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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

28
Ago05

MON COEUR S'OUVRE À TA VOIX*

shark
amanhecer.JPG
Foto: sharkinho

Só no esplendor de uma aurora encontro paralelo com o nascimento de um grande amor. A luz todo-poderosa que rompe o negro da noite e abafa o céu estrelado numa explosão laranja que nos ofusca, minutos após o sol despontar por detrás da linha do horizonte. Cega-nos, como a paixão. Acelera-nos o coração. Grava em todos os pedaços livres de memória a imagem de um rosto, o cheiro de um corpo ou o som de uma voz. É assim que se apodera de nós, prepotente, sem aviso. Sem trincheira ou blindado que nos proteja da invasão. Tombamos sem apelo nos braços de quem assim nos encantou.

O amor aquece como o astro-rei. E alimenta. Ignoramos a sede, a fome e o frio. Como plantas verdes, como girassóis, seguimos a luz que nos anima e carrega pela vida como um tapete mágico, pura levitação.
Dá-nos uma força tremenda, capazes de tudo para lutar pelo objectivo que os restantes oblitera. Nada mais merece a nossa atenção, nada ouse atravessar-se no caminho de uma violenta paixão. Como uma brigada de cavalaria avançamos para a conquista inadiável de um amor, coragem no limite do desespero. Porque só a vitória se aceita nessa guerra sem quartel.
Sem tréguas, empunhamos o melhor de nós e esgrimimos os argumentos que nos justificam vencedores. Até à cedência total, à perfeição. De um sim entoado com um sorriso apaixonado, do calor transmitido pelo toque suave de uma mão, de um beijo consentido, bandeira branca à nossa investida por um grande amor.

Cada dia brilha mais quando nos ilumina a atracção por alguém. Cada momento uma alegria, sol a pino, cada contacto um arrepio. A pele que nos fascina roçada pela ponta de uma mão. E depois a reacção, em cadeia, arrebatada, dançada como um tango pelos corpos em fusão. Nuclear, energia sem controlo. Mentes ligadas no momento da explosão. Solar, quente e cheia de luz. Húmida como um campo de espigas depois uma chuvada forte, de uma trovoada ao alvorecer.

O amor é mais forte do que a vida e por ele nos dispomos a abdicar do mais precioso dom. Quem não oferece o último suspiro em troca da respiração eterna de quem nos aprisionou no coração? A cobardia não contraria o impulso natural de quem ama, quando em defesa do alvo dessa devoção. Nem mesmo o instinto de conservação, ignorado sem apelo.
Não existe Deus, nem Pátria ou qualquer outra causa mais nobre que consiga imaginar para me sentenciar o fim. Nada acima do amor. Mato e morro sem hesitar, certo da justeza dos meus propósitos e da firmeza das minhas convicções.

O ocaso da vida pensa-se mais sereno na companhia de quem amamos. Sem o espectro da solidão, sem o frio seco de uma alma desprovida de paixão. Com a luz na nossa frente, sempre presente para nos guiar. Carinho, conforto, agora mais perto do momento do adeus. Um até já, pois todos acreditamos na eternidade de um amor verdadeiro. E na saudade dos que partiram antes de nós existe a esperança de uma ressureição do nosso amor, transformado em energia, a mesma que irradia um olhar transfigurado pelo poder da emoção.
A noite, a mesma que borrifa magia com um luar platinado ou com o céu rasgado por uma estrela que cai, é apenas mais uma incógnita no processo de transição para outro paraíso qualquer.
Quando o sol nascer outra vez.

*Saint-Saens, Samson et Dalile, com Maria Callas na interpretação.

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