03
Out06
VISTA GROSSA
shark

Entreabre-se nas frestas involuntárias que o obrigam a suportar a luz. A dor no olhar habituado à escuridão. E de repente um clarão, inesperado. Um olhar semicerrado em busca da salvação menos iluminada, um alçapão para o andar abaixo, as trevas mais lúgubres onde pudesse mergulhar a visão.
Procura a cegueira com o desespero de quem nunca viu e receia gostar daquilo que os olhos transmitem, mesmo que lhe doa, masoquista.
Tapa com rigor as provas de amor que se soltam do seu invólucro de múmia, o casulo, esgueirando-se malditas pelos buracos que irrompem e o obrigam a aperceber-se da existência de um mundo exterior.
Armadura de cimento, opaca, congelar o pensamento numa realidade perdida ou num sonho impossível de concretizar. Talvez a luz de um luar, suave, contornos difusos de sombras errantes pelo chão. Assombrado o seu castelo pelo fantasma da princesa nas ameias inseguras que a deitaram a perder.
Recordações enclausuradas na masmorra mais remota, no interior do mais negro e esquecido baú.
A nuvem salvadora que reinstala o breu.
E ele evade-se de novo para o seu centro de detenção.