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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

22
Ago12

O ÚLTIMO COMÍCIO

shark

As palavras cambaleavam como que embriagadas pelo cheiro nauseabundo das ideias exumadas no nexo de uma causalidade arbitrária, predestinada ou não, de uma constante aleatória, que as arrastava a custo pela pista feita palco de danças que todos em volta rotulavam de imenso intelectuais.

Mal se endireitavam, as palavras circunstanciais que se atropelavam pelo desespero de causa, perdida a deixa na memória que restava da história de vida de um péssimo orador, porque eram palavras perdidas, palavras cuspidas no momento de êxtase de um exorcismo qualquer praticado naquele palanque improvisado do qual emanavam uns sons que as palavras dançavam sobre as pernas vacilantes das mentiras que não as tinham para andar.

Piruetas extraordinárias e cambalhotas involuntárias, sem atenção ao ritmo marcado pelo que, à distância, parecia o rufar de tambores na exigência de dias melhores por parte da audiência que escutava as palavras atiradas à parede como barro que não colava porque a parede parecia ter ouvidos e rejeitava também ela, estupefacta, a lógica putrefacta das ideias exumadas da sepultura onde as arquivavam, nas valas (dos lugares) comuns, tantos enganados por apenas alguns que se revelavam agora desastrados com as palavras a utilizar.

 

As palavras tropeçavam sem cessar nas raízes da insensatez plantada mesmo à beira daquela estrada sem fim que se impunha percorrer, naquela terra deitada a perder num jogo com regras a fingir, muito pouco no entanto na cotação dos aprendizes de espertalhão cuja música ecoava em fundo como a banda sonora de uma comédia sem vontade alguma de rir.

O som de palavras desequilibradas pelas ideias desenterradas à pressa para cavarem afinal a própria sepultura, escravas da lucidez que lhes matava à nascença a ilusão da confiança que pretendiam inspirar.

O ruído assustador de um comboio de palavras a descarrilar, carruagens atafulhadas de palavras desperdiçadas na viagem sem regresso a uma terra prometida no baile de uma história encantada onde a música de fundo não deslustraria em velórios, ou mesmo em funerais.

Palavras tristes demais com a sua desdita, na expressão oral que depois era escrita e as envergonhava e parecia que cada ideia as embriagava para as ajudar a esquecer o lado abjecto da sua condição de reféns daquele grupo de artistas, prodigiosos malabaristas de modelos e de conceitos, de planos que pareciam perfeitos quando o barulho das luzes se sobrepunha ao de cada palavra que se expunha ao embaraço daquela humilhação porque a demagogia as transformava numa cacofonia sem sentido algum.

 

Tantos enganados somente por um, o mais convincente no poleiro, tantos atraiçoados pelo poder do dinheiro que comprava aquelas palavras malditas que eram palavras desditas em função do tamanho da ondulação no mar onde o naufrágio já acontecia mas a bordo ninguém parecia saber.

Mesmo quando, à vista desarmada, já mal se avistava o último salva-vidas ao dispor.  

20
Ago12

A POSTA NUMA FICÇÃO BUÉ DE UTÓPICA

shark

Como não me canso de referir, sou um apreciador de Ficção Científica desde tenra idade (na Idade da Pedra, mais coisa menos coisa). Gosto de perceber aquilo que preenche as expectativas dos visionários (na maioria dos casos, a FC aborda os amanhãs que disparam canhões de plasma e recorrem a transporte público de moléculas), como a ingenuidade da famosa série Espaço 1999 que previa uma colónia na Lua e afinal treze anos depois resta-nos a euforia de um laboratório com rodas na superfície marciana.

 

Os marcianos foram, de resto, os primeiros vizinhos imaginários predilectos dos autores de FC e o estereótipo mais duradouro de um ET ainda é a criatura pequena e cinzenta, com bracinhos e perninhas e uns olhos a lembrarem em simultâneo os de um ursinho de peluche e os de um tubarão bebé.

Marte assumiu, no lugar do nosso satélite natural (um rochedo seco e esburacado que nem foi preciso visitar para o descartar como habitação viável mesmo para os marcianos), o papel de palco para as primeiras conjecturas acerca da existência de vida noutro calhau que não o terceiro a contar de um sol que nem é dos mais impressionantes que hoje sabemos existirem por todo o lado que a vista telescópica alcança quando perscrutamos o céu.

