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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

31
Ago11

A POSTA NOS FILHOS DA ESCUTA

shark

- Está lá?

- SIS SA, muito bom dia.

- Olhe eu era para saber porque é que ainda não foi entregue uma encomenda da minha empresa, uns dados sobre a concorrência e assim…

- Pode indicar-me quem é o seu contacto habitual aqui na SIS?

- É o 007. Mas ele acho que é da SEID Lda, não tenho bem a certeza…

- Ah, isso é tudo a mesma coisa. Aqui levamos a sério as sinergias de grupo.

- Pois, eu soube que a SEID já recolhe informações de jornalistas. São muito perigosos, não é? E a segurança do Estado é mais importante do que a divisão de tarefas, bem vistas as coisas.

- Claro. Mas olhe, já percebi o porquê do atraso na entrega. É que o 007 está off.

- Está off? Então mas ele não ia para a On? Desculpe lá, mas os vossos serviços andam numa rebaldaria!

- Pois, eu percebo o seu desagrado. Mas olhe, já temos em formação o 008 e estou certa de que num instante ele resolverá o pendente.

- Espero que sim, pois vai custar-me um dinheirão e muitos cordelinhos para mexer. Claro que parto do princípio de que não vão aumentar o custo do serviço…

- Pode ficar descansado, estimado cliente, temos uma tabela fixa para os salários e para as regalias sociais dos profissionais que enviamos para a iniciativa privada. Já agora, vai pagar a pronto, com desconto, ou prefere a 90 dias?

- Posso pagar no acto de entrega, não há problema.

- E tem cartão de militante? Dá um desconto de 50 por cento na próxima compra…

- Não tenho, não. Sabe, já ando cheio de cartões para tudo e mais alguma coisa…

- Pronto, nesse caso deve aguardar uns dias pelo contacto do 008. Eu sei que é desagradável a espera, mas o nosso grupo tem estado em renovação de quadros e isso provoca alguma perturbação, o excesso de ruído diminui imenso a nossa eficiência.

- Olhe lá, e não há mesmo hipótese de dar uma palavrinha ao 007? É que me disseram que ele é um funcionário muito capaz.

- É verdade, ele é capaz de tudo para servir bem. E serve-se à grande.

- Às tantas é por esses exageros que tem que ir à consulta parlamentar…

- Não, parece que o médico apontou para problemas na coluna mas entretanto a radiografia mostrou que ele não tem uma, pode ter sido um problema de comunicação. Aquilo deve ser falta de princípios nos meios ou assim. Mas o que interessa mesmo é alcançar os fins. É o nosso lema. E por isso já sabemos que a história do 007 vai ter um final feliz.

- Bom, já percebi que tenho que ter paciência e esperar pelo 008 para me fornecerem o que pedi. Mas olhe lá, o 008 é tão bom na coisa como o outro?

- Pode ficar descansado que neste grupo empresarial levamos muito a sério o recrutamento, não escapa nada à nossa secção de pessoal. Quer que enviemos a encomenda embrulhada para maior privacidade ou pode ir só na embalagem?

- Privacidade? Minha senhora, eu não tenho nada a esconder! Se toda a gente faz o mesmo à descarada… E agora até já sabemos todos que se alguém cometer inconfidências, esses malandros dos jornalistas e assim, vocês são optimus a resolverem esse tipo de problema…

28
Ago11

NÃO NOS CONTEM QUE É SEGREDO

shark

Se há coisa que me provoca calafrios é a existência de serviços secretos.

Por muito que faça todo o sentido a justificação oficial para a sua existência, a protecção contra os terroristas e outras ameaças desse calibre, a defesa do Estado contra os cidadãos maus deveria ser possível sem que para isso fossem criados grupos de pessoas que para saberem tudo precisam saber demais.

O poder confiado a esses grupos de pessoas é tremendo, na prática maior do que o dos próprios órgãos de soberania pois nem eles estão acima do raio de acção dos espiões cujo desempenho começa a ser pouco secreto no que respeita aos excessos que lhes denunciam uma rédea solta que jamais uma Democracia deveria tolerar.

