A posta nos verbos de encher
Virei-lhes as costas porque às tantas quase as senti desleais. Sei agora que não mereciam tal interpretação, tão óbvia me parece neste momento a ausência das culpas que lhes atribuo, sem nexo, quando a vida me atiça para lhe retorquir.
Comem por tabela, afinal.
São, como quase sempre acontece a quem e ao que nos é mais próximo, vítimas dos estilhaços aleatórios de uma espécie de explosão com a qual se marca um momento de viragem. O combate é muitas vezes travado no interior e elas pouco mais podem do que aguardar pela hora de entrarem em cena e cumprirem o papel a que se entregam.
Sem mágoas, sem contas para acertar porque na prática são vinganças e isso elas não conseguem levar a cabo de forma consciente e voluntária.
São, como quase sempre acontece a quem e ao que nos é mais querido, injustiçadas pelas distâncias criadas com base num pretexto tão idiota como os que sustentam todos os afastamentos artificiais.
Senti-lhes a falta, todos os dias sem excepção, e nunca consegui colmatar a sua falta com panaceias de recurso que não passam de estratégias desorientadas por nem se reconhecerem nessa condição. Mas apontava-lhes o dedo enquanto instrumentos do meu desacerto, cúmplices involuntárias do destino que eu próprio ajudei a traçar no finca-pé nos valores que elas sempre me ajudaram a exprimir. Bodes expiatórios de circunstância, nada mais.
Agora, talvez porque me amem até mais do que faço por merecer, quase me pedem desculpa pelas pequenas traições para as quais as arrastei à bruta, forçando-as a serem arautos das minhas múltiplas zangas e indignações.
Algo embaraçado, tento recuperar uma relação sólida, porquanto construída por entre os escolhos que a vida semeia, como minas mais ou menos camufladas, ao longo do terreno que escolhemos pisar.
Celebro convosco a minha reconciliação com elas, as palavras que amo.
E o amor, todos o sabemos, é sempre uma coisa bonita de partilhar.