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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

20
Dez06

OLHOS DESERTOS

shark
arte de talião.gif

Pálpebras abertas à força, os olhos não podiam fugir à realidade que não queriam transmitir a um cérebro cansado da vergasta que a verdade empunhava.
A visão inevitável da razão impossível de ignorar depois, quando a mente processava a informação e concluía um desgosto que a cobardia evitava a custo sob as cotoveladas nervosas da lucidez.

E os olhos abertos recebiam o impacto das imagens a sangue frio, coração apertado pelo terrível resultado do raciocínio mais elementar. A vida a revelar a verdadeira dimensão do problema no focinho de cada hiena disfarçada que lhe oferecia outra dentada numa ferida por sarar.
A mente não conseguia abraçar a hipocrisia necessária para impor aos lábios o sorriso circunstancial e depois todos levavam a mal os desabafos sinceros que atraíam outros animais, predadores, em busca de fraquezas por explorar.

Não conseguia imaginar uma realidade alternativa e pintar cor-de-rosa a parede da masmorra onde aprisionava a sua vontade de ripostar. Amordaçada a boca que silenciava a revolta e os olhos proibidos de lacrimejar, vendados por dentro para filtrar o nojo crescente que lhe inspirava aquela gente que encenava sentimentos de brincar.
E afinal era a sério que doía o desmascarar da fantasia que se diz no instante em que se reabre a cicatriz com o cutelo de uma reiterada traição a um princípio qualquer.

Aquilo que lhe dava a ver o mundo, um cenário hediondo que incitava a fugir perante as bocas a sorrir que lhe mostravam as fauces aguçadas, pouco ou nada dissimuladas, por detrás da primeira fila da dentição. Os rostos da desilusão que frustrava por não ser capaz de a esconder.
A vida a doer em cada episódio da novela sem graça, os contornos da farsa que parecia alastrar como uma epidemia global.

A vitória do mal que se esgueirava pelas janelas entreabertas de quem ignorava os alertas que o instinto produzia, a trincheira que se abatia sobre as tropas que enfrentavam o inimigo de peito aberto, desarmadas, e se viam soterradas pela avalancha de constatações.
Somavam-se caveiras na fuselagem dos aviões imaginários que bombardeavam os mais otários na rectaguarda das suas linhas Maginot.
E os olhos fechados para sempre já não informavam a mente alienada da morte anunciada em cada etapa do calvário social.

O óbito da esperança em cada gesto foleiro, em cada impulso traiçoeiro que suscitava a rapina das emoções alheias. A cedência às tentações mais feias que depois urgia cobrir sob um cândido capote cuja água se sacode com uma mentira piedosa ou um falso pretexto de ocasião.

O milagre da ressurreição da alma envenenada pela mensagem inquinada que anuncia a banha da cobra redentora que se alega professora da arte de sobreviver a um pecado qualquer, imaculado por uma espécie de benzina a fingir. E nem a pior nódoa lhe consegue resistir, perdoada a ofensa pela contrapartida que quase equilibra a parada na consciência de cada prevaricador.

As desculpas de mau pagador que os falsos espertos utilizam para fintar o espanto da razão.

Mas os olhos abertos reagiram e não lhe permitiram ignorar o desencanto do coração.

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