A posta na carapuça
Apesar de não ser dos mais antigos nisto das redes sociais, nunca o sou em coisa alguma, já possuo alguns cabelos brancos virtuais. Daí, os acontecimentos vão-se sucedendo, tal e qual a vida lá fora, e uma pessoa vai percebendo aqui e além as manhas, os padrões de funcionamento da coisa. Até ao ponto de quase se sentir em casa, ou no café com a malta, nesta ou naquela plataforma de convívio e comunicação.
De resto, em boa medida as redes sociais parecem espaços públicos como as esplanadas e até importamos algumas das regras de comportamento analógicas nesses meios. Algumas, não todas. A sensação de impunidade de que se queixam os caretas amuados por terem sido alvo da crueldade virtual, com cada um/a a fazer o que lhe dá na bolha mesmo sendo óbvio que o não faria sem a protecção de um monitor ou de um touch screen, espelha-se de diversas formas e acaba por denunciar as falhas de carácter de quem as maquilha nas redes.
É por demais evidente que, ao contrário do que dá jeito divulgar por parte dos/as artistas que se pintam fabulosos, as boas maneiras são uma característica inata da pessoa e transportam-se para qualquer meio de comunicação que, por ser virtual, continua a ser feito por pessoas e estas não passam a máquinas por falarem via teclado.
Ou seja, as redes apenas reflectem a verdadeira essência de quem as frequenta, desmascaram sonsos e/ou imbecis com ainda maior limpeza do que se consegue na tal mesa de café na qual, reprimidos/as pela presença física dos interlocutores, disfarçam melhor a natureza que online descuidam com base no falso pressuposto de impunidade acima mencionado.
Alguém incapaz de superar a sua futilidade lá fora arrasta consigo essa característica, porquanto se esforce por se pintar pessoa complexa e bem estruturada. Da mesma forma, quem não seja capaz de sentir emoções sérias ou respeitar ligações fortes e/ou duradouras na rua jamais conseguirá o contrário na net. Mais cedo ou mais tarde, aquilo que somos é aquilo que exibimos e nem sempre o boneco nos apanha no ângulo mais favorável.
É um facto que só se ilude (ou deixa iludir) quem quer. Os sinais estão todos lá para quem escrutinar os outros como o faz na vida real (a outra presume-se fictícia, dá mais jeito às diversas espécies de acrobatas da personalidade). De surpresa, como em qualquer situação ou lugar, só é apanhado quem prefere não reparar nos pormenores nos quais o diabo se esconde.
E é por isso que nunca me sinto surpreendido quando alguém, por medo, por vergonha, por desgosto ou simplesmente por falta de consideração pelos outros, abandona uma rede social ao fim de anos, sem uma explicação e, na maioria dos casos, sem rasto que impeça esse desaparecimento de se tornar total e definitivo.
É que, no fundo, na vida vivida fora das redes são ainda mais as pessoas malcriadas. E também abundam cobardes e desertores/as.