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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

19
Jul12

A POSTA BEM DESCONVERSADA

shark

Existem várias expressões populares cujo sentido nunca entendi, embora perceba a respectiva intenção.

De entre as várias que poderia aqui citar ocorre-me apenas a que mais se coaduna com a conjuntura pessoal: estar com a telha.

 

Eu sei o que é estar com a telha e, por mero acaso, hoje poderia fornecer material de sobra para o telhado de uma mansão. Das antigas.

Contudo, o facto de saber que estou com ela não me esclarece o porquê de estar com a telha e não com um algeroz. Isso não me irrita só por si ao ponto de poder afirmar-me com a telha, mas põe-se a jeito para uma embirração e era precisamente isso que a minha telha parecia reclamar quando me predispus a esgalhar uma posta.

 

Gosto de começar pelos alicerces na construção de um raciocínio, mas o caso concreto eleva-me até precisamente à cobertura do mesmo. E é aí que tento perceber a lógica da coisa.

Ora bem, a pessoa está aborrecida, com a neura, irritadiça, sente-se de rastos. Não faria sentido imaginar-se de rastos num telhado, embora possamos concordar que qualquer pessoa podia ficar com a telha se desse consigo nesses propósitos, e por isso julgo que não passa por aí.

 

Olhando para as telhas um tipo tenta imaginar porque acha o povo que estar com uma delas equivale a um estado de espírito execrável e não consegue sintonizar bem a imagem. Pelo contrário, para ver alguém com a telha basta percorrer as ruas de uma zona atingida por um vendaval: a falta de telhas dá cabo do humor do proprietário de um imóvel e não o facto de ter, hipoteticamente, restado no sítio apenas uma das muitas que o vento soprou até fazer voar.

De resto, é nessas ocasiões que se percebe a dimensão da telha de cada um. Os mais optimistas olhariam para a tal telha solitária como um pretexto perfeito para o cliché infalível: podia ter sido pior. Já os outros, com uma telha do caraças, eram capazes de arremessarem eles próprios a sua telha remanescente para o chão lá em baixo.

 

E por aqui se vê o quanto o facto de estar com a telha pode contribuir para multiplicarmos pretextos para agravar essa sensação desconfortável, porquanto bem coberta. A ideia que dá é que a pessoa parece ter acordado num daqueles dias em que os acontecimentos são como telhas sopradas pelo vento e, por coincidência, sempre na direcção certa para aterrarem de esquina na nossa cabeça.

Aí já percebo melhor do que se trata.

 

É a desconversar que a gente se entende.

19
Jul12

A POSTA NA PROPOSTA CERTA COM A MAIORIA ERRADA (2)

shark

A iniciativa do Bloco de Esquerda a que faço alusão na posta abaixo é um passo importante na correcção de um problema que só a ignorância alimenta e tem o meu inteiro apoio, só pecando por tardia e por acontecer quando a actual maioria no Parlamento não permite qualquer esperança de aprovação da medida proposta.

Contudo, isso não mudará a verdade dos factos: impõe-se o debate acerca do assunto, cada vez com maior emergência numa altura de crise que só ganharia com o fim da circulação ilícita de dinheiro que a proposta do BE preconiza.

 

Quem quiser dar a volta ao texto e fugir ao óbvio só precisará refugiar-se na argumentação consolidada ao longo de décadas de proibições das quais apenas resultaram benefícios para os traficantes de canábis e para os consumidores que gostam de acrescentar a pica da ilegalidade às suas experiências de vida. Para os cidadãos comuns que consomem a substância sobra o estigma associado pela ignorância que nem permite a distinção entre drogas duras e leves (as que estão em causa) e para o país acrescentam-se mais custos desnecessários para a Justiça e mais viveiros de economia paralela em larga escala.

Só com uma grande dose de hipocrisia, de preconceito ou de interesse financeiro directo alguém poderá defender que a situação actual tem algo de bom seja para quem for para além dos que citei.

 

A informação acerca da canábis abunda na internet e só não percebe o que está verdadeiramente em causa quem não quiser. As opiniões, como é natural em todos os assuntos polémicos ou melindrosos, dividem-se entre os papões de alegados estudos científicos que de concreto têm provado quase nada em matéria de malefícios para a saúde do consumidor moderado e os argumentos lógicos dos que, mesmo não consumindo, enfatizam a questão de princípio implícita nesta estranha teimosia de muitos Estados no investimento em “combates ao flagelo” sem distinguir os alhos de substâncias como a heroína, a cocaína e outras drogas químicas mais recentes e os bugalhos da canábis. A influência social destas duas realidades é absolutamente incomparável, tal como o comportamento dos consumidores se distingue à vista desarmada.

Neste aspecto o argumento de que muitos começam pelas leves e partem daí para uma existência medonha associada ao vício adquirido é o mais batido e se não peca pela verdade fá-lo pela transparência da estatística que remete esses casos para uma irrelevância inevitável.

 

Na verdade só estão em causa más vontades despoletadas pelo desconhecimento dos factos, pelo preconceito associado a décadas de proibição e de propaganda alarmista e apenas porque sim.

O formato proposto pelo Bloco salvaguarda os interesses de quem consome e os de quem não o faz, oferecendo ao país uma solução bastante consensual, devidamente fiscalizada e que constituiria um golpe de misericórdia nas receitas chorudas de intermediários que fogem ao controlo do Estado e só servem para desviar a concentração das autoridades e dispersar forças no combate aos verdadeiros flagelos associados à venda e ao consumo de substâncias comprovadamente perigosas para a saúde e para o funcionamento da sociedade.

