em determinadas circunstâncias que, cedo ou tarde, acabarão por se repetir e somarão mais morte e mutilação ao triste registo destes cães que matam mais só em Portugal do que matam os tubarões no mundo inteiro.

 

O resto é folclore mais a ingenuidade e a estupidez tradicionais dos que deixam manipular as suas emoções pelos interesses de criadores abastados e de donos incapazes de aceitarem a evidência de que muitos cães mordem as mãos que os alimentam até ao dia em que são surpreendidos à dentada nas suas ou nas de quem se torna vítima da negligência ou apenas do azar de ir a passar quando a verdadeira Natureza se impõe.

31
Dez12

O esperado regresso do fumo de artifício

shark

O Governo já está à procura de boas ideias para desviar as atenções dos problemas principais e, como quem não quer a coisa, os movimentos de índole pseudo cristã afiam as suas naifas proibicionistas para ajudarem à festa na preparação de um 2013 tão imbecil quanto qualquer ano desta Legislatura já se provou capaz.

 

O tabaco, esse malvado, voltará a preencher as prioridades daqueles a quem interessa mudar de assunto e dos papalvos que compram o politicamente correcto com um entusiasmo tão ingénuo quanto despropositado.

O despropósito reside na asneira do costume: relegar para segundo plano a prevenção junto daqueles que ainda não adquiriram o vício, crianças e adolescentes, para concentrar energias na guerra ao consumo com medidas que visam apenas hostilizar os fumadores que ainda restam.

Imagens chocantes nas embalagens de tabaco, o dito por não dito relativamente aos espaços da hotelaria destinados aos fumadores, aumento do preço com base no agravamento da carga fiscal. São essas as medidas inteligentes do Ministério da Saúde que sabe quantificar os custos provocados pelas consequências nefastas do fumo dos cigarros mas, por outro lado, não nos confronta com os custos provocados, por exemplo, pelos acidentes de viação. Porque não proíbem a condução em vias rápidas para os prevaricadores, não obrigam a pintar imagens chocantes nos veículos nem aumentam ainda mais os impostos ligados aos veículos automóvel? Simples: os fumadores, já devidamente pintados como marginais, são um alvo mais fácil porque a opinião pública alinha na boa com a perseguição a quem está dependente ou apenas aprecia fumar.

 

O risco implícito nesta segmentação dos grupos a combater é o de se tornar num hábito, como a aparente mobilização dos tais movimentos anti aborto, anti casamentos entre pessoas do mesmo género, anti legalização das drogas leves e anti tudo quanto não lhes agrade mesmo que não lhes seja imposto por terceiros, denuncia.

Hoje são os fumadores, amanhã serão os bebedores e depois passaremos aos homossexuais seguindo o exemplo de alguns países africanos. A eliminação sistemática dos transtornos com pernas, por terem escolhas que não agradam à maioria que aplaude a imposição de proibições, serve, sempre serviu, os interesses das lideranças em apuros a quem convêm as questões fracturantes, dividir para reinar, para ninguém se concentrar naquilo que mais interessa nesta altura.

 

O Ministério da Saúde tem ainda muito por onde exibir a sua capacidade para o corte na despesa que os partidos no poder prometeram a quem os elegeu, apenas segue o mesmo critério de todo o Governo paupérrimo: o de apontar baterias às falsas questões para caírem no esquecimento as mais prementes.

 

Até pode dar-me na mona deixar de fumar entretanto. Mas nem por isso passarei a papar grupos.

07
Dez12

A posta que este não é o meu país de origem

shark

Talvez por ter nascido antes do 25 de Abril aprendi a encarar o meu país mais do que como simples local de nascimento mas como uma Pátria. Era essa a educação que nos davam porque era a que melhor servia os propósitos do regime de merda da altura, embora eu tenha aprendido a distinção entre o que implica o amor a uma Pátria e o fanatismo inerente ao nacionalismo exagerado e me acredite capaz de não trair qualquer das minhas convicções por abraçar esse amor que nos incutiam.

Contudo, essa Pátria que amo é uma realidade completamente alheia à que vivo nesta altura enquanto português porque está a ser gerida por gente sem qualquer tipo de semelhança com pessoas que identifico na condição de meus conterrâneos.

E dessa gestão apátrida por gente canalha estão a resultar coisas tão indignas como o absoluto desprezo pela fase terrível que a maioria de nós atravessa.

