18
Mar05
COMO TE BEIJO
shark
Entraram no apartamento como dois amigos. Riam muito, como sempre acontecia quando a sua relação de vizinhança lhes oferecia uma oportunidade para conversarem.
Mas nesse dia encheram o edifício com o eco das suas gargalhadas, depois de uma surpresa inesperada num momento crucial.
Encharcados, beijo interrompido por um banho frio e inesperado, buscavam toalhas mas também os corpos pareciam reclamar-lhes um momento de procura. Os corpos buscavam o beijo que as circunstâncias pareciam negar.
Quando pararam de rir, o silêncio instalou-se e seriam os olhos a prosseguir o diálogo.
Ele sorriu e arriscou uma proposta que lhe repicava na mente como os sinos de todas as igrejas do mundo, uma loucura.
- Vamos tomar um duche?
E ela, mais surpreendida consigo própria do que pelo arrojo daquele convite, aceitou.
A água quente que os molhava agora era o único som que se ouvia, para além das batidas aceleradas de dois corações. Lavaram os corpos mais as incertezas e as hesitações, sem palavras, apenas os toques suaves na pele e os olhares cada vez mais cúmplices que se trocavam.
Ele tirou-lhe das mãos as toalhas, pousou-as no lavatório e segurou-lhe a mão e puxou-a para junto do espaço que ela preferia. Deitou-a sem pressas, passou-lhe os dedos pelos cabelos e o beijo interrompido recomeçou. Gota a gota. Até lhe encontrar os lábios que procurava e neles afundar o instrumento do seu desejo, a boca desnecessária para falar naquele momento de paixão.
Interminável o beijo, insaciável o desejo, corpo dela agitado, um sismo desenhado na pele pela marca de mil e um arrepios. Até num grito lhe transmitir o momento certo para parar.
E ele, embora pronto para um novo capítulo daquele conto que escrevia com tipografia de ferro em brasa no flanco da imaginação, ergueu a cabeça, pousou o queixo no baixo ventre da sua amante por cima das suas mãos crispadas e deixou-se ficar, por instantes, a seguir-lhe no rosto o rasto sereno de um resto de prazer.