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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

17
Mar12

A POSTA QUE É DEIXÁ-LOS IR

shark

Multiplicam-se no meu leque de conhecimentos os casos de homens portugueses que se atracam a brasileiras, deixando para trás família, emprego e o que mais houver como se o mundo fosse acabar amanhã.

Claro que a primeira reacção das pessoas à proliferação destas relações transatlânticas é a de rotularem as brasileiras de predadoras, acabando a coisa num crescendo que quase as remete à condição de feiticeiras daquelas que as mulheres traídas da geração anterior à minha afirmavam meterem qualquer coisa na sopa dos seus homens agora roubados pela bruxaria tropical.

 

Sempre achei as portuguesas as melhores mulheres do Mundo e arredores e disso tenho dado conta aqui. Essa minha crença não me cegou, contudo, aos detalhes de somenos importância que vão aos poucos estigmatizando (dito assim até parece que acredito na cena) as brasileiras com a associação de ideias mais óbvia: bundinha e fio dental.

Sim, tal como as muitas alegadas vítimas dessas desfazedoras de lares com sotaque prestei a esses pormenores a atenção suficiente para que a simples alusão a esse grupo específico de fêmeas me cole um sorriso no rosto de forma espontânea.

Contudo, isso nunca me pareceu tão ameaçador quanto isso porque qualquer observador mais atento conclui que as portuguesas só não se batem de igual para igual na exposição solar dos glúteos.

É portanto apenas uma questão de dimensão dos tecidos.

 

Assim sendo, esta diáspora de cônjuges fascinados pela paixão ao ritmo do samba permanece para mim envolta em mistério e vejo-me forçado a pensar a coisa mais além do que um fio dental possa representar. É aqui que entram em cena os mecanismos mais elementares da masculinidade lusitana, de entre os quais se destaca o descomplicómetro instalado junto aos disjuntores da complexa maquinaria de controlo do desejo que partilhamos com as nossas moças. Esse extraordinário equipamento de série no macho comum português está na origem de muitos indicadores que são erradamente confundidos com insensibilidade mas na verdade não passam de naturais divergências entre nós, que temos o aparelho, e elas que desejam tanto ou mais mas estão antes equipadas com uma espécie de retardador de abertura como os dos cofres nos bancos.

 

Maço-vos com esta breve abordagem à engenharia dos sistemas porque só aí consigo encontrar a fonte do tal fascínio que enlouquece tantos bons maridos e pais com desvarios tropicais que se consta serem doença sem cura conhecida.

As brasileiras, sem dúvida montes de femininas, parecem possuir um equipamento idêntico ao nosso e o que isso implica de diferente no estabelecimento de sólidas e tórridas relações diplomáticas está à vista.

As portuguesas, de caras as melhores do Mundo e arredores, são tesouros de valor incalculável e sabem-no e mantêm essa fortuna fora do alcance dos piratas em que nos tornamos quando o tal descomplicómetro dispara.

Já as brasucas, sem dúvida montes de uma data de coisas, são muito mais despachadas e generosas na entrega do ouro ao bandido que, quase por imperativo moral, privilegia o lucro fácil e regressa sempre ao local do crime o que, toda a gente sabe, é receita garantida para se deixar apanhar.

 

Perante este problema como o pintam é possível teorizar o que se queira e inventar pretextos ou desculpas mais ou menos elaboradas na maquilhagem da sua pretensa validade factual, nem que seja para armar ao pingarelho do alto da cátedra que deitou o olhar de esguelha às imagens do Carnaval do Rio mas nunca ousaria sequer sambar.

Porém, isso para mim é complicado demais quando o assunto envolve esses eternos alvos da cobiça (e da inveja, e do despeito, e da censura) e o meu equipamento de série prova funcionar na perfeição quando encaminha o raciocínio para uma simples questão aritmética: por cada patrício que se deixa embeiçar por uma irmã de além-mar há uma portuguesa desamparada, até mesmo revoltada, e isso pode ser o mote para anular perante as brasileiras a tal aparente desvantagem.

Nessas circunstâncias, juro pela minha perna de pau, fica muito mais permeável à abordagem.

09
Mar12

A POSTA NOS AMANHECERES SIMULADOS QUE CANTAM

shark

Um consumidor visivelmente encantado pelo seu amanhecer simulado

 

 

Se eu fosse um empresário do ramo das inutilidades-ainda-mais-disparatadas-em-tempo-de-crise gostava de poder anunciar ao meu departamento de vendas, ainda antes de limparem por completo as ramelas às horas da madrugada a que as pessoas são forçadas a trabalhar: hoje vamos vender resmas de despertadores Oregon Scientific com Simulador de Amanhecer!