 

Tempos atrás tomei a desconfortável decisão de me desfazer de um bem imóvel, tentando remediar o impacto da crise no meu quotidiano, não sem antes me dirigir à repartição de Finanças para me informar acerca das questões fiscais associadas.

Nessa altura referiram-me que dois anos depois seria tributado pela mais-valia. Mas, para minha surpresa, constatei à posteriori que seria no ano seguinte ao da transacção que a martelada me atingiria.

Foi mesmo uma surpresa e virou do avesso todas as contas e expectativas para o ano em causa, a ponto de nem ter conseguido reunir a quantia necessária para liquidar o montante de imposto que me era exigido.

Percorri então o calvário do pedir batatinhas e lá fizeram o obséquio de me permitir a liquidação do imposto surpresa (por erro de informação prestada por um funcionário público) em prestações nada suaves quando somadas a outros compromissos assumidos.

 

Um Estado canalha, de má fé

 

Dessa aparente compreensão do Estado perante o mau momento dos cidadãos que o sustentam caiu-me mal a exigência de uma garantia, bancária ou outra, para acautelar a dívida em apreço. Note-se: uma garantia só pode aplicar-se a um bem que a possa salvaguardar e se a pessoa está em aflição por ter vendido esse bem só pode recorrer a duas alternativas: um seguro de caução quase impossível de subscrever ou uma garantia bancária igualmente dispendiosa e naturalmente dependente do estatuto da pessoa em crise junto da instituição. Ou seja, um beco sem saída típico dos presentes envenenados que um Estado de má fé oferece a quem lhe dá os flancos por não optar por uma existência não contribuinte à conta da economia paralela.

 

Claro que não pude obter a garantia em causa e disso dei conta na mesma repartição de Finanças onde antes me tinham induzido em erro mas que, azar, é a da minha área de residência (Sacavém). Que estava tudo bem, interessa é que nunca falhe com alguma prestação, o único problema da falta de garantia será o de não poder voltar a receber reembolso do IRS enquanto a dívida não estiver liquidada por inteiro. A custo, não falhei uma única prestação até à data mesmo sentindo na pele a ausência do tal reembolso relativo às retenções na fonte das quais não posso e até hoje não quis escapar.

Ou seja, nesta fase já me tinham entalado com uma informação errada que implicava mais um compromisso mensal que só me dificultava a vida num momento particularmente difícil.

 

Um Estado sem escrúpulos, chantagista

 

Hoje, para meu espanto, aprendi que vale a pena exigir prestadas por escrito todas as informações prestadas pelos funcionários das Finanças ou gravar as conversas com os mesmos. Aprendi que o Estado é incompetente, é aldrabão e é perigoso quando munido de poderes acima dos que lhe devemos conceder sobre a vida dos cidadãos contribuintes.

Aprendi que esse Estado sem palavra, pelo menos na boca de diversos dos seus funcionários públicos, pode acordar mal disposto e chegar a qualquer conta bancária, individual ou conjunta, e penhorar o que lá houver. E isto com base em alegados avisos prévios que nunca chegam a acontecer: recebi uma carta (que referia ser a terceira) no mesmo dia em que a penhora aconteceu.

Descobri entretanto que, mesmo não falhando com o compromisso assumido de pagamento em prestações, enquanto a situação da penhora se mantiver, enquanto a dívida não for liquidada na totalidade, perderei o direito a qualquer tipo de dedução fiscal.

É essa a chantagem descarada com que o Estado acabou de me confrontar, depois de me induzir em erro com uma falsa compreensão do problema que me permitiu diluir em prestações mensais.

 

Só me falta perceber se os montantes penhorados de várias contas farão a diferença entre conseguir manter sob controlo os meus vários compromissos mensais ou entrar num incumprimento provocado, nem mais nem menos, pelo Estado que se tornou na maior ameaça à nossa existência social, substituindo-se à banca nesse particular.

Mas já percebi que esta gente que se apoderou do destino da Pátria que amo está a transformá-la numa realidade bem distinta de tudo aquilo que representa o sentir português que, como os hipócritas que elegemos tanto elogiam, é reconhecido como solidário nos momentos de maior aflição.

 

E por isso mesmo a partir desta data declaro guerra sem quartel, sob todos os meios que a Lei e a Democracia me concedem, aos miseráveis bandalhos que estão a destruir nos princípios mais elementares a alma da minha Nação.

