23
Set05
NESSUN DORMA
shark
Foto: sharkinho
No meu sonho eu não sou o príncipe encantado, apenas defendo os seus ideais. Cavalgo pela praia em busca dos inimigos do reino, olhos postos no mar que me ladeia. De vez em quando enfrento um dragão, dos que ameaçam uma donzela refém. Para treinar a coragem, temerário, aos olhos do adversário. E pelo amor também.
O castelo no cimo da falésia, imponente, revela nas suas ameias as testemunhas das façanhas que não preciso provar. À vista desarmada reluz a minha espada quando a empunho para lutar. Pela causa. E pelas vitórias acumuladas nas batalhas disputadas em nome de um rei que casou e procriou e assim se fez feliz. Por um triz, quando a vida lhe salvei.
No meu sonho sou o cavaleiro mais forte de quantos a rainha abençoou, ilustre guerreiro que tudo conquistou. Sem medo de morrer, leal até ao fim. O primeiro a cravar esporas quando soam as trompetas que mandam avançar o exército de um homem só. Eu, em cima de um alazão, escudo num braço e lança na mão. A galope, rosto salpicado pelas gotas com sal depositadas no areal pelas ondas que ali desmaiam a força que as criou.
Brilham ao sol as armaduras dos que tombam à minha passagem pela margem da baía. Gritos de guerra abafados, silêncios rasgados pelos gemidos de dor. Até ao ruído final. E depois sepulcral, a ausência de som.
Do meu sonho vencedor só acordo no fim.
Mas no teu pesadelo nunca adormeci.