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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

12
Ago12

A POSTA NA ACELERAÇÃO PERIGOSA DE UMA ECONOMIA SEM TRAVÕES

shark

A globalização, uma realidade aparentemente imparável, parece possuir uma característica que se destaca das demais e certamente fará as delícias de organizações e de pessoas poderosas em todo o Mundo: funciona como um gigantesco acelerador de todo o sistema capitalista, impondo ritmos de crescimento tão avassaladores que mesmo empresas de dimensão colossal acabam absorvidas pelas mega-corporações que funcionam quase como uma praga de eucaliptos nos seus nichos de mercado, gerando uma dinâmica que se pode definir como survival of the biggest.

 

O impacto deste fenómeno à escala global, cuja vertente mediática se cifra nas fusões ou assimilações de gigantes multinacionais, poderá estar na origem de dois conceitos, chamemos-lhes assim, que fazem escola há um par de décadas nas empresas de maior dimensão: na área comercial temos a escalada sistemática dos objectivos anuais e no sector produtivo impõem-se tempos-padrão para o completar de determinadas tarefas.

Em termos práticos, os directores comerciais vêem-se obrigados a desenharem objectivos cada vez mais altos e os seus congéneres da produção esforçam-se por conseguir que as suas unidades obtenham os melhores desempenhos em fracções de tempo cada vez mais curtas.

Isto parece lógico, razoável até.

 

Contudo, a realidade prática, a verdade dos factos por detrás do aparente (e seguramente temporário) sucesso desta combinação de automatismos (só as máquinas podem calibrar-se dessa forma) é o culto da frustração imposto aos comerciais que nunca chegam perto da cenoura pré-definida e da falta de brio aos técnicos a quem impõem ritmos impossíveis de abraçar sem perda da qualidade do serviço prestado. E entretanto a pressão vai dando cabo de quem trabalha, adicionada à do medo do despedimento que verga a coluna mesmo aos mais contestatários.

A realidade apresenta-se como a de um processo descontrolado, caótico, que está a definhar à mercê da sua inviabilidade, da sua falta de sintonia com um elemento fundamental da engrenagem: as pessoas.

 

Desde o início, a globalização soou-me, como a imensos economistas e outros estudiosos da dinâmica da coisa, ameaçadora. De resto, não faltam na Ficção Científica os hipotéticos cenários que o futuro pode criar a partir da tendência acelerada de canibalização de empresas por parte da sua concorrência de maior dimensão, com as regras de mercado a privilegiarem os impérios com pés de barro mas cuja voracidade acaba por trucidar tudo à sua passagem, pessoas e valores, sem hesitar em destruir-se enquanto sistema se a operação for lucrativa para os que mais interessam e que ninguém sabe muito bem quem são mas mandam cada vez mais no Mundo.

A crise provoca na globalização um fenómeno semelhante ao de um animal ferido que cego pela dor desfere golpes a quem se aproxima demais, ainda que venha em seu auxílio.

Na cegueira dos gráficos, das cotações, do lucro astronómico exigido a quem tem o seu dinheiro investido nessa máquina infernal, vale tudo para manter o tal ritmo alucinante que está a criar distorções e a pressionar decisores a arriscarem todo o tipo de golpadas, the show must go on, para cada ano representar um xis por cento de crescimento como deve ser.

 

Estão a ser cometidas asneiras com consequências irreparáveis, pelo menos no contexto do sistema capitalista como o conhecemos, com a agravante de ninguém saber o melhor passo a dar a seguir. Cada cabeça sua sentença, mesmo entre os entendidos, com o planeta em suspenso à espera de ver cair o primeiro dos gigantes que vacilam perante uma crise cada vez mais espalhada por contágio a cavalo na tal globalização que também colabora na infecção generalizada de países ou mesmo de continentes nesta orgia de milhares de milhões que se perdem em todo o lado e ninguém parece ser ganhador excepto umas figuras difusas, sinistras, especuladores ou coisa que o valha, e o sistema parece cada vez mais próximo do fim por quanto tentem chutar para canto o espectro de um armagedão financeiro que pode mesmo arrasar a sociedade como até agora a construímos.

 

E nos equilíbrios de forças nivelados por baixo, à escala global acelerada demais, basta uma pequena faísca para queimar o rastilho curto que nos separa de uma implosão como nem a Grande Depressão, mais localizada e sem tantas repercussões externas, representou.

08
Ago12

A POSTA NOS QUE JÁ DEVIAM TER EMIGRADO HÁ MUITO

shark

Revolta-me ouvir portugueses ilustres, ou simplesmente mediáticos o bastante para serem entrevistados por jornalistas estrangeiros, falarem com enorme desdém do nosso país.

