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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

25
Jan05

SABER DE EXPERIÊNCIA FEITO

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Nos anos que se seguiram ao 25 de Abril, diversas iniciativas inéditas e impensáveis na vigência do regime fascista foram postas em prática pelo Governo e pela população. Uma das que mais me marcaram foi a criação de um grupo vocacionado para ensinar aos putos como eu em que consistia o planeamento familiar.
Malta nova, os professores, reuniam duas dezenas de raparigas e de rapazes e para a maioria foi ali que se aprendeu a verdade nua e crua de como se fazem os bebés afinal.

Sem vergonhas nem falsos pudores, uma professora e um professor aproveitavam as instalações de uma escola primária do bairro para todas as semanas nos ensinarem algo de novo. Mas o manancial de aprendizagem, para lá das técnicas que permitiam evitar uma gravidez indesejada e algumas doenças venéreas pouco agradáveis, consistia no debate que nos era permitido e onde podíamos colocar sem medos as nos maiores interrogações acerca do sexo. E assim, entre outras importantes lições, aprendi a valorizar a importância da primeira vez para qualquer pessoa.

Sonhei com uma primeira vez muito romanceada (na onda Lagoa Azul), considerando a minha condição de macho (que não é suposto atribuírem grande relevância à coisa). Vetada sem apelo a hipótese de me iniciar com prostitutas (ou de algum dia as procurar), como viria a acontecer a muitos dos meus amigos, fiquei entregue à minha capacidade de convencer uma garota a ceder aos meus arremedos desesperados de adolescente em ebulição. Não é tarefa fácil e Deus sabe o quanto me apliquei nessa missão. Entretanto o tempo passava, o resto da malta desenrascava-se e eu ia ficando para trás nas conversas e nas situações fantasiadas que os viris ‘experimentados’ tinham conhecimento de causa para alardear.

Ingénuo, eu buscava apenas as virgens pois era essas as protagonistas ideais para o conceito da coisa tal como a minha mente saturada de devaneios masturbatórios o definiu. Esse seria precisamente o maior obstáculo à minha progressão na aprendizagem que a liberdade me proporcionou. Embora possuísse uma bagagem teórica que me permitia brilhar perante os que sabiam ainda menos do que eu e tivesse desenvolvido alguns ‘couros’ magníficos para utilização no futuro, depressa a teoria se viu ultrapassada pelos acontecimentos e comigo, na prática, nada acontecia digno de contar ao pessoal.
É impossível participar numa conversa acerca de sexo sem trair, em algum ponto do diálogo, a nossa condição de outsiders, a virgindade que para um rapaz de certa idade podia converter-se num rótulo de homossexual. E eu, ansioso mas incapaz de renunciar à ilusão que alimentava, rejeitava oportunidades de ouro com as vizinhas mais afoitas e arrependia-me. Sempre tarde demais para inverter a situação.

E foi assim que a vida me empurrou à bruta para cima de uma fulana bastante avançada no programa e quase cinco anos mais velha do que eu. Uma conquista embriagada no final de uma noite de farra no pino do verão. Teria ultrapassado esse pormenor e encontraria uma forma de embelezar o importante acontecimento com algumas referências pontuais. Contudo, a enorme bebedeira da rapariga e a minha natural inépcia para a função, testemunhadas na cama ao lado pela amiga dela e por um amigo meu que transavam a sua cena a menos de dois metros de nós, resultariam numa pressão que, hoje confesso-o perante vós, me cilindrou.

A minha primeira vez demorou cerca de três minutos.
Três minutos para mim, pois entretanto descobri que ela, algures ao longo desse período, adormeceu como um anjinho. E eu acendi um cigarro, tentei ignorar a festa do lado, e ali fiquei, algo baralhado, em serena contemplação da minha parceira de estreia, gravando na memória um nome, um rosto de bela adormecida e um turbilhão emocional que jamais esquecerei.

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