BODY BUILDING POR PARTES
Hoje é só para maiores de 18 (mas não pedem o Cartão de Cidadão à entrada).
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Hoje é só para maiores de 18 (mas não pedem o Cartão de Cidadão à entrada).
Foto: Shark
Aquela nuvem ao longe, tão escura mas tão distante que não intimidava quem queria usufruir dos dias com sol, avançou devagar no horizonte e começou a desenhar no céu a sua imagem sinistra de ampulheta invertida, o tempo esgotado no espaço cada vez mais ocupado pelo manto de breu que vinha pousado sobre os ombros do temporal.
Ao longe, tão escura mas ainda a uma distância segura que permitia ambicionar o desvio, para passar só de raspão, empurrada pelo Verão para as terras cinzentas de outros mais habituados a borrascas, a chuvadas sempre imprevistas para quem nunca usou um chapéu protector.
Aquela nuvem logo ali, olhos nos olhos, tão escura e cada vez menor a abertura disponível na janela azul reservada para o brilho do sol. O tempo encurtado grão a grão, entornado na ampulheta invertida que apesar de imaginada exprime o essencial da desconfortável sensação de estar tão próxima a perdição encharcada, a aflição por vezes chorada pelos que, já debaixo daquela nuvem, enfrentam a enxurrada porque o seu tempo ensolarado acabou.
Tão escura, tão perto, o último dique desabou à vista desarmada da multidão apanhada de surpresa pela violência da tormenta até que alguém mais atento comenta que ouviu dizer na televisão que vinha aí um furacão financeiro, um colossal aspirador de dinheiro que já havia atravessado outras regiões com a devastação dos seus raios e trovões mais a chuva muito intensa, a torrente tão imensa que pouco ou nada lhe resistia.
E agora chegara o dia em que aquela nuvem ao longe, tão escura mas tão distante na percepção distorcida, optimista, do horizonte enegrecido pelo temporal, havia avançado na direcção menos desejada.
A água já cobria a única estrada de acesso à salvação quando falaram na evacuação emergente, qualquer espécie de fuga em frente naquela batalha perdida contra forças poderosas de um mal que esmagava qualquer esforço individual pela sobrevivência e aos poucos tomaram todos consciência de que aquela nuvem tão escura abdicara de ser futura e cobria agora o presente com um desastre iminente e para muitos terminal.
Só aí a maioria se deu conta de como a sua negligência apática braços dados com uma esperança excessiva, patética, haviam resultado para as suas expectativas numa combinação fatal.
No teu abraço há cheiro, há cor, há uma onda de calor sem igual, um conforto especial que me envolve e me prende e muito me seduz. Ao teu abraço me entrego, tão feliz como um cego a quem oferecem a luz.
O Salvador Caetano não...
Diz o povo que o diabo pode estar por detrás da porta e essa possibilidade implica uma atitude mais prudente por parte de quem pretenda dificultar-lhe a vida quando queira dar cabo da nossa.
O Angélico, jovem com estatuto de figura pública e por isso mesmo com um futuro risonho no horizonte em termos de condições de vida para dela gozar, ignorou a estatística e arrastou consigo mais três para um acontecimento que já matou um e ficará com toda a certeza marcado no corpo e na mente dos que lhe sobreviverem.
De pouco servem os moralismos de pacotilha na sequencia deste tipo de circunstância, excepto se servirem o propósito de chamarem a atenção dos que ainda podem escolher entre facilitar a vida ao azar por lhe amplificarem as consequências.
É essa a única saída para algo de bom resultar de algo tão mau para quem se viu envolvido no pior momento do Angélico.
De acordo com os dados revelados pela Comunicação Social, o acidente de viação em causa terá resultado do rebentamento de um pneu. É um azar.
Contudo, igualmente têm vindo a lume as negligências e os excessos que aumentam sobremaneira as hipóteses de algo não correr apenas mal mas ainda pior.
A tragédia do Angélico resultou do azar e de uma conjugação dos tais factores que o potenciam e o amplificam: alguém entendeu confiar a um grupo de jovens um bólide com mais de 250 cavalos e nem se preocupou em acautelar a existência do seguro obrigatório; desse grupo de jovens apenas um, o que escapou incólume, teve o bom senso necessário para usar o cinto de segurança mais do que imprescindível num carro que atinge velocidades que em caso de simples travagem brusca transforma os passageiros em mísseis humanos; o excesso de velocidade, quase inevitável naquela conjugação malta nova/carro potente, fica confirmado pelo estado lastimável em que ficou a máquina.
Só ficou de fora, até ver, a eventual condução sob o efeito de substâncias que possam alterar a capacidade de reacção do condutor para estarem reunidas as condições para o azar ter vida fácil.