10
Nov12

A POSTA NUMA VIDA DESPEJADA

shark

Uma cidadã espanhola não suportou a pressão durante uma acção de despejo e suicidou-se, lançando-se da janela. Esse gesto desesperado, infelizmente não inédito, é o último degrau de uma escadaria que se desce aos trambolhões. A banca, inflexível, assume as regras normais de funcionamento do mercado perante circunstâncias excepcionais da existência de pessoas e de nações, mobilizando todos os recursos ao seu dispor em nome de valores que se colocam no patamar superior de uma hierarquia que, na prática, esmaga as vidas de quem comete o supremo pecado do incumprimento.

Os valores de topo são patrimoniais. E perante essa verdade que estas mortes nos gritam, saímos aos poucos de uma espécie de coma induzido e despertamos para uma realidade feita de monstros financeiros que formatam seres humanos ao ponto de estes desprezarem, escudados por uma obrigação profissional, os dramas pessoais dos seus semelhantes.

Números. Lucro ou prejuízo. Sentimentos proibidos num jogo onde não cabe a palavra perder, mesmo que isso implique alguém ter que morrer de desgosto, de aflição. Pessoas. Lucro ou prejuízo. Contratos para cumprir, execução de hipotecas, sem tempo a perder no cumprimento da Lei que protege os interesses superiores, os da maioria do capital que não chora porque não vê. Porque não precisa, escudado pela definição de prioridades que contraria o pressuposto do bem comum que é traído pela soma dos males que o sistema dispara quando chega a hora de se defender.

Parece que mais vale alguém morrer do que abrir os precedentes que possam corromper a afinação do mecanismo cobrador, o bom funcionamento de uma máquina impiedosa e sem margem de manobra para excepções.

Frieza capitalista que se assume terrorista por saber que o medo é um método eficaz. E as forças da ordem avançam como aríetes, mais os legítimos representantes de um poder conferido pela Lei que não protege os cidadãos mas sim as instituições mais sagradas, os símbolos mais destacados de um sistema desenhado para benefício de uma minoria sem escrúpulos. Arrombam as vidas dos que entendem prejudiciais, não cumpridores daqueles que são afinal os valores que nos tiranizam, que aos poucos nos escravizam pelo temor da exclusão social dos que apenas lutam pela sobrevivência.

 

E depois de acossados por todos os meios, sem escrúpulos ou consideração, alguns já nem a força para essa luta conseguem reunir.

16
Out12

A POSTA SEM PANINHOS QUENTES

shark

Os filmes e documentários acerca da II Guerra Mundial e do terceiro reich divulgaram alguns arquétipos das figuras sinistras que o nazismo produziu.

Uma das que primam pelo realismo é a da típica guarda-prisional alemã, sempre uma personagem repelente, autoritária, fria, desumana, capaz de abusar do seu poder sem qualquer espécie de escrúpulo com base na eterna desculpa das ordens para cumprir. É um clássico, de resto profusamente ilustrado e documentado para podermos identificar o tipo de gente que não queremos voltar a ter perto de qualquer tipo de poder, de qualquer ascendente sobre seja quem for.

Esse cliché do autómato humano, de uma criatura isenta de emoções perante a exigência de cumprir uma lei, uma norma ou apenas uma teimosia pessoal, não é uma caricatura.

A falta de escrúpulos das guardas-prisionais da Waffen SS e derivados não é um exclusivo de outro tempo e de outro país. A crueldade também não.

A prova está AQUI.

 

É difícil reprimir o apelo ao insulto perante este tipo de casos que provam existir mais do que uma espécie humana, a que possui algum mecanismo de protecção contra a desumanização e a outra.

Essa outra, que inclui crápulas das mais variadas proveniências, só varia na dimensão da sua repugnante interpretação da existência (a sua e a dos outros) e em função das circunstâncias, da conjuntura em que se podem permitir libertar a besta interior. Vão tão longe quanto mais solta a rédea e maior a fragilidade daqueles que possam dominar de alguma forma.

São pessoas sem um entendimento dos limites do razoável, sobretudo quando nos pratos da mesma balança estão os seus interesses pessoais e os das vítimas potenciais de consciências equivalentes às de um predador faminto.

