Depois da brilhante, mas mal digerida, alusão do actual Ministro da Economia ao potencial imenso da exportação do pastel de nata, num claro adocicar das receitas contra a crise, devemos todos sentir o apelo de encontrar soluções rápidas e baratas para darmos a volta à situação.
Esta posta assume então a relevância própria dos assuntos do interesse nacional, pelo que deixo desde já o apelo à mobilização em torno da iniciativa tão cheia de um entusiasmo pueril à qual, pelo brilhantismo da ideia, pouco haverá acrescentar.
Tirando talvez uns pozinhos de canela.
Exportar pastéis de nata poderá, de facto, constituir uma tábua de salvação para o país e até para o futuro do Ministro quando (não é uma questão de se) finalmente abandonar este cargo que tanto limita, com a crescente gasparização da tesouraria, a liberdade criativa do governante empreendedor.
Contudo, trata-se de uma tarefa que envolve muitos meios e muito pilim e se os meios a pessoa até desenrasca, nos fins do mês tem que haver do resto para ir pagando os salários e as facturas.
Por isso mesmo direccionei o detector de vil metal para o tipo de riqueza mais pragmática porque mais fácil de obter e o país não tem tempo para esperar pelo petróleo do Beato ou pela venda das empresas públicas todas aos chineses ou a quem quer que avance com a massa.
Para começar a gerar riqueza, o país podia começar por rentabilizar os arcos-íris, até hoje tão desperdiçados, nomeadamente no que concerne aos potes de ouro nas respectivas extremidades. Logo à partida, a procura de potes não será problema para o actual Executivo e por acaso nem abundam os arcos-íris em tempo de seca, o que implica não ser necessário investir em muitas duplas observador com binóculos/cavador com pá. Note-se que as pás podem ser obtidas em qualquer ponto do país, nem que seja pedindo à Junta de Freguesia local a suspensão temporária de óbitos para ficarem disponíveis as indispensáveis ferramentas. E quanto aos binóculos, talvez baste subsidiar a mudança de lentes aos inspectores das Finanças que parecem só encontrar irregularidades em PME por se verem melhor ao perto do que as maiorzinhas e aplicar-lhes estas novas liberdades de transferência compulsiva dos funcionários públicos para onde fazem mesmo falta.
Mas essa é apenas a ponta do véu que se pode erguer para destapar as riquezas logo ali.
Num país capaz de produzir fazedores de dinheiro tão talentosos como a lendária Dona Branca, só não salva o país quem não quiser. Senão, vejamos:
Porque precisa o Estado dos impostos gerados pelo negócio das lojas de compra de ouro (que conseguiram bater aos pontos o ritmo de abertura das lojas da fluta made in China) quando neste cantinho do paraíso abundam as galinhas?
Argumentarão os mais pessimistas que a situação do país é tão grave que depressa se esgotaria o stock de poedeiras, mas eu posso esgrimir com o Decreto Lei 64/2000, de 22 de Abril, cujo escrupuloso cumprimento garante não só o bem-estar do galináceo como pode permitir a conversão dos tradicionais ovos de ouro em lingotes ou mesmo em refinadas peças de joalharia. Isto está muito na fé da pessoa, mas recordo que mesmo uma galinha sobrecarregada pela pressão dos mercados está devidamente protegida pelo Anexo A do Diploma supra e que até garante ao animal o alojamento em unidades hoteleiras, como segue e passo a citar: sempre que se justifique, os animais doentes ou lesionados devem ser isolados em instalações adequadas e equipadas, se for caso disso, com uma cama seca e confortável.
Porém, não se esgotam nas duas medidas acima (uma delas já devidamente enquadrada na legislação, como comprovei) os recursos imediatos ao dispor do país. Eu é que não quero ser exaustivo mas sim exaustor da fumarada pessimista dos que não captaram a essência do mote dado por um homem que é Ministro da Economia, tem orgulho em ser emigrante portuga (bom para servir de exemplo aos nossos jovens licenciados que por cá continuam) e que nos ensina a pescar moedas estrangeiras com iniciativas empresariais ousadas em vez de permitir que elas nos sobrem para esbanjarmos na lota.
Só mesmo a cegueira da falta de esperança pode privar-nos de ver a moedinha da sorte a brilhar ao abandono na calçada, por entre os dejectos de cão que simbolizam neste muito sentido figurado os resultados concretos das medidas da troika na nossa qualidade de vida.
E temos mesmo que dar o litro a sério, pois toda a gente sabe em que posição os alemães perderam a guerra e se não arrebitamos depressa não tardam a por-nos de cócoras...