Porque será que cada vez mais à segunda tenho a percepção de que a sexta é só daqui a um ano e picos?
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Porque será que cada vez mais à segunda tenho a percepção de que a sexta é só daqui a um ano e picos?
Abre os teus olhos como janelas de uma casa no topo de uma montanha e deixa fugir o olhar pelo mundo tão belo como o vês, segue-o de perto e percorre de lés a lés a paisagem de cortar a respiração.
Escuta o bater mais acelerado do coração que rufa como um tambor no silêncio em teu redor e decifra a mensagem que o vento vai entregando a cada momento dessa tua pausa observadora e percebe como a vida melhora só pelo prazer de conseguires absorver em pequenas porções de imagens e de sons as mais poderosas sensações que esses sentidos podem oferecer.
Saboreia nos lábios a memória de um beijo, deixa-te abraçar pelo desejo e liberta da caixa de pandora numa manhã radiosa de Primavera a anarquia da imaginação, o gosto salgado da paixão na tua boca, o corpo deixado à solta numa aventura arrojada que te sabe a amante beijada quando te lembras assim, sem amarras, de tudo aquilo que desejavas e às tantas ainda podes ter.
Aspira a brisa da madrugada que te faz recordar o odor de uma noite passada a amar sem reservas, abre de novo a gaveta onde encerras tudo aquilo que constitua evocação do que renegas sem querer, apenas no sentido de prevenir uma recaída, o descontrolo de uma doença mal curada que te possa ensandecer, quando amas isso pode doer, inspira fundo agora esse ar que transporta de fora o que escondes dentro de ti.
Sente a pele que reage por si num arrepio que sabes não ter nascido do frio porque no interior da tua mente há um corpo incandescente alojado no teu e agora abres os olhos para veres no céu desenhados pelos rastos de aviões os contornos dos amantes e o calor das emoções que te envolvem com a suavidade de braços feitos de cetim.
Pensa nas coisas postas assim e utiliza acima de tudo a intuição, concentra nela a tua atenção e deixa-te arrastar pela estrada que o instinto traçar enquanto tudo te é permitido pelo tempo que se faz esquecido de nos avisar que continua sempre a passar porque é como uma locomotiva sem travões que ignora apeadeiros ou estações, a vida não pode esperar pelo que se possa deixar para amanhã logo se faz e o tempo recusa andar para trás para recolher os atrasados para usufruírem da permanente celebração que é uma vida com a sede de paixão que tenhas reprimido.
Segue as pegadas desnudas do teu sexto sentido.
Era uma palavra, isso sabia.
Apenas não compreendia porque não fazia sentido por si, porque não podia ser apenas palavra como se entendia mas submeter-se ao arbítrio na sua interpretação. Até a palavra solidão se bastava, toda a gente a conotava com um conceito universal. Sozinha, a solidão já tinha um significado e isso ainda lhe juntava a coerência. Até a solidão conhecia a independência das muletas como a palavra as entendia, todas aquelas de que precisava para se conseguir explicar.
Uma palavra sozinha sentia-se palavra nenhuma porque precisava das outras até para se afirmar na condição:
ÉS UMA palavra.
E isso já a palavra sabia, mas todos os outros precisavam das outras palavras para a reconhecerem na condição sem ficarem com cara de ponto de interrogação a olharem para uma palavra e só quererem saber afinal o que quer dizer em concreto, ali, a palavra palavra, mas palavra o quê, foi a pergunta que lhes deixei.
É que palavra de honra que às tantas já nem eu sei.
Nem me passa pela cabeça investir um minuto que seja da minha atenção a ver a entrevista ignóbil que uma (alegada) Procuradora, uma tal de Maria José Martinho, concedeu à RTP.
E basta-me uma vista de olhos pelos títulos da Imprensa, sempre atenta ao verdadeiro sumo das histórias, que chama a atenção das audiências para o facto de o triplo homicida ter utilizado uma catana por ser menos ruidosa para perceber o móbil deste crime que compensa porque qualquer pessoa capaz de rentabilizar as declarações de um morto, proferidas num determinado contexto e sob pressupostos óbvios, é igualmente capaz de prevenir a possibilidade de existência de um qualquer descendente a quem pudesse indignar de uma forma mais efectiva este desrespeito como o senti.
Nem hesito em afirmar a minha total concordância com a solução encontrada pelo assassino para colocar um fim à sua saga, em absoluta sintonia com o meu profundo asco relativamente ao acto com que inscreveu o seu nome no rol de bandalhos sonantes.
A morte de tal criatura é um alívio para todos e quem não o assumir dessa forma está apenas a dar uma pala qualquer.
Contudo, mesmo um verme asqueroso, como gostaria de ter podido chamá-lo na cara em vida e vou sem dúvida entendê-lo depois de morto, possui direitos que se estendem para lá do final feliz por si escolhido e que derivam no mínimo da decência dos que cá ficam e, acima de tudo, pelo facto de o verme como o sinto ter nascido e morrido tão humano na essência como eu ou a tal procuradora da ignomínia.
É essa condição que me obriga a reconhecer a indecência de chamar verme a um gajo que já não se pode defender da minha injúria e ainda mais deveria obrigar uma procuradora a guardar para a Justiça tudo aquilo que ouviu em circunstâncias completamente distintas das actuais.
Claro que todos os (alegados) jornalistas a quem pareceu oportuna e do interesse público esta exibição grotesca de falta de brio e de ética e de moral e de tudo quanto nos possa defender destes atropelos não saem bem num boneco onde até já tinham brilhado pelo bom senso de não dissecarem a cena do crime em todo o horror nela contida.
Estas cumplicidades estão no fundo associadas às impunidades de todos os envolvidos neste tipo de conluio em prol do abastardar definitivo dos códigos de conduta que se esperam de qualquer pessoa mas mais ainda das que exercem determinadas funções.
E enoja-me o facto de a atitude da procuradora dos interesses obscuros de uma Comunicação Social cada vez mais abjecta me conseguir repugnar ao ponto de quase me ver obrigado a defender a memória póstuma de um assassino cobarde para manifestar a minha indignação contra a falta de vergonha de quem participou de forma directa ou indirecta nesta tão sincera transmissão televisiva da realidade dos factos como, mesmo sem ser em modo reality show travestido de coisa séria, os intuímos mas quando expostos nestes moldes quase preferíamos nem saber.
58 seguidores
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.