Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

10
Jul12

A POSTA QUE APRENDEMOS SEMPRE À NOSSA CUSTA

shark

Na minha actividade profissional de agente de seguros acabo por ter contacto directo com uma faceta da realidade empresarial portuguesa que explica alguma da sua debilidade perante esta crise ou qualquer outra.

É arrepiante perceber a quantidade de empresas sem seguros facultativos como o das instalações ou mesmo obrigatórios como o de acidentes de trabalho.

No fundo, o empresário português típico é uma pessoa de fé. Se a coisa corre bem compra o tal BMW em leasing e se correr mal, logo se vê

 

O exemplo dos seguros, que é porreiro porque estou na minha praia, apenas ilustra uma forma de estar sem rede que requer muito equilíbrio. Se um empreendedor entende que nas suas preocupações os seguros são coisa secundária acaba por entregar o futuro da sua iniciativa aos caprichos do destino, o que explica como de repente quase toda a gente parece ter sido apanhada com as calças na mão, mesmo no meio de uma crise em câmara lenta como nunca vivemos uma.

A malta acha sempre que vai correr tudo bem. Da mesma forma que acreditam piamente que aquilo do euromilhões é mais uma questão de tempo, também confiam na mesma conjugação astral favorável para darem emprego a uns quantos desgraçados que não vislumbram, por entre a fezada de terem um posto de trabalho, o quanto abraçam a mesma política do logo se vê quando nem por curiosidade tentam perceber se existe um seguro para lhes valer se tiverem um acidente no exercício das suas funções.

 

Parece coisa de somenos importância, mas acaba por ser uma forma de precariedade quase tão clara como a de um trabalhador a prazo ou mesmo temporário.

Há direitos dos quais não podemos abdicar apenas para facilitar a vida dos que negligenciam as suas obrigações.

Um trabalhador com o azar de cair de uma escada no horário de trabalho e ficar sem capacidade para prover ao seu sustento e ao da sua família não pode só nessa altura descobrir que a sua vida futura está nas mãos da habilidade dos advogados do patrão para o pouparem ao encargo imprevisto em causa.

 

Essa fé no logo se vê está na origem de boa parte da caldeirada em que o país mergulhou, confiado a gente incapaz de se preocupar a sério precisamente por desconhecer o conceito de preocupação, gente capaz de reclamar o doutor antes do nome depois de completar uma licenciatura sem esforço, sem mérito e mesmo sem moral. Entendidos na matéria que é precisamente aquela que contornaram à custa da mesma esperteza saloia dos empresários que poupam na prevenção para esbanjarem nos sinais exteriores de uma solidez tão aparente como a sua capacidade para liderarem seja o que for.

 

Se há lição que Portugal precisa de aprender desta provação em lume brando é a de que é preciso fiscalizar quem manda, pois a vida, como o ciclo económico, é como os interruptores e a qualquer momento as luzes do sucesso dos figurões de circunstância deixam de cintilar.

E quando a festa deles acaba sobram sempre espalhadas pelo chão as canas dos foguetes para outrém apanhar.

08
Jul12

A POSTA QUE NO PIOR PANO TAMBÉM CAI A NÓDOA

shark

Sempre que um político é apanhado nas teias de uma situação menos apropriada a sua prioridade é garantir que tudo foi feito nos termos da Lei. Nada ultrapassa em urgência a certificação de qualidade da pessoa sob suspeita, espalhando ao vento o artigo do decreto que legitima, do ponto de vista legal, a actuação em causa.

Essa definição da prioridade dos políticos em maus lençóis deixa clara a preocupação em manter impoluto o registo criminal, em detrimento de qualquer outra aflição acessória pelo efeito dominó que os escândalos sempre impulsionam.

Porém, começa a ser cada vez mais notório o interesse dos cidadãos por coisas que pareciam ter caído em desuso.

A legalidade permanece obrigatória mas a idoneidade, sobretudo em tempo de crise, adquire maior relevância e para mal dos nossos pecados a maioria da classe política ainda não percebeu esse trocadilho.

 

O caso da moda é o do Ministro Relvas, o político que aparece mergulhado em todas as caldeiradas que este Governo produz e agora foi identificado como um dos felizes contemplados com um canudo que podia ter saído na farinha amparo.

Mais uma vez, e trazida a inconveniência à baila depois de tanto tempo de distração, o esforço foi concentrado na sensível questão da legalidade, da transparência, de uma legitimidade estritamente formal.

O problema do Ministro Relvas, como de todos os que o antecederam nesse tipo de assunto melindroso e de todos os que lhe venham a suceder no embaraço, é a tal percepção do povo que não acha piada nenhuma a falsos doutores, ainda que a lei e suas alarvices os licenciem.

É que o povo até reconhece o mérito de quem queima as pestanas para lá chegar e por isso não se mostra compreensivo para com os cábulas e os oportunistas.

 

É no fundo um problema de formação, ou de falta dela. Mas acima do cariz muito duvidoso das equivalências múltiplas já comprovadas ergue-se a falta de formação pessoal implícita na aceitação deste tipo de expedientes, muito para lá da respectiva legalidade. É um problema ético e moral, porque suscita questões pertinentes acerca da capacidade de liderança.

Esse é um ponto fraco absolutamente inaceitável num momento decisivo para o país, tão necessitado de um Governo como lhe foi prometido na sequência da queda forçada do anterior.

 

E é por esse mesmo motivo que pouco mais restaria a um Ministro digno desse nome, a um doutor digno desse título ou a um senhor propriamente dito do que a demissão do cargo, por iniciativa própria e a bem da vergonha na cara que é o mínimo que a população pode exigir.