 

Porém, o conceito de to bouldly go where no man as gone before (um plágio descarado dos Descobrimentos portugas) acabou por alargar o espaço abrangido pela imaginação dos criadores de FC e os marcianos tornaram-se desinteressantes perante as criaturas vagamente humanóides mas sempre calmeironas e a popular mistura homem/réptil sempre tão bem sucedida na inspiração de terror que a corrente mais pessimista, a do ET mau como facadas, com os instintos expansionistas de uma Rússia ou de uma China e armamento absolutamente devastador que ameaçavam com uma acção de despejo hostil os inquilinos desta esfera azul carregados de problemas de consciência pelo seu comportamento belicista.

De repente, a vida para lá da Terra adquiriu o colorido próprio da variedade possível em tanto Universo para explorar e os seres alienígenas pareciam provir de uma espécie de ilhas Galápagos da imaginação. Tivemos até um táxi nova-iorquino que se transformava (sim, um Transformer…) num ET de lata cheio de armamento para nos defender de outros veículos automóvel mutantes.

 

A agressividade dos extraterrestres da FC, num crescendo que acompanhava o passo dos receios que a Guerra Fria instigava nos autores, inspirou muitas versões de holocaustos possíveis com origem mais externa do que a Cortina de Ferro mas a perda de popularidade do Super-Homem e dos presidentes americanos a braços com os seus múltiplos vietnames foram confiando a cidadãos comuns a tarefa da defesa do planeta, sempre coadjuvados pelos marines que permitiam as continências aos heróis civis (sempre muito cinematográficas) e a exaltação do poderio militar que, com um arsenal diabólico de armas nucleares, passou a poder derrotar todo o tipo de invasor e respectiva tecnologia (como clássicos da estopada como o Independence Day tão bem ilustram) e ainda lavou mais branco a imagem nuclear com a eficácia atómica na luta contra a queda de meteoros do tamanho do Texas (que é maior que Hiroxima e Nagasaki juntas), no disparatado pseudo épico Armaggedon.

 

Mas nem só na quantidade e variedade dos seres de outro mundo ou nas motivações dos maus da fita a FC sofreu mutações. Outra alteração significativa dos tempos mais recentes foi a entrada em cena do pontapé na boca alienígena dado no feminino.

As heroínas capazes de enfrentarem monstros a sós mas com a mesma eficácia da melhor unidade militar vieram para ficar com a Sigourney Weaver à prova de aliens e já reúnem, em simultâneo, a capacidade de despejarem balas de metralhadora em seres de aspecto aracnídeo (mas com ares de serem construídos em peças de lego) com a inteligência superior à dos companheiros de luta masculinos.

É o caso de uma moça, Samantha Carter, que protagoniza um dos membros do SG-1, uma unidade militar terrestre que combate as tais peças de lego mais uns mistos de homem com réptil (uma tentação) e ainda arranja soluções para ET’s feitos de nevoeiro numa popular série do canal MOV que muitas horas já me consumiu.

A Sam é oficial da força aérea, preparada para o corpo a corpo contra os invasores das estrelas ou para o téte a téte cerebral com uma máquina xpto com uma válvula fundida que só a brilhante cientista guerreira consegue consertar.

E tem a vantagem (certamente alienígena, embora a série não esclareça) de ser casta e pura e nunca ceder aos impulsos machos do seu trio de parceiros no combate ao crime de quererem reduzir-nos a pó em cada novo episódio.

 

Mas o desafio mais sério colocado aos espectadores de Stargate SG-1 está em aceitar um McGyver (Richard Dean Anderson) mais entradote e que substitui os explosivos feitos com pastilha elástica pelos outros mais a sério e até é homem para destruir hordas de extraterrestres armados com coisas que disparam raios de luz equipado apenas com armas de fogo convencionais mas montes de certeiras e mais eficazes do que as fisgas improvisadas pelo jovem herói agora cinquentão que funciona como uma espécie de Francisco Louçã do grupo, ao ponto de abandonar de forma voluntária as cenas de acção nos últimos episódios da série, por manifesta incapacidade do público para vislumbrar a energia e a irreverência da juventude naquele olhar martirizado e no discurso desajustado, como é normal nos guiões de ficção cujos protagonistas e respectiva intervenção se arrastam por tempo demais.

