24
Set05
A FOICE EM SEARA ALHEIA
shark
Raramente escrevo algo acerca de política no charco. Percebo pouco do assunto e sinto-nos a todos pouco motivados para o discutir.
Também não é meu costume meter a foice em seara alheia quando acontecem as tradicionais rixas entre blogues (entre as pessoas que os fazem), não só porque o assunto não me diz respeito mas porque existem sempre dados que escapam a quem está fora do convento.
Contudo, hoje vou abrir uma excepção nos dois casos. Falarei de política na óptica das pessoas mais do que das ideias (porque me interessam mais as primeiras, que as originam) e falarei mais de blogosfera e do impacto negativo destas guerrinhas absurdas na credibilidade do que fazemos do que nos aspectos que dão origem a (mais uma) troca dispensável de mimos blogueiros.
E começo por esta questão. Existe uma polémica pública entre o Rogério da Costa Pereira (o Monty) e o Daniel Arruda (o Daniel Arruda). Dessa questão por resolver têm nascido dezenas de palavras e de atitudes nas páginas e nas caixas dos dois blogues representados pelos nossos colegas que citei. E dessas atitudes tem resultado uma série de prejuízos para as imagens dos intervenientes (nada anónimos) e dos respectivos (e muito visíveis) blogues. Concentro-me nestes últimos.
Blogar a sério equivale a desviar horas de atenção diária para a criação e a manutenção de um trabalho público e ao alcance de qualquer pessoa. Acredito que não está ao alcance de muitos aguentar esta pedalada de jornal diário sem vergar na qualidade do que publica. E na estrutura emocional da pessoa que é, por detrás do monitor.
Este clima de peixeirada não me ajuda, enquanto blogueiro. Dou o meu melhor, como os outros, e isso justifica-se porque acredito neste suporte de comunicação. Até pelo calibre do que me é dado a ver. Não gosto de ver dois dos mais destacados blogues da praça protagonizarem uma discussão pública de questões menores que em nada contribuem para conferir seriedade ao seu esforço. E ao meu.
Misturar questões pessoais com reacções intempestivas ou mesquinhas a propósito da actividade blogueira é um disparate. O que sei dos intervenientes neste caso concreto até me permite concluir que possuem capacidade (provada neste meio inflexível em matéria de retorno) e inteligência (desmentida pelo teor autofágico das suas intervenções) para evitarem estas merdas.
Uma coisa são blogues e outra coisa são pessoas. Os primeiros são uma dimensão da realidade que os segundos lhe conferem. Uma visão parcial das pessoas que os constroem, por muito que se abram ao mundo nas suas postas.
O blogue reflecte-nos, no bom e no mau, mas nunca será uma reprodução fiel do que nos vai na alma ou dos contornos do nosso carácter. É que a pressão conduz-nos a erros de palmatória, a medos da exposição, a reacções estapafúrdias que nunca teríamos na nossa vida normal. Torna-nos diferentes, a blogosfera. Nalguns casos para pior.
Eu não sou isento de culpas em qualquer matéria, tenho os telhados de vidro mesmo à mão de semear. Mas não estou a pedir uma chuva de pedras. Quero apenas que a malta recorde a existência dos emails ou mesmo dos telefones para lidar com as dúvidas e os malentendidos que este suporte multiplica. Para não nos expormos ao ridículo a que o excesso de zelo pode acarretar e ao inevitável crescendo das proporções que estas coisas atingem. E nem sou dos que defendem a ideia de que "isto são só blogues". O meu blogue é um retrato muito aproximado do homem que sou, do que valho aos olhos de quem me pode avaliar por esta via e confirmar pelas que se seguirem, como já aconteceu com dezenas de colegas. Levo a sério o que de mim vos dou e preocupo-me com a imagem que transmito do Sharkinho, a alcunha que não me separa do nome que me baptizou.
A blogosfera merece melhor e os que a fazem, também. Como amigo de pessoas por detrás dos dois blogues que me motivaram esta posta, estes minutos da minha e da vossa atenção, só posso meter o bedelho e (nem que seja na pele de alguém que aprecia e respeita as vossas criações) contribuir com o meu quinhão para acabarem de vez com a exposição pública das vossas divergências. Mais vale darem-se ao desprezo, sempre que alguém tome uma iniciativa palerma. Ignorarem a questão.
Ou lidarem com a mesma longe dos olhares de quem nos procura com as motivações mais adequadas. E de quem apenas busca matéria para a cusquice que não nos enobrece ou beneficia de alguma forma.