A posta que o futuro imediato é uma desconcertante incógnita
Sempre que se coloca a questão de como dar a volta à situação que o país atravessa esbarro numa parede que o raciocínio impõe e dou comigo num beco sem saída.
Em causa está a relação entre a dimensão do problema, nomeadamente do ponto de vista financeiro, e o leque de alternativas disponíveis num cenário eleitoral.
Quando vejo cidadãos mobilizados para as diferentes formas de luta que uma democracia digna desse nome nos faculta entendo perfeitamente as suas razões e, em mais do que um momento, sinto-me compelido a também fazer qualquer coisa.
O problema, e é aqui que de repente me vejo no tal dilema, está na nítida sensação de que derrubar o actual governo (e é esse o mote de todas as manifestações populares acontecidas ou por acontecer) pode confrontar-nos apenas com cenários ainda mais complicados no contexto da aflição generalizada, como o exemplo italiano cuidará de comprovar.
Cruzar os braços é sempre uma opção impossível perante a progressiva degradação do tecido empresarial e respectivo impacto no número de gente desempregada que pode apenas recorrer aos mais próximos para se valer e também a maioria desses sente na pele o efeito da austeridade. O consequente efeito bola de neve arrasta até a geração dos avós para o turbilhão e a em termos sociais o país começa a acumular tensões indisfarçáveis que só não eclodiram ainda como o caos nas ruas porque olhamos para os gregos e percebemos que nem essa hipótese resolve seja o que for.
Porém, todos sentimos que urge fazer algo e com a máxima urgência.
As opções que nos restam limitam-se a males maiores. A desordem não serve. Eleições antecipadas não resolvem. Não há dinheiro e devemos milhares de milhões, pelo que a dependência externa é total e não é realista equacionar a saída do Euro ou a desresponsabilização relativamente aos compromissos assumidos.
Perante isto, o que fazer?
É aqui que ninguém apresenta sugestões minimamente consensuais. Toda a gente consegue apontar culpados e exigir a respectiva responsabilização. Contudo, nesse lote incluem-se os maiores partidos e só uma minoria leva a sério as opções que restam.
Um novo partido, alheio aos já existentes e livre das várias cargas pejorativas, surge no horizonte como a única hipótese no âmbito do sistema democrático que o bom senso recomenda e a racionalidade impõe. Uma alternativa distinta das já existentes, capaz de congregar vontades em torno de um projecto simultaneamente realista e milagreiro, seria nas conjecturas de muitos de nós a aposta ganhadora.
Mas no meio do furor demagogo que a desorientação facilita, quem nos garante que não estaremos a investir numa solução sem pernas para andar ou que, como no exemplo italiano que acima referi, não consiga mais do que tornar-se num estorvo à possibilidade de constituição de uma maioria parlamentar capaz de sustentar uma solução governativa estável?
Como baratas tontas, acabamos quase todos paralisados perante tantas dúvidas (legítimas) e o tempo esgota-se ao sabor dos caprichos de cada um dos países de uma União Europeia refém de si própria e do efeito dominó de uma crise em roda livre, sem o amparo federalista.
Ainda assim, e caso queiramos insistir na democracia como opção (não existe outra), só mesmo através da criação de novos partidos, movimentos de cidadãos e quaisquer formas de mobilização organizada de cidadãos poderemos alimentar a esperança no surgimento de uma nova ideologia com propostas exequíveis ou, no mínimo, de alternativas credíveis de liderança.