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Jul05
A POSTA NA PSIQUIATRIA
shark
Foto: sharkinho
Alguém que não faz parte desta comunidade que bloga confidenciou-me que a sua passagem esporádica pelos blogues lhe transmitiu a ideia de que "são quase sempre as mesmas pessoas". De acordo com a perspectiva desse alguém, o ambiente das caixas de comentários (e de alguns blogues) parece o de uma novela fina, para os mais instruídos.
A princípio aquilo caiu-me mal, mas depois dei comigo a analisar uma sequência recente de episódios e tentei ver a coisa sob o prisma de quem está de fora. E de repente dei comigo a perceber que existe de facto um estranho ambiente de aldeia do interior. Isto acontece nos recados que se deixam nas caixas e nas postas e que reflectem a cumplicidade de bastidores entre alguns grupos de blogueiros(as) e nas ligações entre os "habitantes", que acabam por se fechar num círculo onde toda a gente se conhece nem que por interposta pessoa. Aí germinam os ingredientes para a tal permanente novela, talvez a verdadeira origem do fecho de alguma blogosfera ao exterior e de muitos aspectos desagradáveis que a frequência desta comunidade suscita.
Um dos problemas reside numa questão óbvia: apesar de os comportamentos se assemelharem muitas vezes aos de qualquer comunidade fechada sobre si própria (um local de trabalho, por exemplo), os métodos atingem uma sofisticação proporcional ao calibre das pessoas que a formam. E não é de menosprezar a estaleca de quem consegue aguentar a pedalada disto todos os dias, nas duas realidades onde o nosso "substrato" pode manifestar-se, as postas e as caixas (as nossas e as dos outros).
A pessoa que me forneceu o seu ponto de vista imparcial ficou impressionada com o esforço que é exigido a quem bloga. Compreendeu o desgaste que isto pode provocar, acumulando a exigência de postar o melhor de que somos capazes com a de sabermos a todo o instante como intervir de forma correcta no papel de comentadores.
Expliquei-lhe que nem sempre as coisas correm bem, como teve oportunidade de constatar nalgumas postas do charco e nas suas caixas de comentários. Estranhou de imediato as proporções que as coisas atingem neste meio. E tem razão em estranhar. Não são raras as vezes em que dou comigo a agir de forma inexplicável no âmbito da blogosfera, quando analiso essa acção à luz do gajo que sou "lá fora". E admito que me surpreende e preocupa essa divergência, pois denuncia um excesso de envolvimento da minha parte, uma influência perigosa em aspectos da minha personalidade que tinha como inabaláveis. O comportamento de quem bloga demais não é exactamente o mesmo no domínio do real e no do virtual. No mínimo é mais extremado, mais desconfiado e menos tolerante do que no quotidiano exterior a tudo isto.
E essa talvez seja a explicação para a constante suspensão e mesmo para o encerramento de muitos blogues.
Existe uma neurose qualquer associada ao excesso de exposição a esta cena, derive ela das perturbações que o tempo desviado para este fim possam causar ou da tensão que se sente no ar a todo o instante (por exemplo no tom dramático de muitas postas acerca de problemas de merda). Não me excluo deste fenómeno e já contribuí, infelizmente por mais de uma vez, com o meu quinhão.
Mas só não vê quem não quiser, olhando os exemplos das escaramuças públicas mais recentes entre blogueiros de nomeada e reparando nos respectivos desfechos. Mas entre blogueiros menos sonantes essas "guerrinhas" vão acontecendo também e vão desgastando os intervenientes e a paciência de quem não se deixa arrastar para estas palermices e assiste de fora.
Eu não me tenho pautado pela moderação, sempre que me vejo envolvido nalgum conflito de interesses ou numa troca azeda de palavras com alguém. Se isso reflecte a minha impulsividade e a firme determinação de nunca vergar perante "ameaças externas", esta última definição explica por si o absurdo em causa. Aqui acontecem palavras, na maioria proferidas por nicks que na maioria nem reflectem o verdadeiro carácter da pessoa que os utiliza. Sobrevalorizar as disputas neste contexto é um claro sintoma de que faz mal blogar em demasia. E eu, sempre assanhado quando toca a retorquir alguma indirecta (sim, porque a frontalidade é rara nestas andanças), vejo-me afectado e reconheço noutras pessoas a mesma sintomatologia.
Porém, insisto em dar imensa importância a tudo quanto é tolice e até reajo à bruta na pele do ofendido. No fundo, como faria na aldeia se suspeitasse que andavam a falar mal de mim pelas costas...
Já faltou mais para eu chamar a este vício uma doença.