Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

29
Jun12

A POSTA CONSTRUÍDA EM BETÃO DESARMADO

shark

Isto de a pessoa ser pai é um processo de construção. Um gajo vai construindo os alicerces enquanto aguarda a hora agá, pedra a pedra, numa mentalização prévia dos requisitos a que se obriga para o cabal cumprimento da função, sem fazer ideia do que o espera.

Depois eles nascem e a pessoa já tem uma porta aberta, construída para os acolher, e vai erguendo à pressa as mais sólidas paredes para proteger a criatura pequena e indefesa que ocupa todo o horizonte, todo o espaço existente em nós mais aquele que for preciso arranjar.

E depois o telhado, improvisado à medida das possibilidades, coberto com os materiais que a conjuntura disponibiliza, telhas boas aqui, remendos de madeira mais além, para impedir que nem do céu possam surgir as ameaças exteriores à redoma à prova de bala que tentamos em vão impor em redor do centro absoluto da nossa atenção.

Mas um dia eles começam a falar e depois provam que sabem pensar e chega a hora de nós, pais em construção, providenciarmos as janelas.

E é aí que no horizonte coberto das cores garridas de um mundo perfeito de fantasia em que os tentamos manter até para lá do razoável começam a surgir os remendos incolor, pintados pelo nosso pequeno grande amor a partir da paleta das suas interrogações e da sabedoria que nos escapa, adquirida lá fora ou a partir da dedução permitida pela inteligência em desenvolvimento acelerado.

As janelas que abrimos de par em par aos nossos filhos são sempre enormes, panorâmicas, aos olhos de quem as constrói reprimindo a tentação do gradeamento ou de qualquer outra forma de impedir que um filho possa cair enquanto espreita as vistas que partilhamos para ajudá-lo a perceber melhor o caminho que irá percorrer depois. Vistas de curto alcance, claro, um passo de cada vez para evitar os tropeções, e o filho a tentar espreitar pelo óculo que disponibilizamos de facto em vez da janela que se abre à nossa imaginação e nós, os pais em construção, a falar das coisas da vida, tijolo a tijolo mais o revestimento a azulejo para essas revelações soarem mais bonitas, para parecerem melhores do que são.

E nós, construtores em construção, muito liberais, somos apanhados desprevenidos com o trabalho de grupo na escola acerca de contraceptivos e com uma simples e prática questão lançada sem malícia no meio do nosso discurso encurralado no tempo das abelhinhas e das flores:

 

- Ó pai, para que é que há preservativos com diferentes sabores? 

26
Jun12

A POSTA QUE É NA CRISTOTECA QUE CRISTO TOCA

shark

Confesso: estou em pulgas para saber novidades da anunciada cristoteca de Fátima e tenho devorado tudo quanto a Comunicação Social tem especulado acerca desse ansiado bastião da náite como ela deve ser na interpretação católica dos que tanto torcem o nariz aos antros de depravação espalhados país fora pelo demo.

A sério, acredito que para muitos jovens crentes a cristoteca representará pouco menos do que um milagre pois para a maioria deles será a única hipótese de frequentarem um espaço de diversão nocturna que, de resto, poderá mesmo cometer a ousadia de ter as portas abertas aos fiéis até altas horas da madrugada, havendo quem arrisque a possibilidade de a cristoteca manter as suas portas abertas para lá das 23 horas!

 

A euforia que invadiu os Seminários e agrupamentos de escoteiros de norte a sul de Portugal impõe a divulgação de toda a informação possível, mesmo que provinda de fontes anónimas celestiais.

É nesses pequenos pecados da fuga de informação que todos bebemos (sem álcool) o essencial para matar a sede de conhecimento acerca de tão abençoada iniciativa pastoral, embora seja de prever que os lucros sejam de imediato distribuídos pelos pobres mais à mão, depois de deduzidas as despesas com o pessoal.

 

O recrutamento de pessoal também é um mistério, tendo em conta algum tipo de paralelo com as discotecas tradicionais e pagãs em matéria de funções a desempenhar.

É de prever que por detrás do balcão do bar encontremos catequistas formados para formatarem a juventude cristã no sentido de apreciarem o alto teor católico do sumol de laranja ou mesmo de ananás.

Por outro lado, em cada porteiro terá que existir um sacristão da paróquia, altamente especializado na identificação dos fiéis e capaz de impedir o acesso à cristoteca por parte de filisteus embuçados.

O DJ, naturalmente, será um padre. Isto traduz um esforço na racionalização dos recursos por poder acumular com a selecção musical a celebração da Eucaristia, sendo de prever que se trate de um prior bastante prafrentex e com uma abrangência que engloba a malukeira de uns Evanescence ou a sobriedade de um Frei Hermano da Câmara remix.

 

Claro que esta ideia peregrina envolve riscos calculados por parte da secular instituição que a irá pôr em prática, nomeadamente pela necessária abertura ao exterior imposta pela necessidade de promoção da iniciativa.

