Há notícias das quais temos que esforçar-nos para extrair o sumo optimista de entre tudo quanto nos ocorre de repente quando nos confrontamos com a reacção de chofre.
No entanto, confesso que depois de ter sabido esgotadas as 90 mil entradas para o Rock In Rio, a surpresa com a venda de 20 mil bilhetes para um concerto da Madonna em duas horas, sobretudo considerando que o espectáculo acontecerá a meio de Setembro, foi de facto muito relativa.
De resto já me tinha constado algures que um fã da rapariga tinha esperado nove horas(!) no local onde os bilhetes estariam à venda, o que prenuncia sempre uma enorme enchente nos eventos tão mobilizadores assim.
E se poderia olhar para o copo meio vazio da crise insultada com um despautério de consumo de prazeres à escala das dezenas de milhar de cidadãs e de cidadãos, a ideia que uma primeira análise associaria, posso também olhar para o copo meio vazio da crise fantasma que exibe o rabo escondido quando as notas e os cartões saltam alegremente de baixo do colchão para financiar uma desbunda qualquer.
Há notícias que bem espremidas podem escorrer aumentos dos combustíveis e ameaças de entrada em recessão global displicentemente ignorados pela leviandade dos foliões como, em alternativa, comportarem-se como torneiras de imperial e preencherem a metade vazia com uma espuma tão densa e tão alva que nos enchemos de fé na retoma e nos deixamos arrastar para tais nuvens.
E quando são notícias bem frescas, acabadas de ler, até conseguimos, mesmo num indisfarçável tom amarelo, obrigar a nossa boca a sorrir.