A posta medalhada
Surpreende-me o tom exaltado que, na maioria dos casos, suscita a minha mania de considerar um fracasso a não obtenção de uma medalha por parte de atletas que, alguns deles legitimados pelos resultados já obtidos, se afirmaram candidatos às mesmas.
Dessa exaltação destaco os pressupostos de que quem está de fora não tem o direito de criticar, pressuposto bizarro, o de que quem critica não entende o mérito dos atletas e o de que, por critérios que não as medalhas, temos a segunda melhor participação de sempre nas Olimpíadas.
Desmontando a coisa: qualquer atleta, seja de um país como a China ou de um como a Etiópia, tem igual mérito por ter conseguido um objectivo só ao alcance de uma escassa percentagem de seres humanos. Depois podemos ou não enfatizar as condições que lhes foram dadas para lograrem um mesmo propósito. Mas isso já são detalhes, neste contexto. Eu sei que seria incapaz de obter tal desígnio, tal como presumo que alguns dos que obtive, embora inexpressivos por comparação, não estariam ao alcance de alguns atletas. Soa irrelevante, esta comparação, e é. Mas é o que está na base da argumentação para me descredibilizarem até no direito à crítica.
Por outro lado, ao longo do tempo que antecede as Olimpíadas, toda a gente sem excepção concentra a atenção num objectivo que é tido como o mais importante no valorizar da participação colectiva nesta competição: a obtenção de medalhas. Em Olimpíadas do passado ninguém se preocupou com as participações honrosas dos não ganhadores mas apenas com a figura de quem regressou medalhado/a. E isso nada tem de errado, precisamente por existirem três realidades que distingo na Olimpíadas: a de lograr a qualificação – nesta todos são ganhadores e já não precisam provar nada seja a quem for -, a de dignificar o país e transcender as melhores marcas pessoais e a de vencer competições ou, neste caso, pelo menos atingir o pódio.
Porque me parece importante concentrar nas medalhas o balanço da nossa presença nestes Jogos Olímpicos? Porque sempre foi, de facto, o instrumento de “medição” do sucesso ou do insucesso das delegações olímpicas na percepção de quem interessa (o grande público e os media). Nesta perspectiva, todos quantos por um lado veneram o cumprimento apenas parcial dos objectivos propostos pelos próprios atletas e por outro criticam a falta de condições que lhes são dadas para conseguirem ir mais além estão a fazer o jogo do Estado se este quiser manter tudo como está. Se temos, aos olhos da multidão e dos critérios que não as medalhas, a segunda melhor participação de sempre, queixam-se de quê?
E este último aspecto deixa-nos conversados quanto ao argumento de que quem não fez nada ao longo de quatro anos para lutar por melhores condições não pode exigir agora medalhas.
Nunca as exigi, mas alguém as prometeu.
E daqui a quatro anos conversamos outra vez.