15
Ago06
NÁITE NO LUGAR DE PORTO COVO
shark
Longe vão os tempos do campismo (muito) selvagem no matagal denso diante da Ilha do Pessegueiro. E das maluqueiras refrescantes na fonte do centro da praça. O Rui Veloso cantou bem demais o encanto de uma terra onde agora se pavoneia a roupa de marca em corpos super bronzeados, numa versão miniatura do Algarve multilingue burguês.
Permaneceu a fé mas desapareceram os indígenas, com as casas abarbatadas aos poucos por gelatarias, cervejarias e lojas de todo o tamanho e feitio.
O coração de Porto Covo transformou-se numa espécie de outlet com paredes caiadas, debruadas a azul.
Da magia das noites de Porto Covo, outrora silenciosas e profundas, restam agora pouco mais do que saudosas memórias que uma locomotiva chamada progresso remeteu para o som do esquecimento abafado pelas vozes da multidão que enxameia uma localidade que cresceu depressa demais.
Ainda assim, o apelo irresístivel de uma mão-cheia de recordações intensas de Verão arrasta-me com frequência para esta terra alentejana litoral.
Devolve-me à lembrança o Alentejo. (...) rumando sem passado nem futuro.
Fotos: Shark