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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

10
Jul05

A POSTA NO SILÊNCIO

shark
igreja2.JPG
Foto: sharkinho

Hoje, um homem desesperado confidenciou-me a sua maior angústia. Tinha conhecido a que julgava ser a mulher da sua vida.
E eu avancei logo: "Porreiro, pá, sorte a tua!"
Mas não, o tipo estava inconsolável. Ao fim de meses de uma relação amorosa com a magnífica, surgiu-lhe a oportunidade que tanto ansiava.
Desta vez calei-me e esperei que ele dissesse mais. E disse.
Disse que finalmente pudera experimentar sexo com ela. "Óptimo", pensei eu em silêncio. "Mas então qual é o teu problema?", continuei eu a pensar.

E ele, coitado, em voz alta o bastante para que todos em volta pudessem conhecer a sua desdita partilhou comigo o âmago da sua tristeza. Correu mal. Tanta promessa, tanta palheta e afinal na hora da verdade não ergueu a fala. Nem o falo.
"Ganda bronca", leu-me ele no olhar.

E prosseguiu com a lamentação, patético, referindo que ela não lhe deu segunda oportunidade. Largou-o da mão e até já anda com um outro que parece não lhe faltar com nada. E eu a tentar serená-lo: "Deixa lá, se calhar foi coincidência...". Na verdade, podia bem ser que ela tivesse percebido nesse instante que não o amava ou coisa assim (às vezes só se descobrem essas coisas nos momentos mais inesperados). Mas ele recusava-se a acreditar, insistia. Dizia-me até que não conseguia esquecê-la, mesmo apesar de ela fornecer indicações claras de que queria mais era obliterá-lo da memória.

O rapaz não queria acreditar numa realidade tão dura e eu não fazia ideia de como o animar. Olhei em volta, em busca de uma solução (sim, porque me dá pena ver um homem humilhar-se dessa forma).
Mas não me ocorreu nada, confesso. E agora sinto-me mal, pois acabei por deixá-lo abandonar a gelataria de Porto Covo (onde estou a curtir o fim-de-semana) sem conseguir dar a volta ao seu desgosto e acabar com a sua obsessão.

É nestes momentos que mais aprecio poder recorrer ao meu blogue para desabafar. Um blogue é uma ferramenta excelente para um gajo despejar as mágoas (como para debitar uns rancores). Eu gosto de ajudar os outros a carregarem a sua cruz, de lhes aliviar os pesos que os atormentam. Mas não sou um santo, nem faço milagres. E isso custa-me muito, nestas situações tão dramáticas.

No fundo, o infeliz ficou a chuchar no dedo mas a culpa não é minha. São coisas que acontecem a qualquer um e quando assim é, há que seguir em frente e partir para outra. Foi isso que consegui recomendar-lhe, quando me fartei de o ouvir. Que partisse para outra, pois a insistência em casos perdidos só pode resultar em agravamento do desgosto que se sente quando se leva uma tampa, sobretudo em tão melindrosas circunstâncias.
Não sei se ele me levou a sério, mas espero mesmo que sim para lhe evitar consequências ainda mais graves da sua alucinação. Um homem não deve, mesmo em situações extremas, abdicar da sua dignidade.
E às vezes, basta alguma contenção verbal e poder de encaixe para evitar vergonhas desnecessárias...

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