E se um dia, depois de meses a filtrarem a playlist em busca de palavrões, obscenidades e outros desvios à moral cristã e aos elevados valores que irão nortear a cristoteca chega o dia em que permitem, sei lá, uma emissão em directo da bué de irreverente RFM ou assim?

 

O fanico dos mais beatos empreendedores ligados à iniciativa será de tal forma que acabam desmaiados na pista.

Em posição de missionário, se Deus quiser…

19
Jun12

A POSTA NUMA BOSTA PROTEGIDA PELA FÉ (EM CINEMASCOPE)

shark

Nunca deve ter passado pela cabeça dos dinossauros que um dia iriam extinguir-se. Eram grandes, eram fortes e o planeta parecia feito à medida para nada lhes faltar (tirando uma ou outra alteração climática mais acentuada que lhes podia dar cabo das hortas e da criação).

Ainda não sabemos bem como, mas a maioria aponta para o céu a explicação. Terá sido intervenção divina, um calhau grande o bastante para virar a superfície da Terra do avesso e cobrir a atmosfera com o pó que os privou da luz do sol e abriu caminho ao império dos mamíferos dos quais nos destacámos depois de uns tempos a estagiar com o resto do macacal.

 

Os dinossauros, coitados, foram apanhados com as calças na mão e acrescentaram um saber que de pouco lhes valeu na altura: tamanho não é documento.

E lá andaram os antepassados das ratazanas a disputar território e recursos com o resto da bicharada estranha desses dias e algures surgiram os símios e os dinossauros devem dar duas voltas no fóssil quando constatam os minorcas que lhes sucederam na fila para uma calhauzada qualquer. Ou uns mísseis bem ogivados, também se chega lá assim.

Tal como os anteriores inquilinos desta esfera azul enquanto não acabamos de a pintar de outras cores, não nos passa pela cabeça que a extinção seja uma possibilidade a considerar.

Soa quase herética tal profecia pois qualquer religião com bom senso soma dois mais dois e arranja sempre forma de haver sobreviventes no dia do Juízo Final.

Os dinossauros perderam-se pela falta de fé, no fundo...

 

Nós, antes pelo contrário, até já fazemos filmes nos quais enfrentamos telescópios nos olhos os calhaus enormes que nos possam ameaçar e ganhamos!

A esperança é a última a morrer e mesmo o seu funeral será filmado pela Paramount Pictures (os tais sobreviventes que a fé cuidará de salvar, lembram-se?), pelo que os inventores dos coletes à prova de bala nada terão a temer, pelo menos na sua minoria.

Nisso, os dinossauros não tinham o que lhes valer. O perigo caiu-lhes em cima sem que tivessem sequer tomado consciência da ameaça que a grande fisga cósmica lhes catapultou. E os mais agnósticos poderão até arriscar que nem a fé lhes valeria em tais circunstâncias e se calhar nessa até têm razão.

Claro que nós, tão eternos e tão alegadamente únicos seres vivos do universo e arredores, criados à semelhança de Deus (aí, os dinossauros e a Lili Caneças não poderiam competir), temos uma fé à prova de imprevistos e já temos as ameaças possíveis todas catalogadas. Ainda elas mal acabam de se manifestar e já alguém está a proceder ao registo, análise e comentário detalhado em horário nobre nas televisões. Nada nos surpreende, pois acreditamos piamente na inevitabilidade da sobrevivência de mais do que (logo elas) as baratas mesmo em caso de holocausto nuclear.

Aliás, Hollywwod já previu a ocorrência em películas como o famoso The Day After, tudo sob controlo no reino dos cenários.

 

Tudo isto a propósito da fanfarronice com que todos percorremos o nosso tempo no nosso espaço, certos de que por muita trampa que produzamos jamais ficaremos soterrados (enterrados?) sob a mesma como o Samuel (Beckett) tão bem teatralizou.

Podemos envenenar os rios, abater as árvores todas, intoxicar a atmosfera com todos os dejectos gasosos que conseguirmos soltar como lastro, como um rasto que o progresso justifica e a nossa magnificente e esplendorosa existência impõe. O medo não nos assiste nem relativamente aos calhaus caídos sobre o toutiço (a todos? Não, uma pequena mas irredutível aldeia gaulesa...) nem aos holocaustos nucleares, nem às alterações climáticas.

Somos invulneráveis, insubstituíveis, todo-poderosos senhores do planeta que Deus limpou de lagartos de maiores dimensões para nos oferecer um paraíso para pintarmos de fresco com a nossa natureza de térmitas talhadas para roer os próprios pilares de sustentação da vida.

 

Toda a bicharada do Mesozóico, mesmo que defecasse em simultâneo, não conseguiria melhores resultados na transformação disto tudo numa gigantesca (à nossa pequena escala) instalação sanitária a céu aberto por mais que se tente esconder.

Chamamos-lhe evolução, mas eu não vejo grande diferença entre a bosta imensa de um brontossauro do jurássico e a merda produzida pelos actuais broncosauros de um período que a indústria cinematográfica e a Ciência só poderão, no futuro dos amanhãs que sorriem na tela, retratar como a era do patético.