Resta-me referir que não se trata de uma iniciativa inédita, já estando a provar-se eficaz em diversos países.

 

O provável chumbo parlamentar da proposta do BE, neste contexto, não passará de um adiamento de algo que só quem não queira enfrentar o tema com seriedade pode considerar um malefício.

15
Jul12

O ESTRANHO NÃO CASO DO NÃO ASSUNTO QUE TODA A GENTE COMENTA

shark

Apesar do esforço notório das cúpulas laranja no sentido de minimizarem a questão Relvas e de toda a gente ter percebido que o filão em matéria de anedotário está a esgotar-se, de vez em quando aparece mais alguém a botar discurso acerca do tal tema que ninguém percebe porque merece tanto alarido mas acerca do qual toda a gente parece ansiosa por dar uma palavrinha.

Agora foi o líder da JSD a exibir toda a sua pujança de galaró ao contrapor ao não assunto do seu bem sucedido antecessor com um não caso, defendendo que o Ministro Relvas só deve demitir-se caso não cumpra o prometido no programa do Governo.

 

O jovem líder laranja, tão empreendedor na missão de desvalorizar a polémica da licenciatura high speed, nomeadamente pelo recurso in extremis à bendita legalidade, acabou por fazer a apologia da permissividade tradicional perante o político que rouba, mente, omite ou defrauda mas pelo menos apresenta obra feita.

Esta complacência perante os caciques a quem tudo se desculpa desde que apresentem obra feita (leia-se ganhem eleições com maiorias retumbantes), excepção feita ao singular Isaltino, faz parte de uma escola muito apreciada entre os social-democratas e o raciocínio do seu chefe jota comprova a rapidez de assimilação da matéria estudada que tão bons resultados garantiu ao tal quase ex-Ministro que passou a ser igualmente, aos olhos da opinião pública, um quase ex-doutor.

 

Depois de corrido à boatada o anterior Primeiro-Ministro que começou larilas e acabou intruja, todos pensámos que o PSD iria exterminar também essas novas oportunidades políticas para a malta que inclui no seu passado a trapaça académica, de caminho aproveitando para corrigir os excessos dos seus líderes regionais sem tento na língua e nas contas públicas. Mas não, afinal a indecência das licenciaturas fáceis do tempo de Sócrates só serve de argumento para derrubar Primeiro-Ministros, ainda que nenhuma ilegalidade seja provada, assumindo o estatuto de não qualquer coisa quando está em causa um político que cumpra as promessas eleitorais e outras.

Assim sendo, e por associação de ideias, nada pode forçar uma demissão ministerial enquanto estiver a ser cumprido o programa do Governo porque é esse o critério defendido por um destacado líder nacional dos social-democratas.

 

Uma não batota descarada

 

Esta seria para mim uma não posta, mas apenas se não estivesse em causa o perfil e os critérios de quem está ao leme do país num dos seus momentos mais complicados das últimas décadas.

Embora os meus oito anos de Blogosfera não me permitam a equivalência à licenciatura de Comunicação Social, pelo menos enquanto não abraçar a vida política, consigo entender as diversas ameaças à minha Pátria se confiada a gente que pensa e age assim e sinto-me obrigado a partilhá-las.

As possíveis consequências deste tipo de chapinhar no lodo vão desde o descrédito do Ensino Superior (privado por inerência e público por tabela) ao do próprio exercício governativo (o povo não aprecia situações manhosas, mesmo quando dentro da capa da legalidade), passando pelo impacto incontornável sobre a confiança da população nos critérios partidários de selecção dos candidatos a governantes.

 

Com tudo isto perde a do costume, a tal de Democracia que parece cada vez mais impotente e indefesa à mercê de quem legisla (mal) e que é também quem mais parece beneficiar dessa legislação manca e suas abébias curriculares.

E perde um país inteiro, entretido no escrutínio dos seus líderes quando deveria poder concentrar-se no esforço de recuperação suplementar que deve ser fomentado pelo empenho mas também pela conduta irrepreensível de quem acaba por servir de bom ou de mau exemplo para a maioria.

A resposta dessa maioria pode muito bem vir a revelar-se um não, obrigado...

12
Jul12

A ULTIMA PEDRA

shark

A passagem do tempo parece limpar, como o vento, o rasto deixado, na areia da memória, por algo que não terá passado de uma história das que nem valem a pena recordar.

Com a ajuda das ondas do mar, a brisa soprada pelo tempo vai apagando, vai varrendo do solo os resquícios da desilusão remanescente, vai tornando irrelevante a marca indelével de um momento que se deseja impossível de repetir.

O passado cheio de vontade de partir para o esquecimento absoluto, abandonado no edifício devoluto onde se acumula o entulho, perdido num canto ocupado pelo barulho da cacofonia de sons imaginários de muitos acontecimentos secundários deixados para morrer num espaço afectado pela surdez.

O presente dominado pela lucidez que no passado falhou a sua missão e deixou turvar a visão da realidade ao ponto de quase justificar uma saudade disparatada nesta altura em que já pouco resta, pois nada dura para sempre quando não presta, quando se usam materiais de construção aldrabados.

E no futuro restará apenas a última pedra, poupada aos trabalhos de demolição entretanto desembargados.       

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