18
Ago12

A POSTA NO PODER SEM AÇAIME

shark

Chamam teorias da conspiração a todas as acusações por parte de muita gente com credibilidade e argumentos relativamente à actuação de Estados (ditos) democráticos no que respeita ao exercício do poder, nomeadamente pelos abusos cometidos sobretudo em nome da segurança, da estabilidade que não passa de uma paz podre que muito interessa aos mandantes do mundo inteiro.

Muitas dessas acusações põem em causa as motivações dos governantes, cada vez mais suspeitos de alimentarem verdadeiras réplicas das cortes feudais à custa de um fenómeno crescente de corrupção, de compadrio, de alianças de conveniência supra-partidárias e nada ideológicas que visam perpetuar o esquema de manutenção de uma elite intocável.

Quando alguém se destaca da multidão que prefere organizada em rebanho, o poder reage como um cão pastor e recorre aos meios colocados ao seu alcance para defender os cidadãos das muitas ameaças que uma sociedade produz. Esses meios, polícias de todo o tipo e a Lei devidamente aligeirada na interpretação por juízes com imensa flexibilidade na coluna vertebral, são afinal utilizados sem hesitações contra as próprias populações que os sustentam.

Um trio de exemplos recolhidos de diferentes pontos do planeta confere outra cor às tais teorias da conspiração: a caça impiedosa a Assange, a condenação vergonhosa das Pussy Riot e a chacina odiosa dos mineiros em greve na África do Sul.

Se as consequências dos três episódios diferem pelo grau de tragédia dos mesmos, as motivações reúnem-se em torno de um perigoso paralelo, de um ponto em comum que é o de constituírem reacções do poder a actos de revolta de pessoas com coragem para lutarem por convicções ou apenas por desespero de causa.

 

Assange rima com revenge

 

Assange colocou a cabeça a prémio no dia em que ousou desafiar alguns pressupostos que constituíam vacas sagradas da apatia generalizada que tanto agrada a qualquer líder nacional por o poupar a beliscadelas na imagem heroica que, de uma forma ou de outra, sempre tentam impingir.

Só como verdadeiros salvadores de pátrias conseguem legitimar todo o conjunto crescente de privilégios que parasitam, tantas vezes com tanta voracidade que acabam por destruir nações inteiras, as suas e as dos outros e por isso reagem por instinto com a força mais à mão.

Para o australiano mais temido (odiado?) por governantes com esqueletos nos armários estão a ser mobilizados todos os recursos de vários Estados, com o nítido intuito de silenciarem um indivíduo, ajustando contas, e de dissuadirem por tabela os restantes candidatos à repetição da façanha.

 

Free Pussy!

 

Um raciocínio idêntico terá presidido à gigantesca farsa judicial que culminou com a condenação pesada para a irreverência de três raparigas russas, inevitável como sinal do poder (ainda muito) soviético cujo rasto de prepotência tresanda mesmo a totalitário e sem tolerância para com qualquer tipo de contestação.

O mínimo que as jovens poderiam enfrentar seria mesmo a prisão, destino diferente do imposto a diversos jornalistas e outras figuras da oposição mas igualmente paradigmático do aviso à navegação que os poderosos sentem necessidade de emitir para evitarem males maiores que, na perspectiva de qualquer tirano ou tiranete, são o perigo de contágio das ideias mais rebeldes.

Foi a rebeldia das Pussy Riot que as tramou e não qualquer das acusações de treta com que as privaram do estatuto de preso político que Putin jamais lhes reconheceria.

E nem o tribunal escapa à suspeita de ser movido por cordelinhos invisíveis a partir de um Kremlin que se esforçou (mas pelos vistos não conseguiu) por não transformar em mártires de uma causa as artistas que apanharam um ano de pena por cada um dos tomates que exibiram aos russos de todos os géneros e às alimárias de todo o Ocidente que se deixam dormir enquanto as suas democracias descambam aos poucos para a mesma privação de liberdades por amor à estabilidade governativa de cada figurão instalado num pedestal dos que o poder constrói.

