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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

31
Out12

A POSTA QUE JÁ BASTA

shark

A ver se eu apanhei o espírito da coisa: o Governo acha que está na hora de redimensionar o Estado, o que todos sabemos corresponde a aniquilar o Estado Social de onde mais facilmente se podem amputar recursos para tapar buracos, enquanto a Oposição acredita ser possível, por exemplo, dirigir o cutelo para as tais gorduras cujo peso tarda em fazer-se sentir na balança.

Claro que depois entram em cena as contas e é aí que as vozes começam a destoar, com uns a provarem sem margem para dúvidas que o fim do Estado Social como o construímos ao longo de gerações é a única salvação e outros antes pelo contrário, cheios de fé na gestão das alternativas e de indignação perante o ultraje que a demissão por parte do Estado das suas responsabilidades sociais constitui.

Assim sendo, onde está a dúvida?

 

Parece-me claro que a austeridade é perniciosa para a saúde mental dos políticos de direita, como é normal no abuso de qualquer substância perigosa para a saúde da economia e que ainda por cima causa dependência.

Ficam doidos de entusiasmo perante a possibilidade real de confiarem aos privados tudo quanto possa gerar lucro, mesmo que sob o controlo do Estado pareça condenado a dar prejuízo. E não escondem essa febre do ouro capitalista, essa tentação demoníaca de confiar a vida de todos nós ao funcionamento do mercado que, como é fácil provar, resulta ainda menos do que apostar por inteiro na Divina Providência.

A receita é simples: há bronca nas contas, a culpa é da esquerda (o Sócrates, sempre ele) e da sua insistência em maluqueiras como computadores portáteis para milhares de miúdos sem hipóteses de acesso aos mesmos, reformas, Novas Oportunidades, Serviço Nacional de Saúde tendencialmente gratuito, coisas assim sem jeito nenhum porque envolvem investimento de dinheiro dos contribuintes, do Estado, desviando enormes maquias do domínio privado.

Nesta linha de raciocínio, o Governo não hesita nas contas: corta-se em ordenados, subsídios de desemprego, reformas, investimento público, SNS, Justiça, Educação e investe-se na estabilidade da banca, nas facilidades para as empresas exportadoras, em tudo quanto possa ser desviado para longe das despesas do Estado com o bem estar dos seus cidadãos, nomeadamente dos menos abastados e sem meios para terem seguros de saúde, PPR's e outras opções à intervenção estatal nas coisas que nos interessam. Ah, também não negligenciam a Defesa (de onde pingam uns submarinos e outros negócios chorudos) e a Administração Interna (que não faltem os meios para controlar a turba).

 

Custa a perceber porque ainda há tantos portugueses que se deixam ir no embalo da culpa do Sócrates (ainda que exista, os que lá estão foram eleitos no pressuposto de corrigirem as asneiras do antecessor) e desviam a atenção da inépcia flagrante deste Governo na correcção dos alegados desmandos da governação socialista (a diferença nos resultados está à vista) que foi promessa eleitoral de proa.

Não custa adivinhar que cada dia a mais por este caminho será um dia a menos ao dispor de quem possa dar a volta à situação antes que Portugal e a Grécia se (re)fundam por igual.

28
Out12

SAUDADES DO TINO DE RANS

shark

A anunciada candidatura do mais bizarro híbrido do jet set português à presidência de uma Câmara Municipal pode inspirar-nos sorrisos, pelo absurdo, como pode sugerir-nos insultos, pelo descaramento. Mas pode e deve alertar-nos para o facto de esta iniciativa do bobo da corte poder constituir o primeiro passo para que, por exemplo, os participantes na casa dos segredos comecem a tomar conta das Juntas de Freguesia das suas terras, de assistirmos à propagação de um fenómeno que já se faz sentir em diversas áreas da vida pública e que se traduz na projecção mediática como principal critério de selecção seja para o que for.

 

O Tiririca, como se previa, já está a fazer escola neste país cheio de sentido de humor e vazio de alternativas. De resto, o enérgico Coelho madeirense já tinha apanhado essa onda e agora lá anda, mais a família e amigos, a dar cabo da cabeça ao Alberto João. O passo seguinte, na lógica simples dos famosos que precisam mesmo de dar o litro para atraírem os holofotes, é esta candidatura sonsa de um espertalhão que vai a todas (e a todos?) para rentabilizar o protagonismo, seja ele qual for.

É esse precedente que me preocupa, neste contexto de desorientação eleitoral tão permeável a figurões e figurinhas, e me leva a dar razão aos que pugnam em defesa da classe política.

De facto, o exemplo que me move é uma exibição grotesca de um dos cenários possíveis para o eventual castigo que os eleitores pretendam aplicar ao todo barrado com a manteiga da generalização. Substituir os políticos por figuras decorativas sem qualquer espécie de noção da responsabilidade que um cargo político acarreta, e as broncas não acontecem a brincar nem se resolvem com meia dúzia de larachas, é nada mais nada menos do que uma leviandade descomunal.