 

Agora reparem: apenas por estar a escrever isto posso tornar-me num alvo desses serviços secretos que colocam telemóveis de jornalistas sob escuta só para tentarem caçar uma potencial toupeira nos seus túneis de informação.

É um facto, não é ficção. O optimismo não é a melhor resposta perante a possibilidade de os factos já vindos a público não serem excepções mas sim a regra de uma organização sem controlo efectivo por parte do seu criador, o que tantos os factos como a ficção demonstram ser o embrião de alguns dos piores monstros que o mundo conheceu.

Com aquilo que sabemos, sempre muito menos do que sabem alguns, já podemos concluir que tanto o processo de recrutamento como o de fiscalização desse poder perigoso são mancos e a própria Democracia pode ver-se coxa pelos danos sofridos, por exemplo, na liberdade de expressão.

 

Isto não é uma brincadeira de miúdos, é uma ameaça séria ao Regime. Muito mais séria do que a de Portugal ser alvo de atentados ou de um golpe de Estado que tanto do ponto de vista das probabilidades como da capacidade de resposta da Nação constituem medos inexpressivos quando, e é bom que o façamos, os comparamos com a entrega às cegas de poder quase ilimitado a fulanos capazes de o utilizarem em benefício próprio ou de instituições privadas cujos objectivos já se provam tortuosos na adopção destes esquemas que vêm a lume nas parangonas.

A ameaça de serviços secretos com rédea solta é invisível por inerência se os seus espiões não se revelarem tão trapalhões no encobrimento do seu rasto quando fazem das suas.

Ficamos, pois, à mercê do bom fundo desta malta ou apenas do nível das suas ambições pessoais.

É disso que se trata quando olhamos com atenção para estes sinais de balda onde ela nunca pode existir.

 

Já estamos a pagar a inépcia por parte daqueles a quem confiamos os poderes legítimos do Estado de Direito que escolhemos para nos organizar enquanto país.

Mas se olharmos para o que pode representar em matéria de custo a entrega de meios a organizações capazes, se extrapolarmos a partir do que já se sabe não podemos ignorar tal hipótese, de manipularem a legitimidade em prol de interesses nada públicos, a factura da nossa negligência pode levar-nos a hipotecar muito mais da qualidade de vida do que a falta de dinheiro nos possa acarretar.

25
Ago11

QUER MUDAR O DESTINO? FOQUE-O!

shark

Se a um grupo de pessoas oferecermos a oportunidade de espalharem a vista sobre um dado horizonte cada uma dessas pessoas escolherá um ponto de focagem diferente, uma abordagem dependente da soma das suas características de personalidade mais os factores tão aleatórios como o seu estado de espírito na ocasião.

Alguns irão optar por concentrarem o foco da sua atenção nas questões de pormenor, nas realidades mais próximas e por isso mesmo mais fáceis de observar em concreto, enquanto outras sentirão o apelo do abstracto que a distância induz por não ser possível avaliar com rigor aquilo que se vê sem a muleta de uma definição.

E ainda existem subgrupos, separados por um facto tão simples como o de uns quantos fixarem o olhar nas nuvens negras sobre a linha do horizonte e outros se deliciarem com o azul de um céu grandioso e cheio de sol.

 

A vida que levamos é em boa medida determinada por essas escolhas que fazemos dos pontos de focagem em que nos fixamos, influenciando de forma determinante as conclusões e por tabela as decisões que traçam aos poucos a rota para o caminho a percorrer.

Virar à esquerda porque se receia uma ameaça potencial que a outra opção implica, ainda que capaz de encurtar a distância entre um ponto A e um ponto B, ou acreditar que a ameaça não se concretizará e aceitar a estatística que os caprichos da sorte e do azar entenderem aplicar-nos como consequência do optimismo ou apenas da coragem para enfrentar desafios.

Vitórias e derrotas, ambições concretizadas ou desfeitas, apostas aparentemente seguras que se revelam desastradas ou golpes de sorte inesperados que acontecem pela conjugação perfeita de um lote de coincidências, são tudo reflexos da passada que impomos em função da vida como a vemos, mais do que como gostaríamos de vivê-la.

