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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

19
Abr05

A POSTA NA FOTOGRAFIA

shark
australian dust storm 12nov02.jpg

O vento, o verdadeiro e não uma qualquer brisa passageira e fugaz, segredava-lhe ao ouvido histórias de encantar. Ela ouvia e sorria, deliciada. E oferecia-lhe em troca palavras que ele espalhava pelo mundo com um sopro avassalador.
Todos os dias o vento tocava-a, sem contudo a conseguir agarrar. No seu coração em remoinho, a insegurança voava descontrolada de cada vez que a sabia próxima dos que lhe podiam deitar a mão. Algo que o destino o privava de concretizar.
E ele bufava a impaciência, agitava-se num temporal, sempre que a imaginava num futuro distante do seu. Longe dela, a revolta, para não a intimidar.

Um dia, quando o vento chegou junto dela para a saudar descobriu-a com um intruso. Era assim que ele o sentia, como uma ameaça, mas nada podia fazer. Ela sorria para o tranquilizar, dizia-lhe que nada mudaria na sua relação. Porém, nesse dia, ela não se interessou pelas histórias que o vento trazia para lhe segredar. Antes ouvia as palavras do intruso, que a seduzia com proezas conversadas e um interesse por ela que a lógica não conseguia explicar.
Posso provar-to, dizia ele, com o vento a uivar de raiva nos cumes das montanhas ao longe. O que mais queres que faça por ti? E ela pediu-lhe que lhe explicasse o mar que não conhecia, aquele de que o vento lhe falava nas suas histórias de força indomável e de vontade de vencer.

Dias depois, o intruso regressou. Com uma fotografia das ondas, mais um leitor de cassettes sofisticado que reproduzia o som da rebentação. Ela apreciou deslumbrada, convencida de que sabia agora do que o vento falava quando a encantava num murmúrio.
Foi então que o vento decidiu reagir. Com um sopro mais forte, carregou desde a praia uma casca de búzio que depositou aos seus pés. E ela apanhou-o e pôs-se a escutar o som que o vento lhe trazia, sereno e distante, diferente do mar revolto das histórias que ela lhe ouvia contar. O intruso sorria, divertido, perante a imagem patética que o vento recolhera para simbolizar o poder dos oceanos. Mas ela não lhe prestou atenção.

E o vento, que muito a queria, exibiu-lhe o mar como o sentia. E no fim ofereceu-lhe uma flor.

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