Inferior.

13
Jun12

A POSTA QUE JÁ ENJOA

shark

Como estamos a lidar com uma estatística muito favorável para um prognóstico, uma hipótese em duas, é de prever que em milhares de cretinos com bichos adivinhos, sejam polvos, vacas ou pardais de telhado, haja centenas que poderão reclamar o acerto no resultado do Portugal-Dinamarca.

Aliás, ainda com base na mesma garantia de apenas ter que acertar numa de duas alternativas, até haverá dezenas a poderem invocar o estatuto de vidente para o seu papagaio por ter comido primeiro a bolacha pintada com a bandeira do vencedor do Portugal-Holanda.

E mais, se logo à partida forem mesmo milhares os cretinos com bichos alegadamente adivinhos até pode, é mais difícil, mas pode haver um animal capaz de transcender qualquer ser humano nesse dom tão em voga nos dias que correm sem cromos como o Zandinga para substituírem os bichos dos macacos amestrados pela sede de projecção e escolher a guloseima certa até ao jogo final.

 

Claro que não faltarão municípios interessados em ver surgir no seu concelho uma galinha visionária ou mesmo um porco ciclista, pois já toda a gente percebeu que os holofotes dos quinze minutos de fama apontam de imediato para onde os milagres possam acontecer, de preferência em directo e em exclusivo mas nunca de surpresa para poderem afinar agulhas com um patrocinador.

É no fundo o síndrome do emplastro, com a vantagem de o bicho poder servir de pretexto para a gula do dono pelas câmaras, que sempre se revela quando a ocasião justifica e nada mais à mão do que um Europeu de futebol quando ainda está fresca a memória dos tentáculos saudosos do pioneiro alemão deste folclore dos segundos planos.

De repente lá começam os noticiários mais os programas desportivos habituais mais os programas desportivos especiais na sua busca incessante do bruxo genuíno, torcendo para que não seja uma barata, uma cascavel ou mesmo um crocodilo. Até um urso de peluche serviria, se o vento o inclinasse para o lado da bandeira da selecção vencedora.

 

Esta faceta pitoresca do entusiasmo futeboleiro não é diferente de muitos outros estratagemas a que o anónimo sem jeito nenhum seja para o que for recorre para chamar a si a atenção imbecil dos caça-palermas que trabalham nos media, tanto pode ser barricar-se num apartamento de Chelas gritando que tem uma bomba quase a ferver no interior do micro-ondas como aproveitar o sucesso da filha pimba num programa televisivo inenarrável mas muito popular entre as massas devoradoras de tudo quanto acontece nas capas das revistas ou nos ecrãs (e cada vez mais nos monitores).

De cada vez que acontece algum evento capaz de congregar multidões ou de encaixar num espaço do tempo mediático as referências de que toda a gente quer estar a par, lá teremos centenas ou milhares de cidadãos convictos do seu direito ou mesmo do seu mérito para justificar nem que seja metade do rosto apanhado na borda da fotografia a um famoso qualquer.

 

Naturalmente, os cidadãos anónimos e sem jeito para seja o que for terão que disputar com outros cidadãos, igualmente anónimos mas com um talento especial qualquer, a atenção de quem forja famas e fabrica fortunas. É aí que entra a bicharada, como poderia entrar a tia acamada há muitos anos em coma profundo e que de repente acorda e alguém se lembra de ligar para uma televisão ou um jornal. São testas de ferro perfeitos para os seus porta-voz de circunstância que assim recolhem os louros da atenção sem os espinhos da necessidade de produzir, de fazer ou de dizer algo de suficientemente relevante para se transformar num momento de grande informação.

Já toda a gente sabe que não precisa de esforçar-se mais do que o necessário para se encaixar no critério de selecção dos chouriços com que se enchem páginas de publicações ou minutos de emissão, apenas pela esperteza de estar associado a uma figura de uma moda suficientemente duradoura ou apenas oportuna.

 

É no oportunismo que está o segredo desta receita magnífica para confeccionar enchidos que contrabalancem os horrores do quotidiano ou vão ocupando o espaço deixado vazio pela ausência de factos ou de pessoas dignas de o ocuparem ou apenas pela negligência grosseira daqueles a quem essa tarefa deveria competir. Mas preferem percorrer o país em busca do ornitorrinco capaz de adivinhar o resultado de um jogo decisivo de futebol.

E eu, o camelo do espectador, fico pelo menos a saber que a situação do país, a crise marada, não é assim tão desesperada porque afinal, seja na Amareleja ou nos arredores de Vila Real, existe um português capaz de ser dono de um bicho capaz de adivinhar pela simples consulta do menu o final de uma história tão mal jogada que até parece que o Cristiano Ronaldo vai nu.

Pág. 1/2

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Pesquisar

Arquivo

    1. 2022
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2021
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2020
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2019
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2018
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2017
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2016
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2015
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2014
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2013
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2012
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2011
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2010
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2009
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2008
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2007
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2006
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2005
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2004
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D

Já lá estão?

Berço de Ouro

BERÇO DE OURO