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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

02
Fev11

A MORTE ANUNCIADA DA GALINHA DOS OVOS DE PETRÓLEO

shark

Aos poucos, o exemplo tunisino alastra pelos países árabes nos quais a democracia é palavra vã e a coragem do desespero arrasta multidões para as ruas, para o risco de vida que exemplos recentes confirmam enquanto ameaça para quem arrisca reclamar algo a que nós, instalados na ocidental modorra burguesa, desprezamos com atitudes displicentes como a da abstenção eleitoral e a do total afastamento da componente de cidadania que é a participação directa nos mecanismos que um sistema democrático coloca à disposição de quem o queira construir ou, e bem precisa, no mínimo proteger.

 

Mas se a incógnita relativamente ao desfecho das lutas dos povos sublevados acaba por assentar acima de tudo na preocupação com o oportunismo fundamentalista relativamente aos vazios de poder naquela zona do globo, talvez o cerne da questão acabe por surgir à tona como uma consequência natural das conclusões e das ambições dos países que logrem regimes livres e democráticos quando assentar o pó deste frenesim revolucionário.

 

Da resposta dada pelo resto do mundo a essa questão fulcral, o insustentável desequilíbrio entre hemisférios que faz parte do mesmo rasto de desolação deixado pelos antigos impérios coloniais e alimenta sentimentos de revolta que só podem degenerar em terreno fértil para os radicais e para o subsequente engrossar das fileiras fundamentalistas, dependerá em muito o rumo dos acontecimentos num futuro que está a desenhar-se neste preciso instante da História no Egipto, na Tunísia, no Iémen, na Síria, no Sudão e até na Jordânia, sendo de prever que se espalhe por todo o Médio Oriente mas também pelo Magrebe de onde partem as falanges famintas dos deserdados para as suas tentativas dramáticas de fuga para o falso eldorado europeu.

 

Se o Ocidente não for capaz de revelar um empenho verdadeiramente altruísta em lugar do furor interesseiro (que a experiência no Iraque ilustra) quando chegar a hora de apoiar as democracias nascidas deste turbilhão, talvez fique hipotecada a esperança de uma vida melhor que impeça as populações de quererem fugir das suas nações miseráveis em detrimento da revolta e da luta generalizada pelo tal equilíbrio que falta.

 

A força exibida nas ruas pelos povos em luta deixa bem claro que se tiverem que combater pelas razões que lhes assistem a coragem não faltará.

01
Fev11

A POSTA ACREDITADA

shark

Há uma data de coisas em que eu gostava de acreditar, a sério.

Gostava de acreditar em Deus, logo à partida, porque a partir dessa crença ia abrir-se um vasto conjunto de outras coisas em que eu iria poder acreditar, como os milagres (o Euromilhões, esse milagre tão divinal…) e quase todas as hipotéticas realidades no domínio do sobrenatural.

Também gostava de acreditar em extraterrestres, não propriamente bactérias venusianas mas criaturas em condições, inteligentes e de preferência sem dedo leve no gatilho dos seus pistolões de raios xpto que transformam de repente uma pessoa em pó das estrelas e depois só daí a uns milhões de anos é que voltamos a reencarnar.

Nisso eu também gostava de acreditar, desde que me garantissem que não reencarnava num cacto ou num daqueles escaravelhos que passam a vida a fazer bolinhas de trampa e a rolá-las para todo o lado apenas porque a natureza assim o ditou e isso é quase o mesmo que dizer porque sim.

 

Acreditar na robustez do sistema democrático para enfrentar tantas e tão poderosas ameaças que o tempo e a fraqueza humana conceberam também me dava jeito. O medo de que a História se repita é fácil de acreditar e uma pessoa nem consegue imaginar o resultado de um colapso da democracia à mercê de tanta convulsão potencial mais as que já sentimos na pele depois de desencantados com a ausência de líderes fortes e carismáticos, se possível um nadinha consensuais.

Também gostava de acreditar nos outros, quase tanto como gostaria que acreditassem em mim. A capacidade de ultrapassar a desconfiança deveria ser um equipamento de série nosso neste tempo em que as pequenas traições se multiplicam a um ponto em que as pessoas já não enfiam facas nas costas umas das outras mas apenas canivetes, imensos, dos pequenos. E eu também não gostava de reencarnar num porco-espinho, tenho que admitir.

 

Contudo, no meio desta minha luta interior pela busca de explicações tão simples como a do sentido da vida, esta mistela entre o raciocínio precariamente optimista e a experiência de vida em muitos aspectos surrealista não produz um resultado coerente com a vontade intrínseca da descoberta de qualquer tipo de fé. Pode até confundir a pessoa ao longo do caminho, ao ponto de acreditarmos em coisas que muitos afirmam impossíveis.

 

Eu até calhou acreditar no amor e sempre que afirmo isso perante alguém obtenho em troca duas gargalhadas, a de quem me ouve e a do meu demónio interno de plantão.

É certo que são gargalhadas tímidas, amarelas, nervosas.

Mas o que conta é a intenção.

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