 

Obrigar uma criança com fome a assistir à refeição de outras crianças com base numa dívida de 30€ contraída pelos pais em plena crise financeira é um crime contra a humanidade e, no meu entender de leigo, deveria implicar uma pena de prisão efectiva a somar à exoneração definitiva em matéria de funções ligadas aos mais jovens ou a seres humanos menos capacitados para se defenderem dos/as canalhas capazes de coisas assim.

É nojento, é imperdoável, não tem justificação possível e deve constituir-se exemplo de punição severa como aviso à navegação para outros répteis quanto à capacidade de reacção da sociedade a estas aberrações.

 

Se não levarmos a sério estes fenómenos de crueldade latente e os expurgarmos de alguma forma, quanto mais a crise nos debilitar mais esta gente sem princípios ou emoções nos poderá ter, qualquer um de nós ou os nossos filhos, nem que por um infeliz acaso do destino, à sua mercê.

25
Set12

A POSTA QUE NINGUÉM VAI ESPERAR SENTADO

shark

Uma das motivações que me levaram a entrevistar o Dr. Mário Frota tempos atrás foi a de ser fácil adivinhar o quanto se multiplicariam, num contexto de crise, os desleixos e os abusos até por parte de empresas e de marcas insuspeitas (por construirem uma reputação baseada na alegada qualidade dos seus produtos ou serviços).

Curiosamente, vejo desenhar-se no horizonte comigo a protagonista, contracenando com uma dessas empresas com um ar publicitário muito chique mas sem produtos com qualidade e resistência a condizer, um filme típico dos que movem o meu ilustre entrevistado e a Associação que em boa hora criou.

 

Por enquanto é só um mau pressentimento, mas se for caso disso logo vos darei conta de mais um produto a evitar. E porquê.

14
Set12

A POSTA WANTED DEAD OR ALIVE

shark

Há cerca de três anos fui assaltado. Roubaram-me um telemóvel caro, para além de que até este episódio sempre achei que valia a pena apresentar queixa para não permitir que aldrabem a estatística, e só por isso me dirigi à esquadra da PSP mais próxima (a menos de 100 metros do local da ocorrência…).

Nessa ocasião tive oportunidade de levar com a primeira demonstração de brilhantismo do sistema, quando o agente que recolhia o depoimento entendeu estranhar o facto de eu, a quem tinham acabado de roubar o telemóvel, não ter de imediato telefonado para a polícia

Ainda assim, porque conseguiria identificar o gatuno sem dificuldade em qualquer lugar, avancei com a queixa formal e fiquei a aguardar o que se seguiria.

Em má hora o fiz

 

Só dois anos depois do sucedido, e quando o equipamento roubado já estaria quase obsoleto, fui contactado pela PSP. Teria que me dirigir a Odivelas, uns bons quilómetros do local onde resido e o crime aconteceu, para ver umas fotos e identificar o gatuno.

Lá fui e lá identifiquei, ficando a saber na altura que desconheciam o paradeiro do meliante e caso não chegassem à fala com o rapaz o processo acabaria arquivado.

Algum tempo depois recebi uma carta que me dava conta disso mesmo: o bandido andava em parte incerta e a partir daí nada mais a fazer.

 

Fiquei desiludido, admito. Mas mesmo tendo que abdicar da justiça fiquei de consciência tranquila por ter cumprido o que achava o meu dever de vítima de tais circunstâncias e por isso deixei cair o assunto sem mais.

Contudo, vários meses passados, voltei a receber uma convocatória para me dirigir à esquadra onde tinha apresentado a queixa no ano de 2009.

Estranhei mas fui.

Queriam apenas entregar-me um papel que constitui um dos maiores insultos com que o sistema judicial e o Estado Português me confrontaram em 47 anos de vida. Tratava-se de uma espécie de intimação para estar presente de novo em Odivelas para fazer nem sei bem o quê, ainda de volta da tal averiguação que me foi dada por encerrada por escrito.

O problema, o insulto, não reside no facto de me quererem voltar a fazer perder horas de trabalho em deslocações a um local sem nada a ver com aquele onde tudo aconteceu, reside sim no facto de nessa espécie de intimação constar uma ameaça de detenção em caso de falta injustificada.

