A tristeza, sorrateira, invade a alma como uma cegueira que lhe crava as mãos no rosto e lhe desvia o olhar para tudo o que possa aumentar-lhe a influência e desorientar-nos a passada num mundo da escuridão.
A tristeza, matreira, tolda-nos a visão uma vida inteira se lhe concedermos uma hipótese de manipular a realidade, omitindo a verdade paralela a qualquer momento menos bom e que não passa apenas por ter podido ser pior.
Ela esconde tudo, até o amor, que possa desviar a nossa atenção da sua prioridade que afinal é a própria existência, ameaçada pelo conforto que nos traz o discernimento quando pousamos o olhar nas contrapartidas que a vida sempre nos dá.
As cores alegres quando olhamos para lá, para o lado oposto ao que a tristeza nos impinge, tão reais como o cinzento que finge ocupar a totalidade do horizonte quando o céu azul impõe a sua vontade algures com a ajuda iluminada do sol.
A tristeza, certeira, sabe aproveitar à sua maneira cada percalço, cada agrura, cada curva descendente da conjuntura para instalar a sua cortina de ferro diante do olhar que funciona como uma janela aberta na cela mais escura de uma prisão e a liberdade impõe-se, a de ser feliz, e essa vontade de escolher contradiz a triste apatia que se instala quando a própria esperança sucumbe à mercê do pessimismo oportunista que se traveste realista para a lógica lhe dar uma mão e recomendar a solidão como panaceia que não passa de outro fio numa teia de cumplicidades emocionais entre a tristeza e seus iguais na cruzada interior pela vitória final sobre os sorrisos e sua influência nefasta no desfecho de uma história que às emoções negativas não convém, pela mesma lógica que as fundamenta, possa acabar bem.
A tristeza, foleira, é uma velha carpideira que pinta tudo em seu redor com os tons de uma viuvez encenada de cada vez que precisa disfarçada a culpa que nunca assumirá.
Mas essa, embora igualmente solteira, jamais morrerá.