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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

28
Fev07

DE SÃO E DE LOUCO

shark
hard rock.JPG
Foto: Shark

Li naquela expressão um desespero abafado pelo orgulho de quem não pode nem quer dar o braço a torcer. Por isso calei a minha leitura e poupei aquele homem à chuva no molhado que qualquer palavra acabaria certamente por constituir.
Limitei-me a olhá-lo nos olhos e a dar-lhe conta de que entendia a sua tristeza e a melancolia com que enfrentava em silêncio as agressões levianas, psicológicas, que lhe infligiam por actos, palavras e omissões as pessoas que mais vulnerável o sabiam.

Sentei-me ao seu lado nas rochas e fiquei calado a partilhar o horizonte onde ambos navegávamos o pensamento. Imóveis na contemplação, fugíamos ambos de nós mesmos e do castigo velhaco da malfadada lucidez.
Os factos que nos doíam, reprimidos dessa forma, anestesiados pelo impacto forte de todo aquele azul e do som poderoso do duelo de titãs que a natureza recriava mesmo abaixo dos nossos pés.
A vitória da paciência, milímetros conquistados à bruta pela passagem do tempo simbolizada pelas ondas que fustigavam sem descanso a terra que tão dura parecia e afinal sempre cedia à pancada sistemática de um elemento de aparência tão macia que até as mãos insignificantes de um homem conseguiam moldar.

A força da persistência contra a teimosia da resistência sem sentido algum. A erosão garantida e a terra envergonhada pela soberba que o tempo sempre cuida de desmentir. Os dados adquiridos que acabam por fugir, que se escapam por entre os dedos tão estúpidos como os rochedos que alimentam a ilusão de capturar ou de resistir, a fúria das marés mais o vento e a gravidade que tudo quanto suba devolve ao chão.
O respeito perdido pelo excesso de confiança, o final da esperança concretizado em mais um pedaço de rocha sólida que o mar engoliu, a areia na praia que afinal é o seu pó.

E eu ali tão só, ao lado de outro homem sem vontade de o dizer. Calados os dois até ao momento de alguém decidir que era tempo de partir para outra etapa na luta pela sobrevivência da fé. Missionários sem orientação.

Levantei-me então e sem me despedir voltei as costas à água que espelhava o céu mais a minha silhueta minúscula, sozinha naquele paredão.

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