A posta num aumento de pressão
No espaço de dias um pai português disparou sobre a cabeça de um filho e uma mãe portuguesa envenenou dois. Estes dois exemplos mais recentes somam-se a outros que sempre chocam a opinião pública e que, para horror da maioria, tendem a proliferar.
Existe um denominador comum em boa parte destes casos e que obriga a uma reflexão séria acerca da forma como a sociedade está a lidar com o problema: a estas tragédias costuma estar associada uma doença mental, a depressão, que tem provocado outros exemplos similares um pouco por todo o mundo.
A depressão é um daqueles problemas cuja visibilidade só parece explodir na sequência dos episódios mediáticos protagonizados por quem, mesmo tendo sido diagnosticado na condição, não teve o acompanhamento devido e acabou por perder por completo o controlo de ideias e de acções.
Fala-se da depressão com a ligeireza de quem pretende justificar tristezas várias ou, quando as pessoas afectadas exibem de forma mais evidente o seu completo desnorte, evitam falar de todo sob o espectro do rótulo de malucos que se cola como um estigma definitivo na imagem de a quem talvez bastasse a medicação adequada para equilibrar a química em desacerto.
A emergência de um plano concreto de acção, até no domínio legislativo, que permita uma intervenção mais directa e actuante por parte dos organismos já existentes no âmbito do SNS, em conjugação com as autoridades policiais, junto de adultos a quem seja evidente a necessidade de tratamentos que quantas vezes se recusam a aceitar, faz-se sentir no quotidiano de muitas pessoas que lidam dia a dia com casos de depressão e respectivas consequências sobre a vida de quem padece e de quem tenta cuidar.
O reverso dessa alteração de mentalidades e tomada de consciência da crescente gravidade do problema será a proliferação destes dramas nas primeiras páginas dos jornais e na abertura dos noticiários radiofónicos ou televisivos.