Então vá, vamos lá dissecar a coisa que a mim faz imensa confusão. Sim, sou alérgico à moderação (de comentários nos blogues) e não consigo encaixar o conceito em nenhuma versão aceitável de blogue como os entendo.
Ora se a memória não me falha existem as seguintes opções: a) caixa de comentários aberta e sem filtros, aceitando tudo e deixando ficar tudo o que a malta lá põe; b) caixa de comentários aberta e sem filtros automáticos mas com o/a responsável munido/a da tesoura imaginária para eliminar tudo aquilo que lhe pareça desadequado; c) caixa de comentários aberta apenas a determinado grupo de pessoas; d) caixa de comentários moderada, na qual o comentário só aparece publicado depois de passar pelo crivo do censor; e e) nenhuma caixa de comentários, fim de discussão.
Se me escapa alguma, paciência. É sobre estas que o meu esforço mental assentará.
Começo pelas opções b) e c) porque sou eu quem manda e mesmo a ordem natural do Universo nunca foi a menina dos olhos das ciências exactas.
Ter uma caixa de comentários aberta implica que tudo quanto comentem aparece, nem que por dois segundos, visível a quem por lá passar. Ou seja, arriscamos a ver do que não gostamos publicado num espaço pelo qual teremos sempre que responder. E aqui entra o caminho em thin ice, pois o critério é subjectivo e aquilo que eu possa considerar inapropriado pode fazer coceguinhas ao dono do blogue do lado.
Ainda assim, por muito que louve a estaleca de quem aceita tudo o que lhe deixam, parece-me razoável que a pessoa que investe de si e que arrisca por si mesma desagradar a alguém ou mesmo a dizer o que não devia possa decidir se assume esse risco por outras pessoas, pois legalmente é sempre o dono do espaço que responde pelas respectivas repercussões.
É essa a minha escolha, boa ou má, porque é a que veste melhor a minha forma de ser e de estar, corto tudo quanto seja insulto, publicidade encapotada ou calúnia sem fundamento nas minhas caixas.
A hipótese c) nada me afronta, excepto no facto de uma pessoa se sentir como o menino que fica de fora da brincadeira e ter que aprender a viver com isso na boa.
Na opção a), muito liberal, encontro os perigos inerentes à confiança desmedida na tolerância e no bom senso dos outros. Algo de que nunca seria capaz. Não confio sequer na minha...
Depois temos a opção e) – sem caixa – e para mim essa não oferece polémica: blogue sem caixa não é um blogue, é outra coisa qualquer. Um blogue não se compadece da comunicação unilateral e o facto de se disponibilizar um email não atenua essa realidade dos factos. É uma opção que respeito, como me compete, mas que é quase um sinal de proibido parar ou estacionar para a minha deambulação blogueira.
E finalmente temos a opção d), a tal que cada pessoa justifica à sua maneira mas acabamos sempre por ir parar à mesma explicação básica: só aparece o que o dono deixa e aí podemos perfeitamente partir do princípio de que só aparece o que lhe agrada de alguma forma ou não afecta qualquer dos seus interesses.
É uma escolha legítima se considerarmos a questão da propriedade e da responsabilidade associada, mas um nadinha cobarde porque poupa a pessoa a ter que mostrar o que vale quando confrontada com melindres ou com verdades (ou pessoas) incómodas (e ninguém tente dar-me lições nesse particular). Ou seja, tresanda a lápis azul e isso é logo susceptível de despoletar uma reacção alérgica a quem entende blogues como manifestações superiores da liberdade de expressão. Se a caixa é moderada, essa liberdade fica confinada ao espaço onde se posta e o resto é uma espécie de Guantanamo virtual onde se enclausuram (ou se riscam do mapa) as palavras proscritas, terroristas, que podem abalar o status quo do autor ou autora.
A moderação elimina em boa medida um direito essencial que é o de resposta, para além de ser um instrumento muito útil a quem queira pintar-se sem arriscar os borrões vindos do exterior.
Claro que cada pessoa cuidará de dourar a sua pílula por forma a ilibar a sua opção de quaisquer suspeitas, de a adornar com as coisas horríveis que alguém comentou no passado, ou uma insistência irritante e anónima por parte de quem não tem (ou não sabe) mais o que fazer.
E ainda mais claro: cada um/a sabe de si e nos blogues manda quem os faz (de borla). Aí pouco mais há a acrescentar, o argumento pode quer e manda.
Contudo, a liberdade de opinar tem este condão de abrir de par em par as janelas da crítica (que pode ser tida ou não por construtiva) e só dela usufrui quem a usa.
Depois, claro, quem enfia a carapuça pode aproveitar a caixa aberta dos outros para dizer o que não permitiria que outros dissessem na sua.
Mas se alguém arrisca na porta sem fechadura é porque abdica do poder de filtrar as reacções e opiniões alheias.
A moeda de troca é o direito de postar sem reservas (excepto as que o bom senso recomenda) e com a autoridade moral acrescida para jamais permitir que, pelo menos nesse plano, tentem moderar a sua.