É essa a mensagem que vale a pena reter desta situação da qual já resultou um morto e dois feridos graves (a gravidade das lesóes sofridas pelo Angélico não permitem grande euforia quanto ao futuro). A legião de admiradores do Angélico deve concentrar-se mais no mau exemplo transmitido e que pode servir de alerta prévio para situações análogas e menos no azar que afinal tanto fizeram para atrair.
O Angélico, que tanto cuidou do corpo, deveria ter cuidado da cabeça também pois quando esta falha é sempre o outro que paga.
A gente aqui sossegadinhos à espera dos frutos do milagre económico que um novo Governo permite sonhar e às tantas por esta hora os gregos descompõem a cena no Parlamento deles e fazem-nos a folha por tabela...
Foto: Shark
Um dos sinais mais visíveis da entrada de Portugal na Europa dos ricos (os gregos devem fartar-se de rir desta) foi a súbita proliferação dos veículos comerciais ligeiros, os populares diesel com dois lugares que renovaram num ápice a frota de velhas carrinhas com bancos rebatidos nos dias úteis, com os putos a viajarem deitados nas caixas de carga dos carros de trabalho que também eram de passeio se a polícia não os topasse nessa ilegalidade óbvia.
Os comerciais ligeiros passaram a ser o símbolo do dinamismo da economia agora animada pela entrada de milhares de cidadãos no mundo dos negócios, no grande boom dos empresários em nome individual que podiam agora adquirir um veículo a gasóleo que dava um jeitão para ir à terra no fim-de-semana, beneficiando da poupança do Imposto Automóvel nos veículos de mercadorias e sem terem que optar por uma Ford Transit ou outro matatu(*) dessa dimensão.
As contas dessa altura eram feitas com base no pressuposto de que a prestação do Aluguer de Longa Duração (ALD) se pagava a si própria apenas com base na poupança resultante da diferença de preço entre combustíveis.
A malta fazia as contas aos quilómetros que percorria habitualmente, substituindo o preço do litro da gasolina pelo do diesel e depois somava-lhe a estimativa dos quilómetros necessários a mais, no âmbito do negócio em part-time e respectiva expansão, para a prestação mensal ficar coberta por inteiro nessas contas iluminadas pelo brilho no olhar de quem podia pela primeira vez sonhar com um carro novo, mesmo com uma rede separadora entre os lugares propriamente ditos e o tal espaço versátil misto passageiros/carga.
Este deslumbramento pelintra, cuja euforia levou muitos, burros (como este vosso amigo), a abandonarem bons empregos para embarcarem na aventura mercantil traduziu-se também no aparecimento dos centros comerciais que albergaram os sonhos dos lojistas maçaricos e acrescentaram à prestação do carro mais um ror de despesas fixas que a banca, sempre solícita nesse expediente, não tardaria a suportar em prestações suaves sob a forma de créditos pessoais “para obras em casa” que depressa começaram a apertar os calos empresariais e ainda nem tinha começado o descalabro financeiro que aterrou nos colos de uma multidão alimentada pela ilusão de uma vida melhor e depressa.
Comerciais muito ligeiros
Entretanto, os comerciais ligeiros envelheceram antes do final do contrato de ALD e parte dos lucros obtidos pelos comerciantes júnior seriam investidos na diferença entre um chasso desvalorizado à bruta pela própria lei da oferta e da procura e um carro novo a estrear com imensa cavalagem e prestação a condizer, mesmo com um generoso valor residual deixado para o fim que nunca acontecia.
O fim, mas o da ilusão, acabaria por chegar para muitos com o súbito desaparecimento dos bólides às mãos das empresas contratadas para os recuperarem depois de várias prestações baterem no poste.
E com a aflição da esmagadora maioria desses pequenos empresários em nome individual falidos começaram a diminuir de forma drástica as vendas dos diesel dois lugares enquanto aumentavam na proporção os trabalhadores precários, aqueles que aceitavam quaisquer condições para poderem pagar as dívidas às instituições financeiras e ainda conseguirem honrar compromissos como a renda da casa ou a escola dos filhos.
Antes da entrada na terra da fantasia milionária, quando a classe média se concentrava na procura dos melhores e mais estáveis empregos e depois acrescentava o tal part-time na economia paralela, a tal dos bancos rebatidos nas carrinhas, o lucro era limpo, livre de encargos, e a gestão familiar era feita com base na poupança desse dinheirinho a mais que dava para as férias e outros luxos menores.
Mas depois de reconvertidos à máquina montada para facilitar o endividamento, a certeza de um permanente florescimento da economia que toda a gente acreditou possível, os portugueses (como outros europeus) alteraram o paradigma e as contas passaram a ser feitas em função de estimativas de crescimento, as falsas expectativas que tornaram a poupança num desperdício de tempo para quem queria ter já a bochechos aquilo que poderia ter depois sem alcavalas e toda a gente em redor fomentava, o Estado também – por muito que não fosse esse o discurso institucional -, esses investimentos na qualidade de vida muito acima do que os rendimentos permitiriam, mesmo que jamais acontecesse uma crise que os pudesse comprometer.
