Há fases na vida, para muito boa gente pode ser uma vida inteira, em que uma pessoa sente uma necessidade compulsiva de desligar o sistema, de poupar o cérebro ao bombardeio de informação e à sobrecarga da tensão que o quotidiano nos impõe.
São períodos ao longo dos quais evitamos pensar demais, recolhidos no santuário da apatia voluntária que nos protege de uma espécie de meltdown que pode acontecer sob a forma de um esgotamento nervoso ou cerebral.
A pessoa parece estupidificar nesses lapsos de tempo que a mente processa a conta-gotas, confinada à gestão dos serviços mínimos obrigatórios para se manter a coisa (um gajo) funcional.
Contudo, podem ser fases agradáveis de viver. Horas desperdiçadas numa postura de contemplação bovina, sem no entanto ruminar pensamentos profundos, aflorando à superfície temas tão inócuos quanto possível. Este culto do trivial, nenhum risco corrido, assume o controlo da definição das prioridades e deixamos o pensamento deslizar sem pressas sobre um lago tão pacato que conseguimos ver nele reflectido a quase absoluta ausência de reflexões.
Claro que isto não é vida para ninguém e cedo ou tarde o crânio parece agitar-se com a vibração no seu interior, com o cérebro a vapor substituído pela versão diesel para ganhar embalagem até ao combustível para foguetão, espaço fora até tão próximo do Big Bang que quase se consegue cheirar a fragrância divina dos sovacos desodorizados do Criador.
É aí que um gajo se senta diante do teclado e escreve uma posta.