 

Por terrenos minados

 

Por fim, o extremo desta corda que ameaça partir entre populações cada vez mais desconfiadas e insatisfeitas com as lideranças que lhes tocam na rifa e estas últimas, cada vez mais descaradas no leque de abusos a que se permitem mais os favores que pagam com a sua permissão.

O massacre sul-africano, ao nível do que de pior o apartheid produziu, constitui-se exemplo da derradeira etapa de perversão dos valores e das obrigações dos líderes políticos, mais violentos quanto financeiramente mais relevantes os interesses a proteger.

A polícia atirou a matar quando podia recorrer a outros meios e esse tipo de decisão nunca é tomada sem ordens superiores. Em causa estava uma mina de dimensão mundial e uma empresas britânica sem tempo (que é dinheiro) a perder com a contestação que de imediato foi rotulada de ilegal e o presidente da África do Sul deixou bem clara a sua intenção de pôr um fim ao prejuízo em causa.

Foram mais de 30 os que conheceram o fim sob as balas de agentes da autoridade às ordens de um Governo que deixa claro que as ordens são para executar.

Correm mundo as imagens da execução de mineiros armados com varapaus e catanas com as quais fica mais uma vez bem clara a inexistência de limites para o uso da força, mesmo numa democracia de tom mais ou menos ocidental, dependendo apenas da relevância da causa, da dimensão do interesse ou do estado de degradação dos regimes a (des)proporção das reacções do poder às ameaças a si mesmo.

 

Perante exemplos tão flagrantes e aos quais se somam os excessos visíveis cometidos por quem manda no que é de todos mas parece propriedade apenas de alguns, os autores das teorias da conspiração soam menos... malucos.

Já aqueles que os ignoram ou tentam desacreditar, antes pelo contrário.

15
Ago12

JUÍZO FINAL

shark

A razão deu consigo aprisionada, para sua própria protecção. Deslocada para um espaço livre da perturbação que se apoderou daquele mundo interior. Vigiada a todo tempo como se fosse valiosa, algum tempo depois, quando algo lograsse a estabilização daquele lugar.

A razão tentava entender, como lhe competia, tudo o que estava a acontecer e não conseguia porque a loucura a galope na pressão demasiada espalhava informação que deixava desorientada a razão agora detida, para sua própria protecção, num derradeiro bastião de lucidez.

Cercada pela insanidade que acreditava temporária, a razão que restava era mantida isolada do caos que reinava em seu redor e que contagiava raciocínios até não fazerem sentido algum. Mas o sentido era único e obrigatório para a razão que de outra forma perderia a razão de ser, perdia o estatuto de fonte permanente de um saber mais organizado, quiçá mais controlado do que aquele pandemónio instalado no centro das emoções, em todo o lado, o pensamento arrastado para um ritmo impossível de processar em tempo útil para evitar decisões desastradas, iniciativas tresloucadas que a razão jamais poderia tolerar.

Porém, a razão parecia já não mandar e o controlo estava entregue a uma espécie de anarquia, pelas palavras que produzia e pelo comportamento anormal de tudo o resto que não a testemunha estarrecida, a razão que estava detida para sua própria protecção, perto da cabeça mas distante do coração demasiado acelerado nas curvas, salvaguardada do acidente inevitável que tamanho desnorte iria certamente provocar.

 

A razão não podia arriscar a sua integridade, era a última oportunidade de inversão para um rumo infeliz, para um regresso à lucidez infiltrada na multidão desorientada de fogos de artifício mentais, de pensamentos prejudiciais à estabilidade de todo o sistema.

Tentou ponderar um esquema de recuperação do poder, a razão forçada a aprender uma nova linguagem para a comunicação com toda aquela confusão que reinava onde a ordem deveria presidir.

A razão não podia deixar fugir nem mais um pedaço de si, já fragilizada pela força utilizada na sua providencial detenção, o presídio como salvação da lógica esgotada de argumentos, dos valores tão obsoletos que mais pareciam adequados à exposição num museu, da derradeira resistência à voz de uma consciência revolucionária, de uma insanidade que julgava temporária mas insistia em perdurar sem a razão conseguir criar os limites necessários, as barreiras que impediam os impulsos mais temerários de irem longe demais, para lá do território cartografado nos arquivos do conhecimento empírico e fora do alcance dos mecanismos de controlo impostos pela razão cada vez mais impotente e à mercê daquele motim.