Mais do que me revolta, repugna-me esse destilar das fraquezas circunstanciais de uma Nação que acaba por ser vítima do fraco nível das suas figuras de proa que tanta trampa soltam pela popa ao longo do seu percurso privilegiado no país que enxovalham perante os de fora.

Numa fase tão dramática em que até a soberania foi amputada pela gangrena provocada por medíocres que, regra geral, fazem parte da mesma elite que agora insulta o país com o seu desprezo mal contido, cai mal, muito mal, esta sede de protagonismo daqueles que apontam dedos acusadores a uma Pátria que nada fizeram para proteger dos males que a afligem.

 

Uma das regras mais razoáveis do funcionamento das organizações é a que recomenda que os assuntos delicados sejam tratados em sede própria, dentro de portas, e não discutidos na praça pública. É uma lógica fácil e aplica-se a organizações de qualquer dimensão, desde pequenos grupos de cidadãos ao conjunto dos que partilham uma Pátria.

Existe, por outro lado, uma diferença clara entre o impacto negativo do alardear de verdades inconvenientes para europeu ver (e atenção ao tom utilizado) e a mensagem positiva que se pode transmitir a partir dessas mesmas realidades desconfortáveis, transmitindo uma imagem colectiva muito mais favorável aos interesses do país.

Mas não são esses que preocupam os queixinhas (piegas?) mais desbocados, sempre tão deslumbrados com o destaque garantido pela presença de microfones ou de câmaras de televisão.

 

Afirmar o descalabro de Portugal perante os estrangeiros, denegrir a imagem do país ao enfatizar as suas misérias em detrimento das muitas grandezas ao alcance de um povo bem liderado, como este já provou, é impossível de defender enquanto gesto patriota. É um exercício desnecessário de lavar de roupa suja aos olhos de estranhos, de observadores facilmente impressionáveis por estas impressões deixadas por pequenos traidores que ocupam, neste período difícil, posições de (demasiado) relevo e (ab)usam-nas na excitação do momento, sem equacionarem sequer o efeito que as suas palavras (volto a chamar a atenção para o tom) provocam em quem não possui dados suficientes para as interpretar, para as enquadrar num contexto que possa ser benéfico, em termos de opinião pública europeia, para o nosso país.

Estes factos tornam-se ainda mais relevantes, reitero, por serem produzidos por quem possui voz e influência reconhecidas o bastante para merecer tal destaque. E essa voz e influência possuem-nas igualmente na sociedade que em nada conseguiram melhorar mas denigrem sem hesitar quando a oportunidade lhes é, inexplicavelmente, concedida.

 

Com o país tão necessitado de gente de bem que dele se orgulhe e queira acima de tudo libertá-lo da actual condição, revolta-me, repugna-me que os comprovadamente incapazes andem a dar a cara aos de fora como denunciantes de males a que se consideram alheios, preocupando-se mais em sacudir água do capote do que com a imagem já de si fragilizada que a situação financeira sempre implica, para os indivíduos como para as nações, como os gregos já sentem na pele.

E não, ainda não somos a Grécia no grau de aflição.

 

Mas parece ser esse o desejo secreto desta seita sem vergonha, desta elite impostora que tenta desesperadamente, prioridades bem definidas, descartar-se das suas responsabilidades directas ou por omissão no estado de um país do qual só lhes interessa defender uma zona restrita: a periferia apátrida dos próprios umbigos.

03
Ago12

VERÃO QUE PASSA NUM INSTANTINHO

shark

Uma das coisas que mais apetece postar durante a chamada silly season é uma silly posta. Apenas mais um texto que não interesse a ninguém, acerca de algo sem jeito algum, mais óbvio ainda na inutilidade do que os seus antecessores. Não é tarefa fácil, acreditem, a pessoa tentar transcender-se seja no que for e acima de tudo num qualquer ponto fraco, o tal ponto que temos todos imensa dificuldade em ver porque só os camaleões conseguem revirar os olhos no ângulo necessário.

Nem mesmo a visão periférica, largamente ampliada nos indivíduos do meu género nesta época estival, nos pode valer na detecção desse ponto de vista que a própria não alcança.

Resta-nos portanto a benesse da contemplação.

 

Dizem que é uma arte, conseguir falar durante horas sem dizer grande coisa. Claro que nessa perspectiva somos um país de artistas, sempre dotados na expressão oral das melhores impressões. Claro que por escrito tem menos mérito, a pessoa não está frente a frente e por isso evita uma série de constrangimentos que inibem alguns dos melhores papagaios na hora de vestirem as palavras com a magia do som.