Cada dia que passa sem que essa demissão aconteça é menos um que falta para mais um Governo cair.

 

04
Jul12

A POSTA NO REINO DO FUNGÁGÁ

shark

Se há questão que se mantém em aberto entre os seres humanos, embora numa espécie de banho Maria morno, é a da escolha entre a Monarquia e a República. Volta e meia, monárquicos e republicanos esgrimem argumentos na defesa da sua dama (com mais entusiasmo destes últimos porque o seu ícone até tem as maminhas ao léu), o modelo de liderança dos subgrupos, das tribos a que chamamos nações. A coisa até já descambou em conflitos armados entre as pessoas.

Contudo, no reino animal a discussão é mais feroz e espanta-me ainda não ter assumido proporções alarmantes.

 

Ao que vi no meu percurso pela fauna portuga, o binómio Monarquia/República não existe e isso acontece pelo mesmo motivo que deixa de fora a democracia como opção. A bicharada não quer votar e prefere tratar o seu líder por Vossa Alteza.

Porém, o consenso acaba aí. Nas ruas é fácil de perceber a disputa acesa pelo trono no seio de diversas espécies do reino animal, sendo públicas tais divergências.

Em poucas centenas de metros é possível, por exemplo, encontrar dois reis dos caracóis.

E a avaliar pela dimensão das respectivas cortes, orgulhosamente expostas à vista de qualquer plebeu, não será pelo número que a questão ficará decidida. Os analistas chamam a atenção para a enorme influência dos orégãos de comunicação social neste particular.

 

Mas existe uma outra espécie onde são ainda mais os galos para um só poleiro: os reis dos frangos multiplicam-se pela cidade e os respectivos súbditos, fanáticos, fazem-se imolar pelo fogo (pela brasa, mais concretamente) em quantidades astronómicas na luta encarniçada pelo poder que se faz sentir pelas redondezas num macabro odor a churrasqueira a que nenhum transeunte parece ficar alheio.

Consta até que alguns frangos mais leais ao seu monarca se fazem empalar num estranho ritual que vi mencionado como espeto e que deixa clara a coragem e o espírito de sacrifício que são incutidos desde o berço nos aviários deste país.

 

Um trono cuja disputa dá sempre porcaria é o dos leitões. Talvez por se tratar de um movimento juvenil de apoio à causa, o empenho dos jovens suínos no reclamar do ceptro atinge foros de uma irreverência descontrolada, ao ponto de o conflito estar já a estender-se ao reino das sandochas e sendo de prever também aí o surgimento de herdeiros de uma das coroas mais ambicionadas, sobretudo na região centro do país.

No chiqueiro agitado por esta luta fratricida a esperança é imensa e a confiança traduz-se numa lógica simples: vença quem vencer, o triunfo será sempre dos porcos.

 

O Fim da História ou a Última Amêijoa

 

Esta tensão permanente entre as monarquias animais já produziu episódios deploráveis. De acordo com fontes próximas das várias realezas, os interesses em causa são tão importantes que está a eclodir uma guerra surda entre as monarquias das diferentes espécies, sedentas de projecção. É esse fenómeno, ainda de acordo com as mesmas fontes, que estará na origem daquilo a que apelidam de boatos sem fundamento como o da gripe das aves (ninguém viu um único frango espirrar) e o contra-ataque da peste suína, havendo quem sugira que só por lapso ficaram alegadamente loucas as vacas e não os caracóis.

De resto, diversos anónimos destacam como mais um exemplo dessas formas de subversão a que está a afectar os inúmeros pretendentes ao trono de reis do marisco, o papão das toxinas que, citando fontes próximas das principais marisqueiras, não passará de mais um simples rumor. Em declarações que não quis gravadas, um anónimo exaltado afirmou à minha reportagem: Isso não passa de propaganda falsa. Dizem que algum marisco tem toxinas? É mentira. Desafio toda a gente a olhar atentamente para uma travessa de amêijoa à Bulhão Pato, qualquer travessa, mesmo que afirmem estar cheia de toxinas. E depois digam-me na cara que viram lá alguma toxina, uma que fosse!

 

Toda esta celeuma em nada afectou as monarquias mais sólidas, apesar de alguns pontos fracos beliscarem aqui e além a imagem do soberano incontestado. Contactámos o rei da selva que nos confirmou não existir de facto qualquer tipo de contestação ao seu poder, acrescentando um desabafo: “O único ponto fraco na minha imagem enquanto soberano incontestado é mesmo o Sporting, mas felizmente a malta daqui ainda só ouviu falar do Eusébio…”.

Sua Majestade igualmente sacudiu a juba em tom de reprovação relativamente à péssima conduta de outros monarcas e que tanto enfraquece as coroas, fazendo alusão a um alegado rei dos burros que por ali andou a matar elefantes.

 

Também no reino dos mares o líder é absoluto e ninguém ousa disputar o trono do tubarão, nem existe alguém que para o futuro próximo o preveja.

A chatice é que ele já foi por diversas vezes avistado a desbundar no regaço de uma República: a da Cerveja.

Pág. 3/3

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Pesquisar

Arquivo

    1. 2022
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2021
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2020
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2019
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2018
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2017
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2016
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2015
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2014
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2013
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2012
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2011
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2010
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2009
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2008
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2007
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2006
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2005
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2004
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D

Já lá estão?

Berço de Ouro

BERÇO DE OURO