E entretanto é mesmo isso que está a acontecer, uma vida para ver como formos capazes por entre a distorção da miopia que nos provoca o dia a dia mais a influência dos outros que o caminho nos ofereceu.

 

Cada fracção do tempo, cada momento que experimentamos, será impossível de repetir porque o tempo só grava e não sabe reproduzir tal e qual aquilo que se viveu, da mesma forma que nos permite sonhar mil futuros possíveis mas poucas pistas nos fornece para os podermos concretizar.

Basta uma escolha na forma de olhar quando a oportunidade nos é concedida para a realidade se transmutar na percepção e influenciar a próxima decisão que pode muito bem ser a mais importante de todas ou revelar-se irrelevante quando o próprio tempo lhe cobre de pó os contornos e de novo a olhamos mas sob a luz que o tempo decorrido nos ofereceu.

 

O ponto de focagem determina o tipo de imagem que recolhemos, a fotografia que tiramos num dado instante dos muitos de que uma vida se faz. Abstracto ou concreto, o olhar baço perdido na aridez do deserto ou brilhante pela tentativa de no horizonte adivinhar o que está longe da vista e sentir a vontade irreprimível de ir lá.

Ou mesmo concentrado numa flor selvagem ali mesmo à mão que decidimos observar com mais atenção e assim acabamos por ficar, condicionados pela forma como vemos a vida e definimos os pontos de chegada ou de partida com que traçamos às cegas o destino tal e qual o futuro nos revelará no álbum dos instantâneos que agora experimentamos mas um dia olharemos estupefactos pela diferença entre a imagem recolhida na altura e aquela em que a focagem amadurecida nos revela detalhes que poderiam ter feito, bem vistas as coisas, toda a diferença para melhor naquilo que se fez. Ou antes pelo contrário, pois diz o povo que aquilo que não sabes é como aquilo que não vês.

 

24
Ago11

OS POBRES QUE PAGUEM A CRISE!

shark

Depois de vários milionários americanos e franceses se terem disponibilizado para, num gesto patriótico, contribuírem com um aumento voluntário de impostos para ajudarem a combater a crise nos seus países chegou a reacção dos seus homólogos portugas.

E ficámos todos a perceber a massa de que são feitos os nossos mais ricos.

 

Na ressaca do 25 de Abril o povo apontou o dedo acusador às famílias poderosas que dominavam o país com as suas fortunas, sem fazer a mínima ideia de que poucas décadas mais tarde seriam outros os protagonistas nas tabelas nacionais e internacionais e, por comparação, nem chegariam aos calcanhares dos Mello ou dos Champalimaud que foram empresários num tempo em que as empresas construíam creches e mesmo bairros inteiros para os seus trabalhadores. E nem assim escaparam ao rótulo odioso, à época, de fachos.

Os milionários portugueses mais mediáticos, pelas respostas hipócritas, quase insultuosas para quem vive em aflição, que deram a quem os questionou vestiram todos a pele de tios patinhas com quem a Nação em crise não pode contar.

Fulanos com as maiores fortunas do país e até das maiores do mundo não podem, sob pena de atraírem para si uma revolta ainda mais generalizada e hostil do que a sofrida pelos seus antecessores acima, afirmar de forma jocosa que não são ricos mas apenas meros assalariados. Ou pior ainda, tentarem lançar o descrédito sobre a iniciativa dos seus pares estrangeiros falando em serradura para os olhos quando deixam claro que à nossa vista nem as aparas de madeira chegarão.

 

Contudo, ainda mais odioso nas reacções já conhecidas (que mais valia nem haver alguma) está a chantagem implícita nessa tomada de posição, conhecido de ginjeira o camartelo da fuga de capitais para fora de Portugal através das várias portas que os magnatas portugueses já provaram saber abrir.

Nenhum Governo poderá arriscar agora uma legislação fiscal contrária aos interesses dos ricos que sabem meter o bedelho nos assuntos políticos do país quando lhes convém mas colocam o rabinho de fora quando a Pátria clama por menos palavras e mais pilim.

 

E num tempo de contar espingardas para dar a volta ao problema criado só temos o ganho de sabermos que com milionários deste calibre só podemos sair sempre a perder.

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