A MORTE ANUNCIADA DA GALINHA DOS OVOS DE PETRÓLEO
Aos poucos, o exemplo tunisino alastra pelos países árabes nos quais a democracia é palavra vã e a coragem do desespero arrasta multidões para as ruas, para o risco de vida que exemplos recentes confirmam enquanto ameaça para quem arrisca reclamar algo a que nós, instalados na ocidental modorra burguesa, desprezamos com atitudes displicentes como a da abstenção eleitoral e a do total afastamento da componente de cidadania que é a participação directa nos mecanismos que um sistema democrático coloca à disposição de quem o queira construir ou, e bem precisa, no mínimo proteger.
Mas se a incógnita relativamente ao desfecho das lutas dos povos sublevados acaba por assentar acima de tudo na preocupação com o oportunismo fundamentalista relativamente aos vazios de poder naquela zona do globo, talvez o cerne da questão acabe por surgir à tona como uma consequência natural das conclusões e das ambições dos países que logrem regimes livres e democráticos quando assentar o pó deste frenesim revolucionário.
Da resposta dada pelo resto do mundo a essa questão fulcral, o insustentável desequilíbrio entre hemisférios que faz parte do mesmo rasto de desolação deixado pelos antigos impérios coloniais e alimenta sentimentos de revolta que só podem degenerar em terreno fértil para os radicais e para o subsequente engrossar das fileiras fundamentalistas, dependerá em muito o rumo dos acontecimentos num futuro que está a desenhar-se neste preciso instante da História no Egipto, na Tunísia, no Iémen, na Síria, no Sudão e até na Jordânia, sendo de prever que se espalhe por todo o Médio Oriente mas também pelo Magrebe de onde partem as falanges famintas dos deserdados para as suas tentativas dramáticas de fuga para o falso eldorado europeu.
Se o Ocidente não for capaz de revelar um empenho verdadeiramente altruísta em lugar do furor interesseiro (que a experiência no Iraque ilustra) quando chegar a hora de apoiar as democracias nascidas deste turbilhão, talvez fique hipotecada a esperança de uma vida melhor que impeça as populações de quererem fugir das suas nações miseráveis em detrimento da revolta e da luta generalizada pelo tal equilíbrio que falta.
A força exibida nas ruas pelos povos em luta deixa bem claro que se tiverem que combater pelas razões que lhes assistem a coragem não faltará.