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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

03
Mai05

ABERTURA FÁCIL

shark
abertura fácil2.gif

A porta do armário não abriu. Nem a murro. Decidiu então sair sem se barbear. Num Domingo, acabaria por ser questão de pouca monta. Mas acabou por lhe estragar o bom humor com que acordara.

Quase correu para o carro quando se apercebeu da bizarra criatura que se aproximava. Premiu ansiosamente o comando do fecho centralizado, mas nada aconteceu. A pilha acabara ali os seus dias. Teve de aturar a habitual ladainha acerca de factos sobrenaturais e charlatanices diversas que o vizinho de cima, o "bruxo", despejava sobre quem se atravessava no seu caminho. Nessa manhã, o tema incidia sobre sinais premonitórios.
Nervoso, ia tentando abrir a porta da viatura com a chave, enquanto balbuciava desculpas de ocasião e "urgentíssimos afazeres". Só queria livrar-se do maluco. Acabou por partir a chave. O carro ficaria fechado, nessa linda manhã de Primavera.

Meteu-se ao caminho, cuspindo impropérios. Seria um esticão, feito a pé, mas nada o faria perder a sessão semanal do seu desporto favorito. Quando virou, na outra ponta da rua, ouvia ainda o profeta do apocalipse, castigando sem piedade o paciente contabilista do sétimo esquerdo.

A caminhada acalmou-o. Respirou fundo e apreciou a paz que envolvia o bairro. Aqui e além, crianças brincavam felizes. Reparou num menino que tentava sem sucesso despir o blusão. Abordou-o, confiante, para a boa acção do dia. Bem se esforçou, mas o fecho polilon, encravado, não abriu. Ficou, figura de parvo, com a patilha partida entre os dedos. No resto do caminho, o choro convulsivo do petiz martelou-lhe a consciência.

O calor apertava. Decidiu matar a sede na máquina da esquina, com uma lata de sumo fresquinho. Partiu uma unha, somou mais uma patilha perdida entre mãos. E projectou contra a vedação de arame uma lata por abrir.
Rosnou cumprimentos quando entrou no vestiário. Bufava, possesso. Sedento, nem assim se atreveu a tentar abrir a torneira, certo de mais um fiasco nesse dia de cão. Pegou no equipamento e seguiu o instrutor, sem proferir um som. A cada passo, foi concluindo que azar tem limites e auto-injectou-se de precioso optimismo.

O sorriso deliciado pelo vento frio no rosto morreu-lhe nos lábios. Porque diabo se havia de lembrar do "bruxo" num momento daqueles, interrogou-se, enquanto enfiava o indicador na anilha de abertura do pára-quedas...

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