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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

28
Fev11

A POSTA DE SEGUNDA

shark

Há fases na vida, para muito boa gente pode ser uma vida inteira, em que uma pessoa sente uma necessidade compulsiva de desligar o sistema, de poupar o cérebro ao bombardeio de informação e à sobrecarga da tensão que o quotidiano nos impõe.

São períodos ao longo dos quais evitamos pensar demais, recolhidos no santuário da apatia voluntária que nos protege de uma espécie de meltdown que pode acontecer sob a forma de um esgotamento nervoso ou cerebral.

 

A pessoa parece estupidificar nesses lapsos de tempo que a mente processa a conta-gotas, confinada à gestão dos serviços mínimos obrigatórios para se manter a coisa (um gajo) funcional.

Contudo, podem ser fases agradáveis de viver. Horas desperdiçadas numa postura de contemplação bovina, sem no entanto ruminar pensamentos profundos, aflorando à superfície temas tão inócuos quanto possível. Este culto do trivial, nenhum risco corrido, assume o controlo da definição das prioridades e deixamos o pensamento deslizar sem pressas sobre um lago tão pacato que conseguimos ver nele reflectido a quase absoluta ausência de reflexões.

 

Claro que isto não é vida para ninguém e cedo ou tarde o crânio parece agitar-se com a vibração no seu interior, com o cérebro a vapor substituído pela versão diesel para ganhar embalagem até ao combustível para foguetão, espaço fora até tão próximo do Big Bang que quase se consegue cheirar a fragrância divina dos sovacos desodorizados do Criador.

 

É aí que um gajo se senta diante do teclado e escreve uma posta. 

26
Fev11

EMBAIXADORES DA CORAGEM E DA VERDADE

shark

Apesar do bloqueio às comunicações por parte do governo líbio continuam a chegar informações dispersas que permitem desenhar-lhe os contornos do fim próximo, garantidamente violento e, ao que já se sabe, de forma alguma imerecido.

 

Se até aqui alguma prudência seria justificada pela ausência de jornalistas na Líbia e consequente dificuldade em confirmar o cariz fidedigno das fontes, nomeadamente no que concerne à validade dos vídeos que nos vão chegando, a reacção de muitos embaixadores e o uníssono na sua justificação acaba com os paninhos quentes: Khadaffi ensandeceu, é um tirano sanguinário e terá já garantido um lugar na História deste século com estatuto semelhante ao de outros malditos que jamais deveriam chegar perto de qualquer tipo de poder.

 

A propalada contratação de mercenários para defenderem o regime, a traição imperdoável de chamar estrangeiros para o massacre do seu próprio povo, eliminou quaisquer veleidades de uma solução pacífica e consensual para a revolução líbia.

E é o elemento que faltava para não existirem dúvidas quanto à realidade dos factos orquestrada pelo regime em queda: está a acontecer um banho de sangue e o povo sublevado está, por ora, isolado na sua luta necessariamente feroz neste contexto.

 

Mais uma vez, a contenção imposta pelos maus precedentes, pelos interesses económicos, pelo receio do efeito dominó (que já é inegável por esta altura) e pela complicada teia de compromissos políticos e diplomáticos naquela região acabam por deixar tanto os países ocidentais como os vizinhos árabes sem capacidade de intervenção directa em mais um triste exemplo de como as populações ficam à mercê do destino quando um poder instalado se revela cruel na defesa da respectiva manutenção.

 

Mais uma vez, a democracia surge no horizonte como única opção viável apenas depois de explodirem no rosto dos que não a exigem ou defendem as terríveis consequências da sua falta.

25
Fev11

A POSTA QUE EU TAMBÉM NÃO VI, SÓ CHEGUEI AGORA

shark

Logo ao início da tarde, um taxista e um motoqueiro com os caminhos cruzados num ponto infeliz de intersecção. A mota espalhada no chão e o respectivo proprietário também.

A multidão reunida em minutos, batalhões de mirones aquartelados por toda a parte que reagem com enorme prontidão quando chamados a observar, sempre à posteriori (porque quando se pedem testemunhas ninguém viu nada e acabou mesmo de chegar), o rescaldo da ocorrência.