 

É certo que sobejam exemplos de palhaçadas governativas e de folclore autárquico, mas uma Democracia digna desse nome leva-se a sério. Se temos que exigir mais e melhor dos nossos políticos, existem mecanismos ao alcance para isso acontecer.

Se entregamos o poder às figuras mediáticas ou aos palradores populistas, em vez de o devolvermos às pessoas capazes e de bem que possam promover a recuperação do país podemos assistir num futuro próximo a um pandemónio que só agravará ainda mais a crise em que mergulhámos.

E abrimos os portões para a entrada de figuras bem menos simpáticas, tiranos oportunistas, que brotam como cogumelos ao mínimo indício do que, na prática e tendo em conta personagens como o tal candidato anti-lojas do chinês, constituem nada divertidos e sempre muito perigosos vazios de poder.

23
Out12

A POSTA QUE O FUTURO ESTÁ A RESOLVER O PROBLEMA

shark

Nunca achei muita piada à mania de impor quotas de participação de determinados grupos seja no que for. Por norma são as mulheres as supostas beneficiadas com essas medidas alegadamente proteccionistas, mas eu não consigo vislumbrar a vantagem competitiva obtida por via desta imposição de um número mínimo de pipis, quaisquer pipis, nos centros decisores onde as pilas predominam.

 

A boa intenção é óbvia e não a contesto nesse plano, é sempre bonito a sociedade preocupar-se com os seus desequilíbrios.

Todavia, questiono os moldes. Impor quotas soa mal logo na parte do impor, como se o grupo beneficiado só pudesse safar-se à força e não pelo reconhecimento do seu mérito.

Se a ideia é dar cabo do humor aos machistas, acho que peca pela base: eles vão sempre olhar para as quotas como um favor às coitadinhas das gajas. E elas vão sempre ter que provar a sua capacidade sob maior escrutínio do que aquele a que é submetido um colega do mesmo ofício ou função.

É aqui que a coisa me parece desvirtuar a tal boa intenção, pois a descriminação pela positiva acarreta riscos como qualquer outra forma de descriminação. Nem que seja pela janela de oportunidade para a inferiorização de quem precise de tais benesses.

 

A igualdade entre géneros, como entre raças ou credos, começa em casa com a educação que é dada e com os exemplos que se mostram para os mais novos seguirem.

E no caso em apreço, tendo em conta os factos que os números traduzem num tempo em que a divisão de tarefas se consolida e a igualdade de circunstâncias se acentua, qualquer homem que se oponha hoje às quotas mínimas para mulheres vai provavelmente evitar que no futuro estas lhe sejam aplicadas.

22
Out12

A POSTA QUE ESTÁ NA HORA DE INTERVIR

shark

Sim, há dias em que a vontade que dá é deixar andar, deixar correr e ficar parado a ver o que acontece e entretanto torcer por milagres ou profetizar um apocalipse em lume brando.

Mas os dias têm o problema de passarem, uns atrás dos outros, e o tempo que passa é tempo desperdiçado quando os problemas teimam em não se resolverem por si. E alguns são como infecções.

E há dias em que a vontade que dá é mesmo a de não deixar gangrenar.

 

O país já começou a despertar para a necessidade de um antídoto para este veneno que nos consome as contas públicas ou privadas, para esta lenta agonia que destrói sonhos, ambições, vidas que tínhamos planeado com base em pressupostos que deixaram de se verificar e agora há portuguesas e portugueses a padecerem de males que julgávamos impossíveis, falência sistemática de empresas e de cidadãos, desemprego, emigração em massa, despejos a toda a hora e a fome (a fome!!!) a romper o véu do segredo quando as pessoas, enfraquecidas, já nem conseguem esconder a miséria da sua condição.

É essa a situação que enfrentamos, todos sem excepção, a cada dia que passa, a cada dia que nos ameaça com um medo qualquer.

 

Depressa percebemos a futilidade dos discursos por parte de quem nos lidera ou de quem parece melhor colocado para a sucessão, a vacuidade das palavras que denuncia a ausência de soluções. Basta prestar um pouco de atenção, apenas a necessária para entender o quanto temos a perder se em cada dia que passa nos permitirmos cruzar os braços e esperar que o dia seguinte nos sirva de bandeja uma reviravolta nas circunstâncias, embalados na mesma apatia que tantos povos já tramou e muitos ainda acabará por tramar.

Depressa percebemos que não basta esperar, à sombra de uma esperança sem alicerces e que a brisa dos factos desmorona a cada dia que passa sem o empenho estender a mão à vontade de mudança para que esta possa acontecer.

 

Está na hora de mudar, a crise confirma esse facto inegável. E não basta olhar para as alternativas como um conjunto de variações de cinzento e acabar por escolher a que estiver mais à mão: é necessário o passo seguinte de aperfeiçoamento da Democracia, a sua reconversão à medida destes dias em que só a participação activa dos cidadãos poderá efectivar, nas ruas, como nas redes sociais, como nas urnas, com a urgência que se impõe.

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