Mas está a acontecer.
E mais uma vez a frota de veículos de mercadorias começou a ser renovada em consonância...
(*) Os matatus são carrinhas de nove lugares do tipo Toyota Hiace que prestam uma espécie de serviço alternativo de transporte público em vários países africanos.
Há quem louve a enorme nobreza na insistência de Passos Coelho em honrar o seu compromisso perante o Nobre das galinhas. Coerência, disse ele, avançando destemido com a primeira amostra da sua capacidade decisória em matéria de selecção de recursos humanos.
E o outro, coitado, pouco habituado a estas cenas pornográficas da política hardcore, lá se deixou embarcar no sonho do prémio de consolação para o anterior fracasso nas presidenciais.
Ia ser Presidente da Assembleia da República, até a vitória retumbante dos social-democratas parecia abrir-lhe as portas do cadeirão.
Tudo começou quando o Nobre percebeu que grão a grão enche a galinha o papo mas quando surgiu no horizonte a hipótese de a ave poedeira ser a dos ovos de ouro imaginou logo que conseguia encher um silo num instante e toca de dar um ar da sua graça junto de uma aposta que lhe pareceu segura.
Olá, estou aqui e subscrevo o conteúdo programático do Bloco de Esquerda ao ponto de, com enorme sacrifício pessoal (era semear para colher, pois não havia um cargo decente disponível na altura), me assumir mandatário (talvez porque soava parecido com a palavra mandar, algo a que se habituara no âmbito do seu percurso de dirigente humanitário).
E lá se pendurou no magnífico resultado eleitoral do BE para fazer as primeiras aparições no fascinante mundo da política partidária que, coerente, nunca deixaria de criticar enquanto pessoa fora do sistema.
Claro está que o passo seguinte era a eleição mais à mão e o bom do Nobre acreditou que a sua colagem a homem de esquerda bastaria para afiambrar os votos desorientados de quem não se revia na multidão de candidatos que começa a ser tradição entre os kamikaze presidenciais da esquerda espartilhada.
Porém, nem a ameaça de suicídio assistido (o número artístico do tiro na cabeça, um clássico do drama na política contemporânea) evitou a vitória do opositor, logo à primeira volta, e um lugar no pódio que terá sabido a pão que o diabo amassou no bico palerma de muitos, públicos e anónimos, que se deixaram arrastar pelo ímpeto expansionista do homem que se desmentiu sempre na qualidade de político embora na política pareça, de forma coerente, insistir em desmentir-se pela qualidade. Pela sua falta.
Mas o bom do Nobre, homem de grande fôlego, viu na vitória de Cavaco a janela de oportunidade adequada para o envio dos seguintes cupões. De resto, toda a gente percebeu o quanto a participação de Nobre nas presidenciais contribuiu para a eleição do homem de bolo-rei no bico e o Fernando, mais astuto do que o Pedro (o que não constitui proeza por aí além, mas enfim...), sabia que o desespero de causa alimentado pelas sondagens à tangente poderia ser determinante para que o líder laranja, à rasca, olhasse para ele, o Fernando Nobre da AMI, e visse algo que a mais ninguém lembraria: um coelho caído de bandeja na cartola para dar a volta aos números da angústia.
Um magnífico candidato do PSD para Presidente da Assembleia da República que quase partilhava, por ir lá muitas vezes, o estatuto de africano honorário reclamado pelo futuro Primeiro-Ministro, nem mais.
E lá voltou o Nobre à ribalta da cena política, essa coisa estranha de que nunca fez parte e por isso poderia mudar para melhor por dentro, como se habituara no seu percurso pela Cirurgia Geral.
Mas este desafio abraçado pelo doutor mais parecia uma autópsia, quando somados os votos da sua candidatura ficou claro que nem os do próprio partido que o recomendou conseguiu recolher por inteiro.
Não foi uma tenda de campanha, foi uma barracada das antigas que, queiramos ou não, retira um pedaço da mística ao líder laranja.
É um bocado como uma prova de ciclismo na qual o camisola amarela começa manco e arranca para a corrida na cauda do pelotão, mesmo a jeito para o carro vassoura que vai afastando para a berma (é fazer a conta a quantas vezes a camisola mudou de dono) aqueles que conseguem montar a bicicleta mas não logram disfarçar o seu ritmo irregular e com pouca pedalada.
Se repararem na coluna da direita deste blogue encontram um grupo de linques para blogues de uma rede em que o Charquinho passou a estar integrado. Por norma somos encaminhados para espaços à maneira e para postas porreiras.
Tentem confirmar estes pressupostos quando vos der para aí. E se não gostarem digam que a gerência tira.
O utente tem sempre razão.
58 seguidores
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.