 

O rapaz, que levou uma pancada no lado esquerdo e foi acabar tombado contra uma carrinha (mal) estacionada no lado direito, completamente desorientado pela surpresa e indignado com a falta de respeito pela todo-poderosa regra da prioridade esbracejava e até parecia ter-se safado bem, podia ter sido bem pior – como afirmava alguém de entre os observadores estrategicamente colocados para trocarem umas impressões -, ia constatando as mazelas à medida em que arrefeciam corpo e ânimo mas, filho do bairro, quando a família chegou, mulher e filhos, e o mais velho, dez anitos ou por aí, começa a chorar por ver o pai naqueles propósitos e o motoqueiro vai-se abaixo com o susto e o mimo.

 

Chega a ambulância, mais os amigos e vizinhos que levam a cabo um inquérito preliminar e bom senso o do fogareiro que em momento algum contesta ou levanta a voz.

De braço ao peito e expressão visivelmente alterada pela dor lá segue caminho para o hospital e fica alguém de confiança a certificar-se de que foi chamada a polícia, como recomendam os mirones mais calejados naquelas andanças, para poder prestar declarações.

Chega a polícia, já passa das cinco. O taxista, colete amarelo como manda a lei, conta a sua versão. O condutor da carrinha exibe documentos e prepara-se para contribuir para as receitas eventuais enquanto um dos agentes da autoridade procede às medições para o auto que as seguradoras irão solicitar para o apuramento de responsabilidades.

Os mirones não desmobilizam, revezam-se.

 

A tarde perdida no meio de um cruzamento, dezenas de pessoas envolvidas na situação, a culpa foi deste, a culpa foi daquele, imbecilidades a jorro de quem percebe de tudo e mais alguma coisa porque só assim pode dar o ar.

A mota levada por um familiar.

O táxi, poucos danos visíveis, a seguir caminho para mais uma bandeirada.

 

Dois amigos, anciãos, o tempo todo na troca de palpites, os carros mal estacionados e o gajo que é culpado porque apanhou o rapaz pela traseira e esta malta anda na estrada sem cuidado nenhum, logo um profissional, devia ter vergonha, e entretanto já mais ninguém no local e o assunto esgotado e um sorriso sacaninha no rosto de um dos dois quando decide romper um breve silêncio.

 

- Atão e o teu Sporting?

- Vai à merda, pá…

24
Fev11

A POSTA POR SISTEMA

shark

Sobretudo no mundo do futebol, mas um pouco por todas as actividades, assentou arrais uma expressão daquelas que o povo usa para sintetizar um problema crónico, para encontrar uma explicação simples em versão bode expiatório para tudo o que corre menos bem ou simplesmente não avança.

Essa expressão é o sistema, um conceito cuja interpretação depende sobremaneira da posição relativa da pessoa quanto ao sistema em análise.

 

De facto padece de análise, esta manifestação de impotência colectiva perante uma forma de poder traduzida, grosso modo, num conglomerado de interesses que começa por ser um feudo específico em determinado sector e que funciona como um vírus capaz de converter, por exemplo, uma articulação numa pedra. A partir daí a coisa alastra até todo o corpo (neste caso uma organização ou mesmo várias) até à paralisia quase total. Ou seja, a coisa até funciona mas apenas em função dos interesses que o tal sistema alegadamente servirá e ao ritmo lento que melhor se adequa à respectiva manutenção.

 

O sistema surge assim como um papão que espalha uma doença terrível que impede o correcto desempenho de um qualquer mecanismo criado para fazer acontecer algo que até acaba por acontecer mas em moldes que escapam ao controlo da população em geral e mesmo dos poderes que são sempre suspeitos de cumplicidade com qualquer sistema.

Na verdade, a imagem colectiva desse conceito sinistro associa sempre rumores ou mesmo suspeitas que nunca se traduzem em algo de concreto mas cria uma mística de invencibilidade em torno desse monstro que desvirtua as boas intenções de qualquer conjunto de regras ou de pessoas manipulando os cordelinhos de paus mandados nos bastidores dessa casa dos horrores que ninguém sabe bem onde (e como) fica mas toda a gente já ouviu falar.

 

A conjugação da impunidade presumida dos componentes de um sistema, por norma poderosos e muito hábeis na defesa daquele todo que deixa ver apenas contornos desfocados por detrás de um véu imaginário, com a passividade tradicional perante estas coisas (compadrios, cunhas, desenrasques, alianças por conveniência ou em torno de um elo de ligação natural como o vínculo familiar ou de simples vizinhança), tudo isto cria uma aura artificial de indestrutibilidade que acaba por constituir ela própria um dos principais argumentos para o perdurar do tal sistema que parece existir fora do nosso, o Solar, tamanha a (aparente) dificuldade em lhe identificar as características, localizar o pouso e cortar o mal pela raiz de forma... sistemática.

