24
Fev05
A POSTA ERÓTICA
shark
A Hipatia falou do assunto. A Vague falou do assunto. E a Catarina também.
Eu, que não viro as costas a um bom desafio, entendi que a coisa estava a tornar-se num feudo "delas" e que seria importante uma perspectiva masculina no contexto dos postes eróticos de que cada uma delas falou.
E então, senhoras e senhores, o melhor que consegui na minha estreia absoluta no género é o que vos dou agora a ler. Espero conseguir representar dignamente a minha classe. Mas se assim não for, digam. Eu tento outra vez...
Terá sido a luz que se reflectiu no olhar dela, terá sido o som da sua voz. Imaginei-me a tocar-lhe o rosto ao de leve, sem pedir, e a aguardar a sua reacção. Na minha imaginação ela sorriu e pediu-me em silêncio para passar de novo os dedos pela pele cujo toque me agradou.
E eu repetia a passagem, mais suave, mais lenta, com desvios de amante nos caminhos que lhe percorria, que lhe aprendia. E ela, num arrepio, fixava o olhar na minha boca e dizia-me tudo o que eu precisava de saber. O que fazer, depois. Depois de uma mão a aproximar, de a puxar, sem pressa, mais para junto de mim. Depois os meus lábios nos seus e as mãos aflitas, sem saberem para onde convergir naquela imensidão de mulher, que as mulheres tornam-se imensas quando se entregam à paixão.
Depois uma pausa, um instante de silêncio sem saber o que virá a seguir, olhos nos olhos em busca das respostas às perguntas que ninguém necessita colocar. Excepto com o olhar. E os corpos à espera, ansiosos, ofegantes, esclarecidos. Impacientes por uma nova degustação do sabor a prazer. As bocas de novo coladas e as mãos descontroladas na vertigem das sensações.
Os seios e os ombros, o pescoço e as costas, o ventre e as coxas, mais acima, e o calor de um vulcão nos dedos em fogo. E os cabelos na boca, o cheiro na alma e a vontade indómita de oferecer e de possuir.
A roupa a mais. O esforço de contenção, para amainar a emoção e deslizar com graciosidade o tecido na pele e os lábios também, aqui e além. Os primeiros gemidos a beijarem os ouvidos e a certeza absoluta de dois se transformarem num, as contas acertadas com o desejo naquele instante mágico em que o tempo cessa de existir. As bocas à procura do mais incandescente prazer, do gosto daquela pessoa que nos pede como nos dá. O mundo inteiro de uma só vez, no poder avassalador de uma carícia feita faísca que provoca uma explosão. Da cabeça aos pés.
O paraíso logo ali. E eu sobre ela, pernas entrelaçadas, beijos sem parar. E eu dentro dela e os seus dedos crispados e a mais bela melodia no som que uma mulher nos dá nesse momento tão especial. E a vontade de nunca mais parar. De sentir e de observar, de gravar na memória cada pormenor daquela pessoa tão importante, tão próxima, daquele instante precioso que apenas dois poderão relembrar. Cumplicidade bonita na intimidade infinita, para sempre o sorriso de uma estimulante e agradável recordação.
E os corpos que se moldam, ardentes, em novas e cada vez mais agradáveis posições. E as coisas que se gritam para se ouvirem no céu e as palavras que se sussurram, faladas pelo amor que se faz. E a vontade de nunca mais parar.
O abraço apertado quando ambos partimos para o espaço, ao mesmo tempo, e nos sentimos felizes pelo sucesso alcançado, pelo momento desejado de partilha da mais intensa satisfação. Olhar meigo, olhar maroto, a mão que passa pelo rosto, outra vez, e os corpos cansados mas preparados, pouco tempo depois, para reiniciar algo que afinal nunca acabou. De outra maneira, aposta certeira, as ancas dela nas minhas mãos. O amor que ficou por fazer. E eu homem que domina e ela mulher que se deixa dominar. E depois o contrário. Até embarcarmos de novo no foguetão. Ainda melhor, a viagem, ainda mais doce, a aterragem, corpos desfalecidos, molhados os dois pelas marcas deixadas pelo bem que nos aconteceu. A recompensa devida pela entrega total.
Sigo o meu caminho, desta vez. Mas adivinho no beijo de despedida, inocente, a promessa de um reencontro onde a imaginação será figurante e a paixão protagonizará.
A vontade de nunca mais parar...