Existem emoções tão fortes, tão inconvenientes ou simplesmente tão despropositadas que em dados momentos quase nos obrigamos a anestesiá-las.
A vida, sobretudo quando se complica, confronta-nos com essa necessidade absoluta de, no mínimo, aprendermos a dosear qualquer exibição do sangue que nos ferve por dentro e precisamos conter na sua sede de explosão.
E a vida sabe como criar as condições para nos deixar no colo as situações, boas e más, que moldam algo a que se convencionou chamar de experiência de vida ou maturidade ou qualquer outra alternativa ao macaco e respectivo calo no cu.
Tempos atrás entraria em detalhes. Numa primeira fase por acreditar de forma ingénua que isso interessaria a alguém e depois por me ter convencido, de forma imbecil, que a exposição pública seria argumento determinante de entre os que, à época, trazia gente a este espaço.
Agora dispenso-os, tanto pela irrelevância para os outros como pelo respeito para comigo mesmo.
De resto, do quanto os dramas pessoais de terceiros provocam algum tipo de reacção nos chamados seguidores das redes sociais (e eu também visto essa pele) fiquei recentemente conversado em episódio que me ilustrou o quanto não existem atenuantes para os maus momentos, em quaisquer circunstâncias, quase pelo mesmo motivo que leva os bons momentos a não implicarem quaisquer troféus.
Somos aquilo que somos e não vale a pena o esforço investido na maquilhagem dessa essência que acaba por transbordar, bastando uma cedência ligeira a uma ou mais pressões que nos diminuam a resistência e/ou a concentração indispensáveis para conseguirmos distinguir os dias inapropriados para a interacção e lá estamos, de costas no chão, à mercê da implacável punição. E essa pode vir sob a forma de uma consequência negativa na nossa relação com os assuntos como com as pessoas, na vida lá fora como nestes ambientes virtuais que cada vez menos me prendem a atenção.
Por isso nos vemos forçados a limitar ao máximo a informação acerca de quem somos e ainda mais qualquer demonstração das nossas lacunas e fraquezas, sendo certo que dos fracos não reza a história e que em tempo de crise resta de nós muito pouco para oferecer aos outros, nomeadamente no que respeita à sensibilidade, à paciência ou apenas ao saco para aturar dramas alheios ou apenas para tê-los em conta num contexto infeliz de alguém.
Por isso vou aos poucos deixando morrer a minha intervenção neste blogue como, aliás, o faço em qualquer outro meio. Não tenho vontade de dizer demais nem a vida me autoriza a fazê-lo, desarmado que me encontro perante as consequências possíveis de um momento demasiado revelador. E não tenho energia para buscar alternativa (e consolo) na criatividade da ficção que me ofereceria de bandeja um meio de expurgar os meus medos, os meus anseios, as minhas aflições, mas também de extravasar as minhas esperanças, as minhas vontades ou, acima de tudo, as minhas emoções.
Isto para dizer o seguinte, assumindo a aparente cobardia implícita mas que, bem vistas as coisas, não passa de um mecanismo de defesa próprio de quem não quer nem precisa de maçar os outros e estes a mim, nesta fase complexa que preciso de enfrentar com o máximo de solidez: sempre que se imponham pedidos de desculpa meus, é quase certo que implicam igualmente algum tipo de adeus.