Falar da acumulação de uma reforma choruda com um salário milionário por parte de Eduardo Catroga poderia ser enquadrado, na sua perspectiva amoral, no debater daquilo que o próprio apelida de pintelhos.
Esta conclusão deriva do desplante com que o cromo veste a capa da legalidade para encobrir o manto de imoralidade subjacente a uma decisão sem respeito para com os melindres próprios de uma conjuntura aziaga ao ponto de enfatizar valores importantes mas ignorados no tempo das vacas falsas gordas.
E prova que nem sempre a lei joga certo com a moral que (também) lhe compete defender.
Relegando então a figura púbica acima referida para o domínio a que pertence, parece-me oportuno somar o desacerto das leis que protegem os medíocres ao desnorte dos legisladores que, em pleno crescendo de uma crise que ainda vai no adro, apontam os holofotes para o endurecimento das regras aplicáveis aos fumadores.
O tema é recorrente precisamente pela insistência dos paladinos numa cruzada que acabará por equiparar fumadores a consumidores de drogas duras na moldura penal, estando ainda por saber qual dos dois grupos marginais acabará por ser alvo da punição mais severa no futuro desenhado pelos proibicionistas bacocos.
A lei em vigor, porquanto polémica, acabou aceite e respeitada pela generalidade de uma população que parece capaz de aceitar tudo o que lhe é imposto sem qualquer tipo de contestação.
É no fundo apenas mais um sintoma que distingue a primavera de gente capaz de morrer nas ruas para reclamar democracia do outono de quem permite a perda da sua enquanto deixa apodrecer a consciência aos poucos na confortável apatia do sofá.
Enquanto o país definha à mercê de uma crise que deveria concentrar todo o esforço colectivo, os decisores investem o seu tempo e energia numa alteração legislativa cujo impacto económico é devastador para sectores já abalados pelo efeito da lei em vigor somado a outras medidas que já semearam inúmeras falências.
A boa intenção dos paladinos resume-se ao politicamente correcto da defesa da saúde pública, como se à progressiva marginalização dos fumadores não pudesse corresponder o mesmo efeito de outras proibições: empurrar os consumidores de tabaco, esses maus, para uma clandestinidade absurda.
Porém, nem é esse o fulcro da minha questão nesta prosa.
O que está em causa para mim, acima de tudo, é a passividade com que aceitamos todo o tipo de prejuízos, quer resultem da inépcia ou, no caso concreto, de uma espécie de excesso de zelo pervertido no timing e mesmo na motivação.
Apesar da injustiça implícita em impor aos empresários da restauração investimentos de monta para poderem albergar os mesmos fumadores que agora querem proibidos nos mesmos espaços e do visível exagero do que se prepara, os portugueses cruzam os braços, deixam andar, e até acredito que apesar do disparate óbvio a maioria irá acatar a coisa sem um balido e abster-se de fumar.
Eu vou votar contra.