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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

23
Ago06

A POSTA CO-INCINERADA

shark
lixados tamos todos.jpg
Foto: Shark

Como qualquer pessoa que preste alguma atenção a noticiários televisivos, tenho tido acesso a muitas palavras acerca da controversa co-incineração que volta a estar na ribalta nesta altura.
O problema pode (deve) ser abordado de muitas formas, sobretudo se tivermos em conta as populações que terão de viver com o assunto paredes-meias.
Existe a questão ecológica e nem essa parece consensual. Existe a questão político-partidária e explica o vigor de algumas reacções.
Contudo, existe sobretudo a questão agora levantada em Souselas, nomeadamente a legislação camarária que tenta inviabilizar a decisão estatal, e que concentra para já a minha atenção.

Estes braços-de-ferro políticos nunca são isentos de repercussões, pelo que constituem de precedente. De um lado temos uma autarquia empenhada em rejeitar a solução que a envolve directamente num processo com alguns contornos polémicos e até difusos (e todos sabemos que ninguém pode facilitar em matéria de saúde pública). Do outro temos o Estado (ou o Governo, pois o Estado no seu todo também abrange as autarquias visadas nesta situação) a impor a alternativa que considera mais adequada, tanto na forma como na respectiva localização.
Aqui nasce a razão do meu temor. Depois de ser definida pelo Governo a versão definitiva da co-incineração lusitana, uma das autarquias que albergam os pilares do processo emite legislação que inviabiliza na prática a concretização do que o Governo decretou.
Alguém terá que perder esta batalha. E depois?

Depois temos um Estado enfraquecido na sua capacidade decisória, caso os “rebeldes” consigam efectivamente sobrepor os seus interesses locais aos que a decisão governamental enfatiza. Ou temos um Estado gerido por uma maioria absoluta naturalmente mais arrogante e coerciva na abordagem a este tipo de questões, caso o primado do interesse nacional sobre os direitos desta ou daquela localidade consiga vingar de uma forma ou de outra (como acredito acontecerá).
E resta-nos apenas esperar que a coisa não ultrapasse o campo da ginástica legislativa, pois existem exemplos pontuais de como estas teimosias degeneram em conflitos que resultam sempre em prejuízo do cidadão comum.

Custa-me pender para qualquer dos lados intervenientes na disputa, não apenas porque a informação de que disponho é incapaz de garantir (ou de desmentir) a validade da opção em causa mas também porque me preocupam acima de tudo as perdas que podem resultar de um excesso de zelo na aplicação de medidas tão controversas.
Se a decisão estatal for bloqueada pela tal proibição de circularem veículos com cargas perigosas na zona de Souselas (sem acessos, só por helicóptero) teremos a burra nas couves pelo que isso implicará em circunstâncias análogas no futuro. E se, por outro lado, o actual Governo impuser a sua força, por via legislativa ou pior, teremos aberta a porta para a ditadura da maioria e nenhuma localidade deste país ficará a salvo de decisões enérgicas mas eventualmente erradas que as possam lesar.

Por tudo isto, entendi relevar a evolução do assunto no que respeita a este desafio ao que o poder representa. Decisões, mais do que importantes são inadiáveis no que concerne ao tratamento dos detritos que o país produz. E se calhar a co-incineração até constitui uma opção acertada.
Porém, o simples facto de existir uma oposição tão obstinada à concretização prática do que a legislação preconiza faz pressupor que não se trata de uma opção sem reservas ou ameaças potenciais para quem a terá aplicada nas suas traseiras. É mais sério do que possa parecer, este receio manifestado pela população de Souselas e que constitui afinal a única justificação (e o único sustentáculo) plausível para o endurecer das posições dos seus líderes locais.

Ganhe quem ganhar esta disputa, suspeito que no saldo final teremos todos qualquer coisa a perder.

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