Vamos por momentos ignorar o requinte de crueldade de alguém ser capaz de propor a pessoas quase acabadas de acordar a venda do seu mais recente instrumento de tortura, pois esta posta, apesar de gratuita, é um veículo publicitário indirecto e por isso temos que respeitar as regras elementares de funcionamento do mercado.

 

O que me move, para além da secreta esperança de um dia algum empresário montes de bem sucedido na venda de, sei lá, campainhas de porta com simulador de aurora boreal me oferecer uma pequena fortuna por uma referência ao seu produto tão inédito quanto difícil de impingir poucos minutos depois de ultrapassado pelo consumidor incauto o torpor dos primeiros minutos de cada dia, é em boa medida o sono.

Sim, recebi a sedutora proposta para a compra de um sensacional despertator Oregon Scientific ainda sob o efeito do ódio ao equipamento homólogo actual e à sua ingrata missão.

 

Ainda assim deixei-me seduzir pelo barulho das luzes da simulação de alvoradas e prestei alguma atenção à dita maravilha tecnológica, nem que fosse para perceber em que consiste a coisa.

Agora já pode acordar ao som dos pássaros mesmo que more numa grande cidade! – É assim, com esta entusiasmada proclamação dos amanhãs de manhãs que cantam, que a Loja21 nos agarra para a leitura dos inúmeros predicados do seu produto do dia.

Fico então a saber que a luz mágica desta maravilha com que o progresso promete acordar-nos estimula a produção de cortisol, uma hormona que a empresa diz ajudar a preparar o organismo humano para o novo dia depois do período de sono.

Claro que começo por identificar um distúrbio hormonal neste organismo humano cuja reacção a um despertador comum é similar à de um espancamento (o meu despertador partilha essa sensação desconfortável) e sinceramente nunca senti que existisse algures em mim uma espécie de mão hormonal estendida para me ajudar nesses momentos terríveis.

 

Prosseguindo na apreciação dos inúmeros argumentos para a aquisição imediata de um Oregon Scientific (com simulador de amanhecer, não sei se já referi) fico a saber que este multi-funções serve de lâmpada de mesa de cabeceira e assim não corro o risco de partir o candeeiro ao tentar desligar o despertador! Ou seja, um enorme estímulo à poupança que, como veremos adiante, é bastante conveniente promover em paralelo com o simulador de amanhecer.

Porém, quanto mais avanço no explanar de atributos menos tentado me sinto a aproveitar o preço especial de corrida que só hoje posso pagar.

Por exemplo, quando na tentativa de suavizar a pesada carga pejorativa associada a um dispositivo para acordar a pessoa (algo tão infrutífero como forrar com estofos de veludo o interior de um caixão para o tornar mais acolhedor) me referem que basta um suave movimento da mão diante do mostrador para desactivar a repetição do alarme (que pode ser o cantar dos passarinhos como a voz estridente da Júlia Pinheiro num anúncio em FM) o caldo do meu impulso de compra entorna.

Só quem nunca precisou de acordar antes das 11 da madrugada percebe onde reside o problema deste pormenor aparentemente tão inócuo: um suave movimento da mão e o simulador de amanhecer anoitece? Até podia disparar a luminosidade do sol em Mercúrio que os meus suaves mas sucessivos movimentos manuais acautelavam um não menos suave regresso ao simulador de ressonar até o próprio equipamento desistir da ideia, simular que vai ao WC e deixar-me da mão para não levar uma berlaitada na gaiola onde guarda os tais pássaros com pendor urbano e que cantam com pronúncia de Taiwan.

 

Mas só caio em mim depois de perceber o quanto acreditam os seus promotores nos tais orégãos científicos com a prudente nota final que nos avisa que o equipamento é mesmo fabuloso e acordamos com enorme vigor e mainãoseioquê mas não compensa nem substitui o número de horas necessárias a um descanso adequado.

Quer isto dizer que o simulador de amanhecer não dá abébias ao cliente que veja ali uma janela de oportunidade para poder regressar da 24 à hora em que o amanhecer não é simulado e isso retira algum brilho à retro-iluminação proporcionada pela lâmpada de halogéneo de 42 W.