 

Ou seja, fui assaltado a menos de 100 metros de uma esquadra de polícia, o gatuno foi por mim identificado na qualidade sem que isso acarretasse a sua detenção, o objecto roubado já não possui qualquer utilidade ou valor mesmo que fosse possível a sua recuperação, só perdi tempo nas deslocações associadas ao processo em causa e têm a lata de me ameaçar com detenção, a vítima, caso me recuse a prosseguir com uma perda desnecessária de tempo e de dinheiro que ainda agravam o prejuízo por mim sofrido? E querem ser levados a sério?

 

Claro está que me baldei e da mesma forma não reagi a outra convocatória deixada na caixa do correio pela PSP. Posso ser até um foragido da justiça sem o saber, mas assumo a desobediência a esta deselegância disparatada que me torna presa mais fácil do sistema do que o próprio criminoso a quem tentei fazer pagar pelo que fez.

Espero sinceramente que alguém acabe por cair em si e deixe prescrever o assunto ou outra treta qualquer daquelas que vão safando os poderosos, que esta justiça a que não pretendo recorrer no futuro em ocasiões similares me desampare a loja e aguarde outra oportunidade para prenderem alguém (para variar).

Mas se quiserem insistir, terei todo o gosto em usufruir dos meus 15 minutos de fama perante as testemunhas de qualquer tribunal e da Comunicação Social que não deixarei de informar, com cópias de toda a papelada, para que de uma vez por todas acabem os absurdos deste país refém de pessoas inaptas em sistemas imbecis. 

05
Set12

A POSTA QUE DEVIA QUEIMAR-LHES A REPUTAÇÃO

shark

 

verão escaldante

 


Foto: Shark


Portugal está de novo a arder, muitos hectares depois de muitos palpites acerca das causas e da forma de dar a volta ao problema. Ou seja, vários governantes e responsáveis da Protecção Civil enfrentaram a mesma coisa e a coisa ficou na mesma.

Arde tudo quanto resta para arder, excepto a carreira política ou outra de todos quantos deveriam, no mínimo, sofrer a consequência do descrédito que um fracasso destes acarreta para a credibilidade de todos os intervenientes.

Nem as medidas legislativas, nem o investimento em meios, nem qualquer das iniciativas tomadas obteve sucesso e qualquer devaneio nesse sentido está a arder todos os dias de norte a sul de Portugal que as ilhas também levaram que contar.

 

Para uns é a limpeza do mato, para outros é a política para as florestas, para outros ainda é a impunidade dos pirómanos. E ainda há os que se queixem da falta de meios, da própria (des)coordenação do comando das operações de combate aos incêndios.

Mas Portugal continua a arder, pessoas continuam a morrer ou a verem-se privadas dos seus bens e absolutamente ninguém vê sequer o prestígio abalado por tão óbvia inépcia.

Poucos países europeus arderam mais que o nosso nas últimas décadas e não vale a pena apontar o dedo a um clima nem mais quente nem menos húmido que o dos outros: a questão passa mesmo pela incompetência de todos quantos estão ou estiveram ligados às decisões nacionais nessa matéria.

E nessa como em muitas outras, o castigo pelo insucesso que possa abrir a pestana aos sucessores é nenhum. Nem criminal, nem político, nem mesmo em termos de progressão na carreira ao longo da qual podem repetir exibições de incapacidade.

 

Se nas finanças os erros podem em parte, e com alguma boa vontade, ser atenuados pelo pretexto do impacto da crise internacional, quando falamos de incêndios a coisa cheira a esturro sob qualquer ponto de vista.

A cada ano batem-se recordes e a paisagem muda de cor, tal como as vidas de muitos cidadãos apanhados pelas chamas que, na maioria, não nascem de combustão espontânea mas de asneiras imbecis, de actos criminosos sem um enquadramento penal proporcional aos danos causados e à ameaça sobre a vida de quem os tenta evitar ou da incúria que engloba a falta de actuação de quem para tal, supostamente, possui competências.

É triste, é revoltante, é insustentável, esta repetição do mesmo filme em cada Verão que cada novo responsável enfrenta sempre com aparente surpresa, mesmo quando a falta de empenho na prevenção se expõe à luz das labaredas que destroem um país e podem arrasar vários modos de vida.

 

Por isso este filme passado em sessões contínuas sempre que se reúnem os ingredientes essenciais para este permanente churrasco da Nação é um daqueles que todos sabemos e alguns na própria pele, enquanto não for levado a sério o problema jamais poderá ter um final.

E se esse vier a acontecer, depois de tanto arvoredo queimado jamais poderá ser um final feliz.

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