 

A preocupação já não pensava assim, aparentemente aliviada da pressão pelo efeito da loucura que se apoderava aos poucos do juízo que restava e dessa forma baralhava por completo o raciocínio antes insuspeito daquela a quem competia a primeira linha de defesa contra as ameaças do exterior.

Parecia querer demitir-se das suas funções, livre das preocupações que a justificavam, relegada para segundo plano onde seria figurante na balbúrdia que as forças de segurança da razão tentavam a custo impedir de ultrapassar as fronteiras do senso comum, à solta num ambiente que era terreno hostil para a razão sem reforços nem protecção para lá daquela jaula onde não podia voar como os pensamentos enlouquecidos, como os humores descontrolados que tão má imagem forneciam de uma razão condecorada por tanta ameaça evitada no passado pela razoabilidade sua intervenção.

 

A razão, prisioneira da sua condição, observava à distância (como aconselhava a prudência) e percebia, aos poucos, que os sãos e os loucos já conseguiam conviver com a insanidade a prevalecer, enraizada ao ponto de parecer natural aquela loucura cada vez mais global que a razão, aprisionada numa masmorra de solidão, adivinhava vencedora a menos que acontecesse um milagre qualquer.

E esse conceito a razão nunca conseguiria entender, quanto mais acreditar...

14
Ago12

A POSTA NO VIDRO DO CARRO DA TUA SOGRA, PALERMA!

shark

Existem uns autocolantes amarelos que podemos colar nas caixas do correio para assinalar a nossa intenção de não deixar atafulhar a caixa com as inevitáveis lembranças dos nossos amigos dos supermercados e das caixilharias de alumínio.

A ideia é permitir ao cidadão comum uma palavrinha a dizer quanto ao abuso na papelada num espaço que é seu e pelo qual até deve dizer a última. Faz sentido, por muito antipática que soe aos distribuidores de folhetos e similares em particular e aos publicitários em geral.

Então eu, proprietário de um veículo automóvel, devo ou não ter igualmente algum tipo de legislação, um selo para o vidro ou coisa que o valha, que garanta o mesmo direito consignado quanto à caixa do correio no caso dos limpa pára-brisas do carro?

 

A chuva de Verão é a cereja no topo do bolo em matéria de exibição do absurdo da publicidade escarrapachada nos vidros dos automóveis, nessa altura transformada numa pasta que deixada a secar quando regressa a bonança, acaba colada e difícil de limpar.

Contudo, essa iniciativa publicitária de eficácia duvidosa e por norma associada a negócios geridos por amadores implica ainda um aumento significativo do lixo provocado pelo aumento de papéis amarrotados no asfalto, completamente inúteis e na maioria arrancados em fúria pelos condutores que nem a vista passam pela mensagem que o anunciante burro pretendia divulgar.

É uma fonte de irritação permanente e em casos extremos (quando por exemplo aproveitam o vidro traseiro e a pessoa só repara em andamento) pode até comprometer a segurança na condução.

 

Esta forma de publicidade constitui para mim um abuso ainda maior do que o implícito no recurso à caixa do correio a que a lei entendeu pôr cobro, pois se a uma caixa de correio ainda se pode alegar a fragilidade na argumentação inerente ao facto de ser um receptáculo destinado a mensagens externas, no caso do vidro de um carro nem essa característica se pode invocar.

É uma pura e simples estupidez, tão estupidamente óbvia na ineficácia que não consigo lembrar, sem nomes ou referências de localização, mais do que umas clínicas dentárias barateiras, uns restaurantes orientais com entregas ao domicílio e umas seguradoras telefónicas. Isso mais os fulanos que compram qualquer carro usado, mesmo sem inspecção...

 

Considero abusiva essa utilização do meu carro estacionado como veículo publicitário não autorizado e não entendo a dualidade de critérios expressa na permissividade quanto a esta distribuição de lixo em propriedade alheia por contraponto com o espírito da lei que criou os tais autocolantes amarelos.

Trata-se de um abuso e como tal deveria ser liminarmente proibido porque viola regras elementares de bom senso e porque, extremando a coisa para lhe perceber a natureza, constitui-se precedente para um dia os distribuidores de panfletos em vidros de carros começarem a olhar para os óculos das pessoas com uma expressão gulosa e que nada prenunciará de bom.

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