 

O que a apaga mesmo é um tipo deparar-se, no meio do rol de características do despertador xpto, com uns tais de botões reto iluminados em âmbar: quando olhamos melhor para o preço promocional, só hoje, de €114,90 e nos lembramos de que estamos a falar de um despertador (aquelas cenas medonhas para acordarem um gajo demasiado cedo, estão a ver?) dá-nos vontade de enfiar aquilo Deus sabe onde e a quem e então ilumina-se o dia com um sorriso porque percebemos na hora a utilidade específica dos mesmos.

 

08
Mar12

A POSTA NAS FORÇAS DA NATUREZA (QUE NÃO É FEMININA POR MERO ACASO)

shark

Hoje é o Dia Internacional da Mulher.

E é também o dia em que chega à Terra o efeito da maior tempestade solar dos últimos cinco anos e cujo impacto se faz sentir ao nível da perturbação nas comunicações e na desorientação de sistemas habitualmente tão rigorosos como o GPS.

 

Se existisse um dia internacional da coerência era hoje também.

06
Mar12

A POSTA QUE O QUE FAZ FALTA É ACORDAR A MALTA

shark

Desabafava tempos atrás o Primeiro-Ministro no exílio, José Sócrates, que não há coisa pior para um político do que uma crise. Concordo.

Deve ser terrível para quem não tem ovos sequer para uma omoleta de promessas e se vê obrigado a substituir o sorriso polaroid por uma carranca mais consentânea com o figurino geral.

Isso preocupa-me enquanto cidadão dependente de uma política mais sorridente, claro.

Porém, embora admita essa ligeira consternação pelo drama humano de um político sem coelhos na cartola ou, no caso concreto, mesmo já sem cartola, tenho que puxar a brasa à minha sardinha de pelintra e aproveitar a engenharia do raciocínio acima:

Não há pior para um gajo teso do que a falta de dinheiro.

 

Isto dito assim parece bem menos profundo do que é. Mas mesmo as ideias de quem não completou a licenciatura mas assume isso com toda a frontalidade podem ter baixios.

O problema não é menor, se tivermos em conta as proporções entre a aflição do político obrigado a gerir uma crise e a de um gajo teso intimado a resolvê-la.

De resto essa diferença passa pela descontracção com que o actual PM assume a sua determinação em gozar as férias no Algarve como de costume, enquanto para a maioria dos tesos isso das férias é apenas mais um período no qual se torna demasiado óbvia a falta de liquidez.

 

Mas dizia eu que a falta de dinheiro atrapalha imenso o gajo teso. Isto acontece porque o sistema está pensado no sentido de punir quem se atrasa a cumprir, numa lógica perversa porque desenhada para enterrar ainda mais quem já nada em problemas. Ou seja, a pessoa tem falta de dinheiro e isso implica penalizações pecuniárias que a agravam.

É fácil de perceber como a coisa funciona numa dinâmica trituradora de efeito dominó que só abranda quando o gajo teso já nem mexe porque nada sobra para lhe confiscar, numa bola de neve que se torna imparável depois de somadas todas as alcavalas.

Este ciclo vicioso acaba por ilustrar aquele que os governantes sentem na pele de terceiros quando se vêem a braços com uma crise não propriamente sua, com as perdas e penalizações e juros a não permitirem a saída do vermelho porque, lá está, a lógica do sistema não engloba a abébia para os prevaricadores: se tem pouco e não chega, para castigo fica sem nada. Ou ainda pior, fica com menos qualquer coisa do que nada porque as dívidas são para honrar mesmo quando já não existam meios para o efeito e empréstimos são para quem deles não precise porque até consegue pagar a respectiva prestação.

 

Nestes becos com saída garantida do sistema a falta de dinheiro é mesmo do pior porque a quem menos tem é a quem a coisa mais faz doer, implacável na sua purga dos que não merecem pertencer ao mundo dos que valem apenas porque têm e os restantes constituem-se embaraços, maus exemplos como grãos numa engrenagem pensada para a prosperidade globalizada e incapaz de processar a situação inversa.

E enquanto aos políticos apanhados por uma crise é atribuído um rótulo de incapazes que os afasta do centro do poder político mas os aproxima do poder financeiro ávido de retribuir uma simpatia para encorajar outras, aos gajos tesos apanhados no mesmo contexto é exibido o chicote do flagelo social associado ao estatuto de caloteiro para os manter à distância de qualquer poder que não aquele que lhes permite votar nos que depois retribuirão o gesto, nunca se abstendo, uma vez esmifrados até ao tutano, de os votarem ao maior ostracismo que a democracia permita e a sociedade seja capaz de tolerar.

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