 

Não faltam alegadas vítimas dos vários sistemas que responsabilizamos, não podendo ser o Sócrates, enquanto culpados do costume quando as coisas parecem emperrar logo que caem sob a alçada do sistema, esse malandro anónimo que arrasa todas as ameaças potenciais à sua existência que se presume eterna até prova em contrário e essa nunca aparece inequívoca o bastante para prenderem os (alegados) maus e entregarem de novo o circuito e a cadeia de interesses às pessoas de bem. Mas essas escasseiam, tal como eventuais paladinos, cavaleiros da lei e da ordem capazes de enfrentarem o dragão (mesmo que tenha a cara chapada do Pinto da Costa ou de qualquer outro suspeito de arquitectar um sistema à medida das suas necessidades ou dos seus mais próximos) com a audácia e a descontracção de quem abraçou como causa o seu martírio.

 

Concluo esta breve incursão pela mitologia urbana adiantando que esta posta se deve em boa medida à influência perniciosa daquilo que a motivou.

Mas é possível vencê-lo (o bicho mau): Bastou dar-me para trabalhar um nadinha e o meu sistema (o informático) de imediato crashou...

23
Fev11

A POSTA PSIQUIÁTRICA DE PACOTILHA

shark

Uma das características mais fascinantes da blogosfera é a sua capacidade inata para acolher malucos. De resto, a nossa comunidade é tão boa anfitriã para pessoas com determinados desequilíbrios mentais e/ou emocionais que lhes permite assumirem na boa a sua condição e abdicarem da medicação sem darem nas vistas no meio de tantos dos seus iguais.

Claro que nenhuma dessas pessoas aceita o estatuto de mais ou menos chanfrado/a e nesse caso eu afirmo já aqui que é mentira tudo o que acabo de afirmar.

(É que sempre ouvi dizer que não se pode contrariá-los/as...)

 

Das maleitas observáveis à vista desarmada que mais me prendem a atenção, o desdobramento de personalidades está sempre na liderança.

Admiro a energia dos muitos comentadores anónimos que conseguem dar vida a três, por vezes mais, nicks ao ponto de manterem animados diálogos entre si (entre os vários nicks da mesma pessoa), tanto quanto lhes invejo a concentração.

A minha única incursão pelo admirável mundo novo das mascarilhas virtuais, um nick que ninguém associava ao Shark, foi um fracasso absoluto na medida em que pouco tempo depois de começar a utilizar essa identidade secreta já quase toda a gente em meu redor tinha sabido por trocas de email comigo quem na realidade sou. Apenas um. E já me dá água pela barba geri-lo.

 

As múltiplas personalidades que aterram numa caixa de comentários às ordens alternadas do respectivo autor que se acredita uns dois ou três transmitem um colorido muito especial a qualquer diálogo, até porque existe sempre um nick mais colérico que se esforça por partir a louça toda e, regra geral, acaba por ser quase sempre o que descobre a careca dos seus alter egos no meio do fervor alucinado das suas mais acesas intervenções.

Claro que uma pessoa deixa de achar piada quando no meio do calor do debate as personalidettes (por norma mais discretas e com um discurso mais moderado, apenas para manifestarem solidariedade e simularem pequenas multidões) começam a cantar mais alto do que o/a artista principal e triplicam o problema em que se tornam (estou a ser um gajo porreiro, insistindo neste plural) quando perdem as estribeiras e não existem aquelas pessoas vestidas de branco que no mundo analógico resolvem esse tipo de situação.

 

Que não se deduza que esta posta visa antagonizar tais pessoas mais as suas diferenças, até porque sei bem o quanto constituem em muitos casos a verdadeira alma de um blogue, nem que seja por nos darem a conhecer o lado pior do respectivo autor quando este se passa e decide acabar com a neura que algumas manifestações desta liberdade para enlouquecer suscitam.

São pessoas interventivas, multiplicam-se pelas caixas como coelhos pois bastam duas em simultâneo para podermos ter logo cinco ou seis comentadores/as em alegre cavaqueira ou na animada versão peixeira que ninguém pode negar no seu estatuto de agitadoras das águas virtuais.

São por isso importantes em termos estatísticos, em termos de motivação acrescida e, naturalmente, enquanto figuras castiças desta nossa realidade alternativa que até nisso de ser casa onde há sempre pão para malucos está cada vez mais parecida com a propriamente dita.

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