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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

22
Ago05

NA PELE DO TUBARÃO

shark
barbatanas44.JPG

No dia 14, e embora não tenha assinalado a efeméride, completei um ano de actividade blogueira "do lado de cá". E digo do lado de cá pelo facto de a minha blogueirice ter tido início um pouco antes, na qualidade de leitor/comentador. Um ano a blogar. Parece pouco e até me coloca num grupo de quase caloiros desta cena. Mas o tempo blogueiro passa de uma forma diferente do outro, o da outra realidade que vivemos. Sim, ao longo deste ano concluí que esta é uma realidade à parte, por muito que a arrastemos para o plano analógico com os nossos encontros e jantaradas. A comunidade que bloga construiu laços entre si, relações muitas vezes exclusivamente baseadas na comunicação por esta via. Sólidas, porém.

O tempo passa mais devagar na blogosfera. Uma semana aqui equivale a meses lá fora (o Eufigénio falou disso com a mestria habitual). Anos, se considerarmos que muitas vezes partilhamos com blogueiros informações que nunca confidenciámos a alguém alheio a esta plataforma de comunicação.
Conhecemo-nos (ou à imagem que divulgamos) melhor do que muitos familiares entre si. Não faço ideia do que vai na alma da maioria das minhas tias ou dos meus primos. E tenho uma ideia concreta acerca dos problemas e ansiedades que afligem pessoas que nunca vi com os meus olhos, mas com as quais mantenho um contacto quase diário no âmbito da relação blogueira.

As coisas acontecem depressa na blogosfera. As amizades, as antipatias, os ódios. E os amores também. Entramos na carola uns dos outros, acontecemos nas vidas que reflectimos por aqui. Somos mais próximos do que a maioria dos vizinhos do edifício que habitamos, dos quais muitas vezes nem o nome sabemos. Como aqui, aliás, onde o nick nos distingue dos demais e apenas alguns têm acesso à identidade que, na maioria, nos esforçamos por ocultar. Mas aqui não há hipótese de correr à pressa para o ascensor para evitar o desconforto da viagem em silêncio com as pessoas que moram acima de nós. Aqui não conseguimos esconder por muito tempo as nossas grandezas e misérias, os nossos atributos e as nossas limitações. Sempre de perna aberta para alguém nos avaliar como nós avaliamos todos os outros. Pelas palavras que nos desenham nas consciências de quem nos lê. E nas suas opiniões. Gostamos ou não. Ficamos, com maior ou menor regularidade, ou nunca mais alimentamos o contador de quem por algum motivo não nos agradou. Pelo tema ou por outra razão qualquer. Somos algo levianos na escolha das nossas companhias que blogam.

E isso repercute-se muitas vezes na realidade não virtual. Nas relações que mantemos lá fora, tempo que partilhamos à custa das pessoas que não entendem o nosso vício ou gosto comum. Tempo que nos afasta da outra dimensão que nos compete viver, mas que nos serve cada vez mais de inspiração para umas postas e menos para nos sentirmos vivos e para executarmos bem o nosso papel. No trabalho e/ou em casa, não vale a pena negar, uma generosa fatia da nossa disponibilidade é canalizada para esta vida alternativa. Interessa-nos mais saber como reagiu determinado blogueiro a um comentário que lhe fizemos do que a opinião do gajo do terceiro bê acerca das despesas de manutenção da nossa propriedade horizontal comum. Já me baldei a reuniões de condomínio porque me apetecia mais blogar nessa altura. E acho que fiz muito bem.
Mas talvez não.

Tenho plena consciência do quanto valorizo esta prática blogueira, ainda que assuma algum desencanto provocado pelas mazelas de uns quantos prejuízos e de algumas desilusões. Sei que ao fim de um ano nesta animada fonte de contactos e de partilha de informação, mesmo tendo em conta as curtas paragens motivadas pela inevitável saturação, continuo com vontade de blogar. E blogo o mais que posso, o melhor que o consigo fazer, para justificar a minha presença neste mundo que tanto me atrai.
Preciso de me sentir merecedor de me imiscuir num espaço onde encontro muita gente sem ponta por onde se pegue, mas também recolho o privilégio de me relacionar com pessoas brilhantes e que muito me dão a aprender. Acerca das pessoas e das suas principais preocupações. A verdadeira essência de cada um de nós, melhor ou pior na qualidade da camuflagem, reflectida no que afirmamos nas nossas criações. Criamos pretextos para comunicar, as postas, e cedo ou tarde lá espelhamos o que de melhor e de pior temos para oferecer. Basta ler com atenção e somar as indicações que semeamos, nas caixas de comentários ou nos emails que trocamos. Estamos lá e até desmentimos aqui e além a personagem que tentamos defender, os que enveredam por esse caminho, traídos pelo impulso que nos leva a sermos a verdade nua e crua. A sermos nós próprios, afinal.

Ao longo destes doze meses conheci pessoalmente dezenas de blogueiras e de blogueiros. Nem sei se ainda consigo citar de cor todas e todos quantos já pude, no mínimo, observar de perto e constatar a distância entre a imagem ficcionada e a aparência real. Nunca correspondemos ao perfil. Salvo raras excepções, no aspecto físico, e um pouco mais frequentes na correspondência entre o carácter da pessoa de carne e osso e a sua manifestação virtual.
Pessoas de bem, algumas. Pessoas de bem um nadinha estragadas pela vida, outras. Pessoas de má índole sob a pele de cordeiro que a blogosfera se adequa a vestir. Há de tudo como lá fora. E eu até tenho tido sorte nas proporções, conquistei muito mais amigas e amigos do que rapaziada com tendências mais ou menos hostis.

Por tudo isto continuarei a blogar. Acredito que vale a pena, depois de limadas as arestas do entusiasmo inicial, enfrentar todos os dias esta prova de fogo para o indivíduo que sou e que gosto de me acreditar. O Shark, tão próximo do gajo que vos escreve esta posta que se transformou num monólogo há três parágrafos atrás. Porreiro numas merdas, detestável noutras. Um homem recém-quarentão com amor às palavras e à sua utilidade principal. E com predilecção por pessoas, as boas e as más, o centro fulcral da minha atenção, desde que tomei consciência de mim. As mulheres, sobretudo (não posso esconder), em todo o seu fascínio e com a facilidade de expressão que a blogosfera enfatizou. Mulheres interessantes, pessoas especiais, capazes de transformarem um blogue numa fonte diária de emoções e de exercícios de talento e de capacidade intelectual.

Contudo, aprendi ao longo deste tempo algumas lições. E a mais importante foi a que me ensinou a dosear a intervenção nesta quota-parte da minha existência, a temer o excesso de exposição e as suas consequências. Mal se nota e pouco me importa se efectivamente se notar. Blogo por gosto e não me permito descobrir-me um dia farto ou sem condições para continuar. Pelas repercussões dos exageros que já cometi. E por algumas razões encaixadas no que acima escrevi.

Agradeço-vos o tempo que me dedicaram ao longo do tempo que já passou. Aqui, ali, além ou em qualquer outro lugar. Cada vez mais próximo do homem que bloga sob a pele do tubarão.

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