A voz é como que o pincel, o cinzel, do comunicador da treta (dos tais que enchem chouriço com um presunto às costas) e produz sempre mais impacto na audiência do que um texto como este, particularmente vocacionado para frustar quem busca uma moral da história, um conteúdo que possa representar a mais-valia que é o imperativo moral de quem prende a atenção dos outros e lhes rouba parte do tempo com a sua intervenção.

Esta é uma silly posta porque estamos no pino do Verão. E toda a gente foi de férias e eu não. 

 

Dizia eu que o calor parece exercer um efeito de dilatação dos globos oculares masculinos, pelo menos os que ainda não deixaram de todo de gostar da fruta por tantas horas investirem no seu próprio visual. A simples ideia de passar horas a olhar para um gajo, mesmo sendo o próprio, já constitui um factor de desmotivação para quem nasce e sabe irá morrer com os olhos cada vez mais esbugalhados pela beleza tão refrescante de muitas imagens típicas do Verão. Mas há gente para tudo e eu queria mesmo era falar de cenas banais como uma silly posta exige ou acabo por me desviar do assunto.

Se a pergunta que vos assola o espírito nesta altura é "mas qual assunto?" temos a coisa bem encaminhada em termos de coerência e uma posta, tal como uma season, pode ser silly mas continua obrigada a respeitar determinados padrões. Reparem como a frase anterior brilha no firmamento da inutilidade, no rococó do palavreado inócuo que visa simbolizar a vacuidade que esperamos encontrar nesta (como em muitas outras) épocas do ano.

 

O fio condutor de um texto como este só pode ser o fio dental, isto ainda a propósito do fenómeno do reviralho ocular que aflige os da minha espécie e que já devem ter percebido nem é problema para ninguém e por isso mesmo despe bem esta posta de preconceitos contra o preenchimento do vazio com doses maciças dele mesmo. Até poderia ser um pensamento giro de filosofar, mas lá está: isso retira à silly posta toda a razão de ser porque belisca a sua essência naquele delicioso refego das nádegas que podem, em casos extremos, conduzir o incauto veranista a um torcicolo difícil de explicar a quem o acompanhe na altura nesse passeio marítimo tão repleto de focos de destabilização do ponto de vista. E essa perda do fio condutor no discurso, esses segundos letais de desconcentração, acaba por estar na origem de alguns conflitos de interesses com quem, por inerência da condição, impõe rédea curta para as vistas largas e não tolera nem perdoa a falta de discrição.

E num momento de desvario isso pode provocar um efeito terrível nos globos oculares do observador por instinto. Falha-lhe nessa altura o instinto de preservação, obliterado em absoluto pelo cruzamento com prioridade num caminho de curvas acentuadas até à colisão frontal com o olhar furioso da sogra que funciona como o candeeiro ou o sinal de trânsito que descobrimos à bruta num dos lados da cabeça distraída com o processamento exaustivo das imagens recolhidas no viveiro do imaginário mais à mão.

E esse já se sabe qual é no Verão, tanta fruta descascada que apetece fazer uma salada para combater a obesidade que tanto deslutra o macho lusitano em função dos padrões estéticos em vigor. 

 

No Verão as pessoas tendem a aligeirar a roupa, as refeições e até as ideias que possam de alguma forma atrapalhar a concentração naquilo que verdadeiramente interessa nessas alturas e que é coisa nenhuma em concreto e montes de coisas só para entreter. A malta precisa de descontrair e não dispõe de qualquer receptividade para os assuntos sérios que deveriam eles próprios alugar um apartamento em Armação de Pera ou no sudoeste da Gronelândia para descansar. E se tiverem que vir à berlinda que sejam rápidos, concisos e de rápida digestão para não adiarem a hora de ir à água que é das mais convenientes para o usufruto da visão melhorada por magia pela luz e pela cor e pelo movimento que as pessoas pulverizam no horizonte banhista do observador mais atento às questões de pormenor.

O Verão é tempo de calor.

 

E eu saio desta posta com a satisfação do dever cumprido, do objectivo alcançado neste esforço de integração por parte de alguém que bloga sem poder contar com a leveza e a descontração de um facebook ou outra coisa assim muito mais estival e sem espaço para encher chouriços a sério no meio de tanto barulho das luzes acerca de tanta coisa imbuída do mesmo espírito deste texto que vos deixo, embaraçado pela simples hipótese de alguém o ter levado a sério a ponto de o ter lido até este triste fim.

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